O Grafite no contexto da Arte Contemporânea

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O Grafite no contexto da Arte Contemporânea

O processo histórico de expansão da Arte Contemporânea, uma Arte tipicamente conceitual, acontece em harmonia com a Body Art, a Land-Art, a Performance, dentre outros movimentos artísticos. O Grafite surge neste mesmo contexto, inicialmente, como uma proposta conceitual de ampliação do suporte para a Obra de Arte. E como característica da Arte contemporânea também vem como uma crítica aos meios convencionais de circulação do objeto de Arte. Sua origem como um movimento intencional das Artes Plásticas, de intervenção no espaço urbano de forma crítica, surge na cidade de Nova York, na década de 1970.

No Brasil ele caminhou de mãos dadas com o movimento da Street Dance e da cultura Hip Hop. Confundido inicialmente como a ‘pichação’, foi pouco a pouco conquistando espaço e o seu reconhecimento no Sistema da Arte. Alex Vallauri é reconhecido como o primeiro Grafiteiro do Brasil, quase que unanimemente. Em São Paulo, seu trabalho expandiu o conceito de ‘Arte para todos’ utilizando também camisetas, bottons, adesivos, etc., além dos muros urbanos. Com uma coletânea de registros fotográficos dessas e de outras intervenções, teve sua obra selecionada para a Bienal Internacional de São Paulo, em 1977.  

O Grafite é dividido basicamente em duas técnicas processuais: a Spray Art e a Stencil Art. A primeira mais casual com a utilização dos sprays em frases, nos elementos simbólicos, nos grafismos gestuais e espontâneos. O outro, a Stencil Art, utiliza-se de moldes e máscaras, o stencil, em projetos mais elaborados e com a utilização da aerografia, que funciona a partir de um compressor de ar e uma pistola de pintura. A técnica do Grafite se expandiu e é utilizada em inúmeros objetos e de forma decorativa, ou publicitária, também.

No Brasil o Grafite já revelou inúmeros artistas com trânsito internacional e um reconhecimento expressivo de sua Arte. Nomes como Eduardo Kobra, Binho Ribeiro, os Gêmeos – Gustavo e Otávio Pandolfo, Zezão, Mag Magrela, etc., são apenas alguns que podemos citar, cuja expressão na Arte do Grafite virou uma Marca. Os Gêmeos, por exemplo, têm sua obra espalhada pelo mundo. Com intervenções em diversos materiais e temas variados. Existe um memorial, considerado como o maior Grafite do mundo, figurando no Guinnes World Records, com 15m de altura por 170m de comprimento, idealizado para as olimpíadas Rio 2016, executado por Eduardo Kobra. 

O Grafite também entrou no circuito das grandes Mostras, Bienais e Feiras de Arte internacionais. Uma proposta de Arte que surgiu com um aspecto de crítica social, de resistência a um Sistema considerado ‘segregacionista’, e que foi absorvida por ele também. A obra de Banksy, por exemplo, chega a ter proteção de placas de vidro blindado em alguns espaços público do Reino Unido. O fato é que o Grafite deixa um espectro de possibilidades muito mais amplo que apenas a sua expressão estética. É uma Arte intervencionista, polêmica, democrática no acesso e com potencial de sustentabilidade como técnica para fins publicitários e decorativos, também.

Por ser esse espaço democrático de acesso, o Grafite abriu frentes para a presença feminina na sua expressão. Na Bahia temos várias mulheres envolvidas com atividades e intervenções da grafitagem e grandes Artistas figurando no cenário nacional e internacional. Alguns coletivos se organizam para realizar suas intervenções e a presença do Grafite interfere no cenário urbano de maneira muito positiva. No bairro de Castelo Branco, em Salvador, na Rua Genaro de Carvalho, há o que podemos caracterizar como uma ‘galeria a céu aberto’. Onde inúmeros grafiteiros e grafiteiras de Salvador, encontraram no muro de uma antiga fábrica, um suporte expressivo para sua Arte.

Mais uma vez cabe aqui a nossa reflexão sobre os desdobramentos que o nosso ‘Estado de Arte’ tem a oferecer à sociedade baiana. Quando se faz um passeio por grandes capitais, brasileiras e no exterior, é possível contemplar o quanto as intervenções do Grafite se relacionam com o projeto urbanístico e cultural destes grandes centros. Existem inúmeras maneiras de promover a inclusão do Grafite no cenário urbano, no processo de geração de renda, na inclusão no mercado de trabalho, no Sistema de Arte, no Turismo cultural, etc. São questões que precisam ser discutidas e entrar na pauta de planejamento pelos agentes de Arte, pela sociedade em geral e pelos representantes da administração pública. 
 

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