Cacai e Luiza Bauer

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É importante que entremos em um processo de desconstrução em relação a visão que a maioria de nós têm sobre como é a vida dos PCD’s no amor, seus namoros, construções familiares e afins. Ainda são recorrentes questionamentos do tipo “será que essas pessoas atípicas namoram?”, “será que elas pretendem casar um dia?”, “será que elas beijam na boca?”, e sim, pessoas com deficiência namoram, amam, beijam na boca e apresentam desejos amorosos ou até mesmo sexuais por outras pessoas. A questão é que, ainda é um tabu para a sociedade a vida amorosa dos deficientes, para muitos essas pessoas não pensam nisso ou não tem condições (devido a questões extirpadas por elas mesmo) para terem um relacionamento ou administrarem um relacionamento, mas a realidade não é essa.

 Ante o exposto, minha irmã, por exemplo, já namorou algumas vezes e já gostou de alguns meninos durante sua adolescência e fase adulta. Várias vezes já chegamos a conversar sobre o assunto e eu a aconselhei sobre meninos no qual ela teve uma paixãozinha. No colégio, Cacai sempre teve seus crushs (nomenclatura atual referida a interesse por alguém) como qualquer outra menina da idade dela, além dos crushs platônicos em artistas de séries e filmes, um caso engraçado e curioso é que ela sempre se interessa pelos “vilões” da história (Severo Snape em Harry Potter e Guerren Paz em Escola de Heróis são dois exemplos), eu a perguntei o motivo do gosto peculiar e ela simplesmente me respondeu “eles são mais bonitos e atraentes, são fortes e têm cara de mau, por isso eu fico apaixonada”, me acabei de rir com o comentário por sinal. Cacai durante seus 25 anos teve dois namoros sérios e o seu último namoro durou um pouco menos de tempo do que o penúltimo, este mesmo relacionamento chegou a ter uma atenção maior durante o programa “Sabadão com Celso Portiolli” (2017), a relação virou pauta, foram gravadas cenas super românticas dos dois na Barra, aqui em Salvador e o público adorou, as pessoas comentaram bastante depois do programa, o namoro foi televisionado com bastante naturalidade, inocência e amor. Ou seja, é importante que haja exposição dessas uniões para que a sociedade passe a enxergar isso com normalidade, porque é normal.

Alguns pais chegam a buscar pretendentes para seus filhos, apresentam para ver se as duas pessoas se gostam mas não interferem na decisão de nenhuma das partes, o que eu acredito ser o certo a se fazer, as coisas precisam acontecer de forma espontânea tanto para iniciar quanto para terminar. Minha irmã inclusive, terminou o seus dois relacionamentos por conta própria por motivos pessoais seus, um dia qualquer ela chegou para nossa mãe e falou “eu quero terminar, estou decidida mãe”, minha mãe sem questionar muito, ajudou Cacai a resolver a situação das duas vezes. Hoje em dia ela não namora mas diz estar procurando pelo próximo amor, antes que isso aconteça ela continua com seus crushs esporádicos.

 Não é só de namoro que podemos falar, mas constituir uma família também é algo a ser pensado por deficientes, ter filhos inclusive. Vale ressaltar que, ter filhos é ainda mais tabu do que qualquer outra coisa que já foi mencionada nesse artigo, já que, achar que deficientes não podem ou não devem ter filhos é um pensamento bastante construído ainda. De fato, a gestação de uma mulher com deficiência geralmente designa de mais atenção dependendo da deficiência que ela tenha. Mas isso não muda absolutamente nada no conceito de maternidade, mãe é mãe independente de qualquer coisa, ambas amam, cuidam, protegem e educam. Podemos falar inclusive sobre a questão do direito natural ou jusnaturalismo que é referido a qualquer pessoa, direito este que pode ser definido por um conjunto de normas e direitos que já nascem incorporados ao ser humano, como o direito à vida e o direito de gerar uma vida. Perguntei a Cacai sobre o que ela achava a respeito do assunto e ela me respondeu sem nem pensar muito “todos nós podemos ter filhos mas eu não quero um tão cedo, filho dá muito trabalho, Deus é mais”, de fato eu caí na risada com a resposta tão rápida e sincera mas vale lembrar que estamos falando de questões biológicas ou sociais em relação ao poder de gerar e criar filhos e não que todos os deficientes pensem em ter um a qualquer momento, é o mesmo caso de pessoas típicas, a escolha é sua. 

Desta forma, é importante que passemos a construir uma nova imagem e um novo pensamento em relação ao que foi dito durante todo este artigo, pessoas com deficiência podem e devem viver a vida desfrutando de todos os prazeres como qualquer outro, quanto mais nos desconstruímos de tabus declarados aos deficientes mais nos aproximamos deles, inclusão também é isso.

 


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