&ldquo;N&atilde;o sei quando a frase &ldquo;Pensar fora da caixa&rdquo; ficou t&atilde;o popular. De um dia para o outro, tornou-se &ldquo;pecado&rdquo; pensar de maneira l&oacute;gica, dedutiva e convencional. Foi como se essas virtudes fossem descartadas e todos tivessem de ser heterodoxos ou ser considerados dinossauros. (...) nessa ilus&atilde;o, a cren&ccedil;a de que racioc&iacute;nio e criatividade induzidos poderiam substituir &ndash; em vez de complementar &ndash; os fundamentos e a l&oacute;gica&rdquo; Garry Kasparov &ndash; Campe&atilde;o mundial de Xadrez consecutivo de 1985 a 2001, &ldquo;Xeque-Mate &ndash; A vida &eacute; um jogo de xadrez&rdquo;, 2007. Nascido no Azerbaij&atilde;o, autoexilado nos EUA. &Eacute; voz opositora &agrave; Autocracia Russa. 

Falar mal de Donald Trump &eacute; mais f&aacute;cil do que piscar os olhos. E h&aacute; um motivo forte para isso. Seu narcisismo exuberante &eacute; digno de mitologia fara&ocirc;nica. Impressiona achar-se semideus em pleno s&eacute;culo XXI, mas as pessoas s&atilde;o o que s&atilde;o, e l&aacute; est&aacute; ele, ocupando o cargo mais poderoso do planeta, portanto, de maior visibilidade na face da Terra. Ele se acha o melhor em tudo e ponto final. N&atilde;o h&aacute;, nem com fatos, nem com provas, como contrari&aacute;-lo nesse autoengano soberbo. N&atilde;o &eacute; novidade na hist&oacute;ria humana esse tipo de personagem. Existem milhares perambulando e governando por ali, acol&aacute; e por aqui. Mas n&atilde;o &eacute; isso o que torna f&aacute;cil falar mal do 47.&ordm; presidente dos EUA. A facilidade &eacute; porque ele governa uma democracia. H&aacute; livre imprensa e liberdade de express&atilde;o.

Quem ousa falar mal, contestar ou confrontar Xi Jinping, desaparece. Quem critica, insulta ou acusa Putin, morre. E assim por diante. Autocracias. Por isso, falar mal de Trump &eacute; f&aacute;cil. Seguro. Constitucional. Garantido.

&nbsp;

<img alt="" src="/fotos/farol_colunas/863/mg/cnxi.jpg" style="width: 1024px; height: 768px;" />Foto: &ldquo;Liberdade de Express&atilde;o&rdquo; &ndash; Largo Da Ordem, Curitiba.&nbsp;Cr&eacute;dito: Matheus Oliva.

O Cisne Vermelho &eacute; disruptivo. Exerce o poder que lhe foi conferido pela democracia de forma absolutamente fora de qualquer padr&atilde;o burocr&aacute;tico. Joga um jogo arriscado. Escala uma guerra comercial como um jogador compulsivo, dobra a aposta e, com isso, revela o que muitos preferiram ignorar: a ambi&ccedil;&atilde;o geopol&iacute;tica da China. Uma pot&ecirc;ncia que finge pacifismo comercial enquanto constr&oacute;i um poder militar dominante. Os EUA dormiram no ponto, embriagados por consumo. A Europa, pior, hibernando num ber&ccedil;o imperial espl&ecirc;ndido, financiado por s&eacute;culos de explora&ccedil;&atilde;o do que chamavam antes de Novo Mundo, depois rebatizaram de Terceiro Mundo e hoje s&atilde;o emergentes submersos.

Se Trump tem uma virtude como governante, essa &eacute; a franqueza. Transpar&ecirc;ncia sem filtro. O povo &mdash; de qualquer pa&iacute;s &mdash; pode at&eacute; n&atilde;o ser letrado, mas sabe, em minutos, quando est&aacute; sendo enganado. Sobretudo em democracias, onde a cada quatro anos h&aacute; elei&ccedil;&otilde;es. Trump e seu governo j&aacute; prestaram mais contas, deram mais entrevistas e se submeteram a mais perguntas inc&ocirc;modas do que muitos presidentes anteriores em dois mandatos inteiros. Sem pompa, sem ret&oacute;rica. A imprensa entra no Sal&atilde;o Oval, pergunta, ele responde. Olho no olho.

Da&iacute; a surpresa. Da&iacute; o Cisne Vermelho. Um evento inesperado, negado pela soberba da burocracia de gabinete. Uma burocracia que sonha com utopias inalcan&ccedil;&aacute;veis, que avan&ccedil;ou sobre a rep&uacute;blica como met&aacute;stase, destruindo o m&eacute;rito, podando o livre arb&iacute;trio, arbitrando justi&ccedil;a social.

Nas tarifas, o Cisne Vermelho vira o mundo do avesso. Economistas te&oacute;ricos se perdem nos modelos. Trump escoiceia como um potro selvagem no picadeiro, n&atilde;o aceita ser montado. Arrisca tudo. A China tem brio, dinheiro, dilig&ecirc;ncia, tecnologia, infraestrutura, filosofia, experi&ecirc;ncia. Um ex&eacute;rcito de predicados. Batalhar contra ela n&atilde;o &eacute; trivial. E, mesmo assim, Trump encara. Em resposta, a China acusa os EUA de bullying e exige desculpas. O conflito desce do tabuleiro estrat&eacute;gico para o campo mais humano de todos: a moral. E Xi Jinping que domina com m&atilde;o de ferro um pa&iacute;s t&atilde;o exuberante e gigantesco, quanto fr&aacute;gil, n&atilde;o pode jogar outra carta sen&atilde;o a do enfrentamento. N&atilde;o pode piscar, n&atilde;o pode pedir tempo, nem jogar em modo caf&eacute; com leite. Um sinal de fraqueza, em uma autocracia, &eacute; mortal. 

&Eacute; muito f&aacute;cil criticar Trump. Dif&iacute;cil &eacute; ouvir uma cr&iacute;tica contundente a Xi Jinping. A chapa Trump-J.D. Vance venceu com os votos do americano rural, simples, oper&aacute;rio, que clamava por uma mudan&ccedil;a de vida. Gente sufocada por uma burocracia social-democrata que se esbalda em discursos de igualdade financiados com dinheiro alheio.

Na China, por outro lado, reina a propaganda. Xangai brilha, os portos impressionam, a tecnologia assombra. Mas o povo do interior n&atilde;o tem voz. N&atilde;o h&aacute; vice-presidente. S&oacute; h&aacute; o Partido Comunista Chin&ecirc;s. Quem desafia, some. A China n&atilde;o tem artista, nem jornalista, com liberdade para criar. Tem t&eacute;cnica, engenharia, obedi&ecirc;ncia. Alguns atribuem isso ao confucionismo ou ao budismo. Nunca &agrave; foice e ao martelo do comunismo. O mesmo comunismo que implodiu a URSS, a Europa Oriental e que j&aacute; trincou a China por dentro. Todos esquecem da Pra&ccedil;a da Paz Celestial.

Nada &eacute; perfeito. Mas posar de corajoso em uma democracia, com liberdade de express&atilde;o garantida, &eacute; t&atilde;o soberbo quanto o pr&oacute;prio Cisne Vermelho. Ignorar as atrocidades das autocracias e ainda enaltec&ecirc;-las &eacute; covardia, cinismo ou desfa&ccedil;atez &mdash; ou tudo junto.

A China impressiona os ocidentais com sua elite rica, litor&acirc;nea e urbana. Mas poucos se incomodam em olhar para os grot&otilde;es do interior, para o povo miser&aacute;vel das montanhas, dos desertos, dos campos. S&atilde;o dezenas de milh&otilde;es em semiescravid&atilde;o. A conta n&atilde;o fecha. 

O mundo est&aacute; aquecendo, inclusive os &acirc;nimos. Mas o Sol &mdash; que insiste todo dia em iluminar a Terra &mdash; &eacute; muito mais quente. E, &eacute; b&iacute;blico, debaixo do Sol n&atilde;o nada novo.

&ldquo;Um grande homem de Estado n&atilde;o diz a si mesmo: &#39;Este povo &eacute; d&eacute;bil; suas institui&ccedil;&otilde;es o paralisam.&#39; Ele diz: &#39;Esse pa&iacute;s cochila; Eu o despertarei. As institui&ccedil;&otilde;es s&atilde;o como os homens as fazem; se necess&aacute;rio, eu as transformarei.&#39;&rdquo; 
(Andr&eacute; Maurois, pseud&ocirc;nimo de &Eacute;mile Salomon Wilhelm Herzog, da Academia Francesa, 1966 -&nbsp;Arte de Viver &ndash; ou A Pequena Filosofia da Vida. Tradu&ccedil;&atilde;o de Odilo Costa Filho e &Aacute;lvaro Costa)

Se h&aacute; um &oacute;timo exemplo que serve de demonstra&ccedil;&atilde;o de como o protecionismo tarif&aacute;rio &eacute; prejudicial a uma sociedade, este exemplo &eacute; o Brasil. Um pa&iacute;s fechado, caro e burocr&aacute;tico. Recursos naturais em abund&acirc;ncia, mas um fracasso miser&aacute;vel na transforma&ccedil;&atilde;o industrial, na infraestrutura, nos servi&ccedil;os, na inova&ccedil;&atilde;o e, sobretudo, em usar a economia como vetor de progresso social.

Os Estados Unidos sempre foram o exemplo oposto: a terra do com&eacute;rcio, da iniciativa privada, da competi&ccedil;&atilde;o, da liberdade. Uma na&ccedil;&atilde;o pr&oacute;spera que tentou, ap&oacute;s vencer a II Guerra Mundial, moldar o mundo &agrave; sua maneira. O resultado? D&eacute;ficit crescente, infraestrutura decadente, popula&ccedil;&atilde;o desamparada. Surge o Cisne Vermelho: ex-dono de cassino, ex-falido, ex-preso, que sobreviveu a tiro na campanha e a colapsos de mercado com a mesma express&atilde;o de quem vai jogar golfe. Outros tempos. Donald Trump, no comando do jogo, aperta o bot&atilde;o de pausa.

Certo ou errado &mdash; ou ambos &mdash;, ele est&aacute; fazendo tudo o que disse que faria. E isso, por si s&oacute;, j&aacute; &eacute; disruptivo. O surpreendente n&atilde;o &eacute; que ele esteja cumprindo promessas. A surpresa &eacute; que essa seja a surpresa. Cham&aacute;-lo de protecionista, populista ou herege econ&ocirc;mico n&atilde;o muda o fato: a pol&iacute;tica tarif&aacute;ria virou sua forma preferida de fazer guerra sem disparar uma bala. As que disparou foram para proteger o com&eacute;rcio no Mar Vermelho dos terroristas Houthis, que bombardearam quase duzentos navios da frota mercante americana, enquanto a China fingia que n&atilde;o via.

Trump parou a m&aacute;quina b&eacute;lica e declarou guerra ao com&eacute;rcio &mdash; com tarifas. E &eacute; a&iacute; que o Cisne Vermelho aparece.

A doutrina &eacute; simples: se voc&ecirc; tem d&eacute;ficit comercial com outro pa&iacute;s, est&aacute; sendo explorado. Logo, a solu&ccedil;&atilde;o &eacute; cobrar caro para vender nos EUA. &Eacute; o tal do &ldquo;Make America Great Again&rdquo; traduzido para o linguajar dos n&uacute;meros. Cria&ccedil;&atilde;o de um economista de manual de autoajuda, Peter Navarro, hoje ventr&iacute;loquo oficial do gabinete. Trump, mezzo impulsivo, mezzo arrogante &mdash; e sempre os dois &mdash;, sempre advogou essa ideia com fervor. E est&aacute; executando com a frieza de um apostador profissional.

<img alt="" src="/fotos/farol_colunas/860/mg/Coluna - Matheus Oliva.jpg" style="width: 650px; height: 317px;" /> 
Foto: Barreiras ao com&eacute;rcio (Vista do Porto de Salvador). Cr&eacute;dito: Matheus Oliva

Ningu&eacute;m deu muita aten&ccedil;&atilde;o &agrave; uma das suas primeiras medidas: revogou a FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), abrindo caminho para &ldquo;negociar &agrave; sua maneira&rdquo;. Nomeou Steven Witkoff, parceiro de neg&oacute;cios bilion&aacute;rios imobili&aacute;rios em Nova York, para negociar com o exterior e liberou geral: pode corromper, pode intermediar, pode fazer do jeito que quiser &mdash; contanto que &ldquo;funcione&rdquo;. Novas regras para um jogo j&aacute; era jogado pela concorr&ecirc;ncia. Para quem v&ecirc; o mundo como cassino, a &eacute;tica &eacute; a regra da mesa: muda conforme o crupi&ecirc;. (Nota: A FCPA impedia que empresas americanas pagassem propina no exterior para fechar contratos, estabelecendo penas severas para corrup&ccedil;&atilde;o internacional. Sua revoga&ccedil;&atilde;o abre um perigoso precedente.)

O Cisne Vermelho ao voar sobre Dubai, Hanoi, Kuala Lumpur, Nova Delhi e Xangai, v&ecirc; um mundo, com arranha c&eacute;us reluzentes, enriquecendo &agrave;s custas da Am&eacute;rica. Acha que os EUA est&aacute; sendo usado. E quer vingan&ccedil;a &mdash; comercial, fiscal, simb&oacute;lica. Acha que pode reequilibrar o or&ccedil;amento federal como quem ajusta o balan&ccedil;o de um resort falido: corta onde der, sobe o pre&ccedil;o da entrada, demite os gar&ccedil;ons e briga com os fornecedores.&nbsp;

Trump &eacute; o improv&aacute;vel que deu certo. Ou que deu errado com sucesso. E por isso precisa ser compreendido. Claro, no longo prazo, protecionismo &eacute; veneno. O Brasil &eacute; a prova viva disso. O Brexit tamb&eacute;m. Mas o que Trump prop&otilde;e n&atilde;o &eacute; isolamento puro &mdash; &eacute; um reset. Uma revis&atilde;o das regras, das prioridades, das depend&ecirc;ncias. Se as cadeias de suprimentos aguentarem o tranco, o mercado se ajusta. E pode at&eacute; melhorar.&nbsp;

Enquanto isso, a imprensa &mdash; em especial a americana &mdash; trope&ccedil;a nos pr&oacute;prios vieses. Bloomberg, CNN e boa parte da intelligentsia liberal fazem oposi&ccedil;&atilde;o aberta, mas muitas vezes m&iacute;ope. N&atilde;o entendem, ou n&atilde;o querem entender, que o que est&aacute; em jogo &eacute; mais do que com&eacute;rcio. &Eacute; geopol&iacute;tica, &eacute; narrativa, &eacute; poder bruto.

A guerra agora &eacute; travada com metais raros, semicondutores e vulnerabilidades log&iacute;sticas. Em abril de 2025, enquanto o mundo se escandalizava com as tarifas em retalia&ccedil;&atilde;o, a China puxava o freio da cadeia global de suprimentos. Calmamente, e sem declarar guerra, colocou sob licenciamento cinco minerais essenciais: dispr&oacute;sio, t&eacute;rbio, tungst&ecirc;nio, &iacute;ndio e &iacute;ttrio. Minerais sem os quais carros el&eacute;tricos n&atilde;o funcionam, jatos militares n&atilde;o decolam, e turbinas e&oacute;licas viram esculturas caras e in&uacute;teis. Um ataque cir&uacute;rgico, silencioso e altamente eficaz. Metais raros simplesmente n&atilde;o existem em quantidade suficiente para sustentar o modo de viver atual da humanidade. Fato.&nbsp;

O Ocidente dormiu por d&eacute;cadas enquanto a China consolidava esse monop&oacute;lio. Hoje, os EUA dependem de 90% da produ&ccedil;&atilde;o chinesa desses elementos. E Trump, ao atacar a China com tarifas, levou Pequim a revidar justamente onde mais machuca: os materiais que sustentam a transi&ccedil;&atilde;o energ&eacute;tica e o poder militar americano.

Mas a China tamb&eacute;m tem seu calcanhar de Aquiles: a estabilidade interna. N&atilde;o h&aacute; democracia, n&atilde;o h&aacute; contrapesos institucionais, n&atilde;o h&aacute; base social para lidar com protestos em massa. Se uma fagulha de clamor por liberdade se acender &mdash; seja pelo custo de vida, pela censura ou pelo desemprego &mdash;, o edif&iacute;cio pol&iacute;tico do Partido Comunista pode rachar.

Trump sabe disso. Seu ataque &agrave; China n&atilde;o &eacute; apenas econ&ocirc;mico: &eacute; simb&oacute;lico. Ele pressiona uma sociedade rigidamente controlada, for&ccedil;ando-a a tomar decis&otilde;es arriscadas e impopulares. A China revida com min&eacute;rios. Mas, se a popula&ccedil;&atilde;o chinesa come&ccedil;ar a se perguntar por que n&atilde;o pode protestar, consumir ou decidir, nem todos os minerais raros do mundo manter&atilde;o a ordem social.

Assim caminha a humanidade. E assim caminha o Cisne Vermelho &mdash; um animal raro, imprevis&iacute;vel, barulhento, que ningu&eacute;m queria ver chegando. Mas chegou.&nbsp;

&ldquo;&Oacute; poder! &Oacute; grandeza! Milh&otilde;es de olhos falsos em ti se fixam! Grandes ma&ccedil;os de not&iacute;cias circulam, tendenciosas, sobre tuas a&ccedil;&otilde;es. Cabe&ccedil;as loucas sem conta te atribuem os pr&oacute;prios sonhos ociosos, e com suas fantasias te colocam no potro.&rdquo;&nbsp; 
(Personagem Vic&ecirc;ncio [V.i.] em &lsquo;Medida por Medida&rsquo;, por volta de 1604, em &ldquo;Shakespeare: a Inven&ccedil;ao do Humano&rdquo; de Harold Bloom, 1998, tradu&ccedil;&atilde;o de Jos&eacute; Roberto O&rsquo;Shea)

O contr&aacute;rio de autocracia n&atilde;o &eacute; democracia. &Eacute; anarquia. Entre os polos opostos an&aacute;rquicos e autocr&aacute;ticos, resiste a democracia, em diversos tons, pincelados com a tinta hist&oacute;rica de cada na&ccedil;&atilde;o que a adota como sistema de governan&ccedil;a social. &Eacute; nesta confus&atilde;o de conceitos que a oposi&ccedil;&atilde;o ao &iacute;mpeto autorit&aacute;rio &ndash; n&atilde;o autocr&aacute;tico &ndash; de Donald Trump se perde. A social-democracia da esquerda americana, derrotada nas urnas e inepta na gest&atilde;o do er&aacute;rio, virou especialista em desperd&iacute;cio e ret&oacute;rica. Ensaia, em seu teatro de horrores, uma pe&ccedil;a de cunho an&aacute;rquico no pa&iacute;s de popula&ccedil;&atilde;o mais livre do mundo, em termos demogr&aacute;ficos absolutos. N&atilde;o preserva a democracia &ndash; mina seus alicerces. O que antes era oposi&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica tornou-se sabotagem institucional. O que era disputa de ideias transformou-se em guerra contra os pr&oacute;prios fundamentos da Rep&uacute;blica.

Hoje, nos EUA, a mesma elite que se apresentava como guardi&atilde; dos oprimidos recorre &agrave; viol&ecirc;ncia em f&uacute;ria tir&acirc;nica. A destrui&ccedil;&atilde;o sistem&aacute;tica de mais de duzentas concession&aacute;rias da Tesla (antes a queridinha dos que hoje a destroem) &eacute; um caso de desordem dif&iacute;cil de compreender, completamente desproporcional em rela&ccedil;&atilde;o de causa e efeito. Comparar Elon Musk a Hitler &eacute; prova irrefut&aacute;vel do colapso educacional. Um insulto &agrave; mem&oacute;ria hist&oacute;rica e &agrave; intelig&ecirc;ncia humana. Sob o pretexto de combater o capitalismo para a preservar democracia, o movimento que depreda lojas, queima carros e amea&ccedil;a a liberdade empresarial revela sua verdadeira face: a de uma social-democracia que abandonou a raz&atilde;o e flerta abertamente com a anarquia. N&atilde;o protestam &ndash; depredam. O discurso libertador &eacute; apenas verniz para o instinto destrutivo.

&nbsp;

<img alt="" src="/fotos/farol_colunas/856/mg/image-20250401132821-1..jpg" style="width: 650px; height: 429px;" /> 
Foto: &ldquo;Querem que o mar pegue fogo, para comerem peixe frito.&rdquo; 
(Cr&eacute;dito: Matheus Oliva)

Trump, ao cham&aacute;-los de lun&aacute;ticos, acerta na mosca. O adjetivo descreve com precis&atilde;o o desvario moral e pol&iacute;tico de uma esquerda que perdeu o ju&iacute;zo e o norte. Os correligion&aacute;rios democratas est&atilde;o no limbo da aprova&ccedil;&atilde;o popular porque j&aacute; n&atilde;o representam ningu&eacute;m al&eacute;m de seus pr&oacute;prios espelhos. Abandono das cidades, colapso das escolas, desvaloriza&ccedil;&atilde;o do m&eacute;rito e a substitui&ccedil;&atilde;o da compet&ecirc;ncia por ideologias de gabinete. Na Calif&oacute;rnia, o laborat&oacute;rio dessa decad&ecirc;ncia, o governador Gavin Newsom &ndash; herdeiro pol&iacute;tico de uma social-democracia hollywoodiana &ndash; transformou o pr&oacute;spero estado em um campo de calamidade. A promessa do trem-bala de meros 700 km, jamais se realizou. Quinze anos se passaram. A China construiu mais de 30.000 km de trens ultramodernos nesse mesmo per&iacute;odo. A Calif&oacute;rnia, com discursos sobre justi&ccedil;a social e sustentabilidade, n&atilde;o entregou sequer o projeto original &ndash; e ainda estourou o or&ccedil;amento em dezenas de bilh&otilde;es de d&oacute;lares. Um fiasco monumental.

Enquanto isso, a equipe de Trump &ndash; inexperiente, amadora, mas voluntariosa &ndash; protagoniza discuss&otilde;es geopol&iacute;ticas em chats de rede social, numa mistura de sinceric&iacute;dio com arrojo juvenil. Mesmo ca&oacute;tica e vexat&oacute;ria, sua franqueza exp&otilde;e a hipocrisia das formalidades sem coragem dos burocratas da social-democracia que de seus gabinetes apenas assistem o mundo pegar fogo e derreter o gelo no polo norte.

A verdade &eacute; que a social-democracia, tanto nos EUA quanto na Europa, virou sin&ocirc;nimo de fracasso. Prometeu equil&iacute;brio. Entregou desequil&iacute;brio, permissividade e mediocridade. Em nome dos direitos, esqueceu-se dos deveres. Em nome da inclus&atilde;o, destruiu o m&eacute;rito. Em nome da igualdade, promoveu a mediocridade. Em nome da compaix&atilde;o, legalizou a permissividade.&nbsp;

O Cisne Vermelho nada contra essa corrente de arrog&acirc;ncia an&aacute;rquica. Sua lideran&ccedil;a, por vezes desastrada e muitas vezes arrogante, tem ao menos um norte: restaurar os fundamentos. Defender fronteiras, proteger o m&eacute;rito, estimular o trabalho, resgatar a transpar&ecirc;ncia das a&ccedil;&otilde;es governamentais como valor p&uacute;blico. Isso incomoda porque exige da sociedade algo que ela j&aacute; n&atilde;o sabe como oferecer: maturidade.

Resta, assim, uma conclus&atilde;o inc&ocirc;moda e inevit&aacute;vel: a social-democracia n&atilde;o quer justi&ccedil;a; quer controle. &Eacute; &aacute;vida por tributar numa sanha que se assemelha mais a uma extors&atilde;o do que a uma pol&iacute;tica p&uacute;blica racional. Esmaga o produtor para manter uma burocracia paquid&eacute;rmica, incompetente e iludida. Penaliza o esfor&ccedil;o, recompensa o vitimismo. E dessa equa&ccedil;&atilde;o perversa nasce a verdadeira anarquia: a infantiliza&ccedil;&atilde;o de uma sociedade que j&aacute; n&atilde;o sabe crescer. Enquanto, no &Aacute;rtico, as Autocracias j&aacute; navegam em teatro de guerra h&aacute; bastante tempo. O Cisne Vermelho n&atilde;o aparenta ter um plano &ndash; ao menos tem um &iacute;mpeto e grasna para todos acordarem.

O Cisne Vermelho n&atilde;o inventou essa crise. Apenas teve o tino de um l&iacute;der &aacute;vido por poder ao capt&aacute;-la e enfrent&aacute;-la. Seu sucesso vem da percep&ccedil;&atilde;o aguda de que os EUA vivem uma era de profunda debilidade moral. Uma sociedade amparada exclusivamente em direitos, avessa a obriga&ccedil;&otilde;es, alimentada por uma vis&atilde;o distorcida da realidade, n&atilde;o pode prosperar. A ret&oacute;rica progressista fala em empatia, mas cultiva o ressentimento. Fala em justi&ccedil;a social, mas odeia a responsabilidade individual. Pura arrog&acirc;ncia. Uma era em que todos se julgam no direito de impor suas vontades, mas ningu&eacute;m se disp&otilde;e a rogar. E aqui est&aacute; o ponto: rogar &eacute; o oposto de arrogar. Rogar pressup&otilde;e humildade. Arrogar &eacute; a manifesta&ccedil;&atilde;o suprema da falta de civilidade.

Vivemos sob tutela de crian&ccedil;as em corpos adultos. Gritam, exigem, imp&otilde;em &ndash; mas n&atilde;o sabem pedir. Nem sabem agradecer.&nbsp;

<img alt="" src="/fotos/farol_colunas/847/mg/IMAGEM_COLUNA_0.jpg" style="width: 1024px; height: 682px;" />

&ldquo;Quando o sil&ecirc;ncio n&atilde;o &eacute; poss&iacute;vel, o invejoso recorre ao discurso hip&oacute;crita, elogiando o que n&atilde;o tem valor, criticando o que &eacute; secund&aacute;rio e omitindo o essencial. (&hellip;) Da&iacute; para a difama&ccedil;&atilde;o e a cal&uacute;nia &eacute;, apenas, um passo. At&eacute; porque o invejoso prefere ser classificado como difamador ou caluniador a arcar com o intoler&aacute;vel &ocirc;nus de ver assoalhada sua inveja omnimosa.&rdquo; (JOACI G&Oacute;ES &ndash; p. 221, A INVEJA NOSSA DE CADA DIA &ndash; COMO LIDAR COM ELA. 3&ordf; Edi&ccedil;&atilde;o, 2018.)

&nbsp;

Desde que o mundo &eacute; mundo, o equil&iacute;brio de poder segue um movimento pendular de a&ccedil;&otilde;es e rea&ccedil;&otilde;es geopol&iacute;ticas. Com &iacute;ndices educacionais em queda vertiginosa, sem disciplina e sem entender que o conforto tem um pre&ccedil;o alto, o jovem ocidental social-democrata contempor&acirc;neo se perdeu entre a artrite cognitiva ideol&oacute;gica e o questionamento biol&oacute;gico da pr&oacute;pria natureza humana. Enquanto isso, o Oriente autocrata abusou de um poder brutal onde a for&ccedil;a governante molda a realidade dos governados com extrema crueldade. Foi necess&aacute;rio Trump, o Cisne Vermelho, repisar a hist&oacute;ria para lembrar que as autocracias operam sob a l&oacute;gica da expans&atilde;o e do dom&iacute;nio pela destrui&ccedil;&atilde;o e que vidas humanas s&atilde;o um mero estoque de guerra.

A Uni&atilde;o Europeia, em sua estrat&eacute;gia colonizadora de preserva&ccedil;&atilde;o dos recursos naturais abundantes da &Aacute;frica e da Am&eacute;rica do Sul, enredada obsessivamente por pautas progressistas, negligenciou completamente a necessidade de fortalecer suas defesas e de atuar de maneira estrat&eacute;gica no tabuleiro global. Os Estados Unidos, sob Biden, refor&ccedil;aram essa tend&ecirc;ncia de enfraquecimento estrat&eacute;gico, alimentando, com armas, a destrui&ccedil;&atilde;o da Ucr&acirc;nia sem sequer pensar num ponto final ao massacre. Biden primeiro ofereceu carona, depois ofereceu o suic&iacute;dio coletivo a Volodymir Zelensky, impondo &agrave; Ucr&acirc;nia uma restri&ccedil;&atilde;o a contra-atacar Putin em seu territ&oacute;rio. Trump fez diferente: numa manobra militar inteligente, declarou o desejo de paz, agendou um encontro entre os inimigos e, ao cancelar temporariamente o apoio militar &agrave; Ucr&acirc;nia, deu liberdade para Zelensky bombardear a R&uacute;ssia na regi&atilde;o de Moscou. Uma jogada de mestre.

Apesar da gritaria da esquerda progressista e de sua m&iacute;dia concession&aacute;ria, a verdade inc&ocirc;moda &eacute; que a guerra em solo europeu poderia ter sido evitada ou encerrada com negocia&ccedil;&otilde;es estrat&eacute;gicas. A Europa recusou-se a enfrentar a realidade e, no processo, permitiu que a Ucr&acirc;nia fosse devastada.

O Cisne Vermelho coloca todo o poderio americano em prol da paz, atrav&eacute;s do com&eacute;rcio e do di&aacute;logo. Trump age com tanta rapidez que n&atilde;o d&aacute; tempo nem de refletir. Ningu&eacute;m entendeu que o consumismo doentio dos EUA foi o que fez com que a China se erguesse. Ningu&eacute;m entendeu que a sanha militar dos EUA foi o que fez a Europa viver o doce sonho da social-democracia em paz. Goste ou n&atilde;o, Trump enxergou isso com clarivid&ecirc;ncia e assim interrompe, pelo menos por enquanto, o processo de degenera&ccedil;&atilde;o da &Aacute;guia Americana e seu papel de l&iacute;der da fauna global. O Cisne Vermelho, quando foi duro com Zelensky, n&atilde;o foi por desprezo, mas porque entendeu que o &uacute;nico caminho para a paz era a negocia&ccedil;&atilde;o. Demorou para cair a ficha de Zelensky, ainda na in&eacute;rcia do cabo de guerra, &aacute;vido por mil raz&otilde;es para derrotar Putin. Ora, tivesse aceito e assinado o acordo, no Sal&atilde;o Oval da Casa Branca, em frente &agrave; m&iacute;dia internacional, Zelensky j&aacute; teria garantido o apoio dos EUA. A Ucr&acirc;nia j&aacute; estaria sob as asas da &Aacute;guia Americana, que teria sua presen&ccedil;a econ&ocirc;mica no pa&iacute;s, assegurando sua defesa n&atilde;o atrav&eacute;s de tanques, mas de investimentos com m&uacute;tuo benef&iacute;cio econ&ocirc;mico aos pa&iacute;ses. N&atilde;o teria a presen&ccedil;a da OTAN, mas sim dos EUA per se. E Putin, o g&eacute;lido, ent&atilde;o nada mais poderia fazer.

<img alt="" src="/fotos/farol_colunas/847/mg/WhatsApp Image 2025-03-18 at 10.03.39..jpg" style="width: 310px; height: 284px;" />

&Aacute;guia e Drag&atilde;o &ndash; Arte: Matheus Oliva

Sim! O Cisne Vermelho, cafona, capitalista e pomposo, d&aacute; o exemplo e promove a paz. Quem diria? &Eacute; t&atilde;o surpreendente que ainda n&atilde;o caiu a ficha do mundo, sobretudo da m&iacute;dia concession&aacute;ria, acostumada com as benesses de governos manipuladores. A estrat&eacute;gia de Trump &eacute; baseada na a&ccedil;&atilde;o e na informa&ccedil;&atilde;o sem filtros editoriais. O Cisne Vermelho opera no que o Ocidente tem de melhor: a liberdade de express&atilde;o irrestrita. Ele e toda sua equipe prestam contas diariamente e diretamente aos cidad&atilde;os americanos com postagens e entrevistas abertas, dispon&iacute;veis sem cortes, sem coment&aacute;rios, em redes sociais. Com isso, ao contr&aacute;rio do que afirmam, Donald Trump n&atilde;o &eacute; o agente do caos global, mas sim um negociador pragm&aacute;tico. Sua abordagem disruptiva est&aacute; for&ccedil;ando o Ocidente democr&aacute;tico a abandonar sua passividade e a se posicionar de forma estrat&eacute;gica para garantir sua sobreviv&ecirc;ncia.

Na fauna global, os EUA escolheram a &Aacute;guia Americana como s&iacute;mbolo de governo. Essa esp&eacute;cie de rapina possui o instinto de se auto depenar para se livrar das penas velhas e fr&aacute;geis, permitindo o crescimento de penas mais fortes e resistentes, essenciais para ca&ccedil;ar e al&ccedil;ar voos dignos de sua proje&ccedil;&atilde;o. Isso &eacute; uma realidade. Os EUA s&atilde;o poderosos. O Cisne Vermelho renova essa consci&ecirc;ncia de poder e permite &agrave; &Aacute;guia depenar a letargia burocr&aacute;tica. &Eacute; importante para o Brasil entender que a neutralidade entre o Drag&atilde;o Chin&ecirc;s e a &Aacute;guia Americana &eacute; fundamental. H&aacute; um ditado africano que diz que, em briga de elefantes, quem se prejudica &eacute; a grama. E o Brasil, apesar da obesidade de sua burocracia, n&atilde;o &eacute; um elefante, nem &eacute; a &Aacute;frica.

&quot;N&atilde;o pergunte o que seu pa&iacute;s pode fazer por voc&ecirc;, pergunte o que voc&ecirc; pode fazer por seu pa&iacute;s&quot;, John Fitzgerald Kennedy, em discurso de sua posse como 35&ordm; presidente eleito dos Estados Unidos, em 20 de janeiro de 1961, em Washington, D.C.

&nbsp;

A pressa &eacute; inimiga da perfei&ccedil;&atilde;o, mas, em rios caudalosos, camar&atilde;o que dorme, a correnteza leva. O Cisne Vermelho tem pressa, n&atilde;o &eacute; camar&atilde;o. Escreve a hist&oacute;ria na velocidade da intelig&ecirc;ncia artificial. Muda completamente a ordem mundial do p&oacute;s-guerra. Trump, com excesso de dilig&ecirc;ncia e transpar&ecirc;ncia, mas escassez de escr&uacute;pulos e reflex&atilde;o, n&atilde;o &eacute; a causa, mas o sintoma mais evidente do colapso da social-democracia ocidental; semeada no p&oacute;s-guerra; vingada sob esterco do comunismo oriental e apodrecida pela sede sufocante de um bem-estar social tanto parasit&aacute;rio quanto ilus&oacute;rio.

Trump obt&eacute;m aprova&ccedil;&atilde;o popular prestando contas de suas promessas. Defende o senso comum contra uma agenda agressiva de diversidade, equidade e inclus&atilde;o que se perdeu em si mesma &ndash; narcisismo coletivo que transformou direitos em excesso e deveres em escassez. O senso comum estado unidense v&iacute;tima de tiroteios cru&eacute;is e aleat&oacute;rios perpetrados por jovens transtornados vive paranoica. Os crimes s&atilde;o relativizados. &Eacute;tica da religi&atilde;o e do trabalho s&atilde;o estigmatizados. Virtudes, car&aacute;ter e esfor&ccedil;o j&aacute; n&atilde;o pertencem mais ao vocabul&aacute;rio da gera&ccedil;&atilde;o que, for&ccedil;osamente, pelo imp&eacute;rio do tempo, ter&aacute; que sustentar o pa&iacute;s nas pr&oacute;ximas d&eacute;cadas. Uma pandemia de invers&atilde;o de valores, resultante em decrepitude dos pilares que sustentam o sal&atilde;o que esta mesma juventude se farta em todas as facilidades que o mundo moderno lhe entrega. O buraco &eacute; bem mais embaixo, &eacute; preciso uma ponte para atravess&aacute;-lo. Trump pisa fundo no freio de arruma&ccedil;&atilde;o, antes de cair no buraco. O motorista quer cobrar tarifas para quem quiser entrar no &ocirc;nibus. Os passageiros construir&atilde;o a ponte da volta para o futuro. N&atilde;o h&aacute; evid&ecirc;ncias de que o Cisne Vermelho queira destruir o que funciona bem. Seu alvo &eacute; a engrenagem burocr&aacute;tica que funciona mal. Uma autofagia social de privil&eacute;gios inexplic&aacute;veis.

Elon Musk, o Cisne Cibern&eacute;tico, erra a &oacute;rbita da pol&iacute;tica. Brilhante na l&oacute;gica, desastroso no humano. Sua conex&atilde;o &eacute; rob&oacute;tica, n&atilde;o humana. Marte o espera. O mundo real exige mais. Sua aventura pol&iacute;tica &eacute; um exemplo vivo da diferen&ccedil;a entre intelig&ecirc;ncia e sabedoria. A Alemanha demonstrou isso. Sua motosserra pode reduzir a burocracia, mas n&atilde;o ceifar&aacute; ideias nem mem&oacute;rias vivas de tempos sinistros onde a euforia extremista causou tanto mal.&nbsp;

O Centro Crist&atilde;o venceu na Alemanha. Mas a extrema direita obteve significativo avan&ccedil;o eleitoral, especialmente nas regi&otilde;es da antiga Alemanha Oriental, anteriormente sob regime comunista. Prova que a ret&oacute;rica populista tem resson&acirc;ncia entre os segmentos mais pobres e com menor n&iacute;vel educacional, ao contr&aacute;rio dos grupos mais abastados e instru&iacute;dos. O avan&ccedil;o dos extremos &eacute; a fadiga da social-democracia. A democracia precisa se definir: mant&eacute;m e aprimora suas estruturas capitalistas liberais ou perece na ideologia social-democrata frente a autocracias globais.

<img alt="" src="/fotos/farol_colunas/841/mg/image-20250226150330-1.png" style="width: 392px; height: 558px;" />

O calor ideol&oacute;gico n&atilde;o resiste ao frio cortante do &Aacute;rtico. A geopol&iacute;tica &eacute; um jogo de pragmatismo e estrat&eacute;gia. Trump inaugura um sal&atilde;o de jogos ultra exclusivo, o C.R.USA. &ndash; China, R&uacute;ssia e EUA &ndash; enquanto a Europa, entre hesita&ccedil;&atilde;o e in&eacute;rcia, observa de fora. O &Aacute;rtico liga o Atl&acirc;ntico e o Pac&iacute;fico e possui infraestrutura crucial de comunica&ccedil;&otilde;es e sat&eacute;lites. Com 6% da superf&iacute;cie terrestre, o Alto Norte se estende ao norte do C&iacute;rculo Polar &Aacute;rtico. A &aacute;rea abriga um ter&ccedil;o do g&aacute;s natural mundial, 13% das reservas globais de petr&oacute;leo e grandes quantidades de minerais e metais raros. Al&eacute;m disso, oferece rotas comerciais importantes.&nbsp;

O acesso aos recursos &eacute; prerrogativa das oito na&ccedil;&otilde;es &aacute;rticas &ndash; Canad&aacute;, Dinamarca (Groenl&acirc;ndia), Isl&acirc;ndia, Noruega, Su&eacute;cia, Finl&acirc;ndia, R&uacute;ssia e EUA. Mas seu valor transcende fronteiras e a China est&aacute; de olhos abertos com aux&iacute;lio de perisc&oacute;pios dos seus submarinos nucleares. Os EUA sabem que a supremacia na regi&atilde;o ser&aacute; decisiva para sua posi&ccedil;&atilde;o global diante do avan&ccedil;o sino-russo. Raz&atilde;o do Cisne Vermelho grasnar como um pato para acordar o desatento vizinho Canad&aacute; e a confort&aacute;vel Dinamarca. Alemanha, Fran&ccedil;a e Reino Unido finalmente discutem amplia&ccedil;&atilde;o militar.&nbsp;

A Ucr&acirc;nia &eacute; uma plan&iacute;cie violentada. Com amplo litoral, &eacute; rota mar&iacute;tima de acesso estrat&eacute;gico ao Mediterr&acirc;neo. Zelensky, l&iacute;der de alta moral e baixa patente, informou a partir das trincheiras o massacrante avan&ccedil;o de Putin. Mas, sem acesso ao gabinete dos generais burocratas da social-democracia, est&aacute; sendo rifado. A hist&oacute;ria o julgar&aacute;. O CRUSA subjuga-o. No equil&iacute;brio de for&ccedil;as moment&acirc;neo do CRUSA, uma diferen&ccedil;a fundamental persiste: China e R&uacute;ssia culturalmente precisam de coer&ccedil;&atilde;o para manter a estabilidade. Os EUA, opostamente, nutrem-se de dinamismo, diversidade, liberdade e propriedade privada. Essa condi&ccedil;&atilde;o &eacute; uma vantagem que nenhuma autocracia pode copiar e que nenhum homem, grupo, partido ou seita, por mais que entoem o canto de um Cisne, poder&atilde;o suplantar. O CRUSA &eacute; o primeiro passo de uma nova ordem mundial. O Cisne Vermelho tem pressa. N&atilde;o h&aacute; por que se preocupar, a chama da democracia n&atilde;o ser&aacute; apagada pelo bater de suas asas.&nbsp;

&ldquo;...Quero dizer que a democratiza&ccedil;&atilde;o da Europa &eacute;, simultaneamente, uma institui&ccedil;&atilde;o involunt&aacute;ria para o cultivo de tiranos &ndash; tomando a palavra em todo sentido, tamb&eacute;m no mais espiritual.&rdquo;&nbsp; 
Al&eacute;m do bem e do mal. 
&nbsp;Friederich Nietzsche 
&nbsp;

Nestes tempos atuais o julgamento instant&acirc;neo prospera e a reflex&atilde;o &eacute; obsoleta. A polariza&ccedil;&atilde;o reduz a pol&iacute;tica a um cabo de guerra ideol&oacute;gico, e quem prega o di&aacute;logo ponderado parece um rabino lendo a Tor&aacute; em Meca. Fundamentalistas e extremistas abriram um enorme espa&ccedil;o para os espertos. No meio desse caos, Donald Trump &eacute; visto por alguns como um conservador, defensor de valores tradicionais e um contrapeso ao globalismo progressista. Mas essa &eacute; uma leitura ing&ecirc;nua. Trump n&atilde;o &eacute; um conservador no sentido cl&aacute;ssico do termo. Seu projeto pol&iacute;tico n&atilde;o se baseia na preserva&ccedil;&atilde;o de institui&ccedil;&otilde;es, tradi&ccedil;&otilde;es e valores. Mas sim na destrui&ccedil;&atilde;o de qualquer opositor. Seu &quot;conservadorismo&quot; &eacute; meramente instrumental, uma narrativa eleitoral para mobilizar descontentes e obter apoio irrestrito com a guerra ao Estado burocr&aacute;tico esbanjador. Salvador da Rep&uacute;blica.

No plano global Trump governa como um imperialista, n&atilde;o como um republicano. Sua pol&iacute;tica externa n&atilde;o se preocupa com direitos humanos, soberania nacional ou valores democr&aacute;ticos. Ele negocia a Ucr&acirc;nia como se fosse uma ficha de p&ocirc;quer e d&aacute; sinais claros de que seu interesse &eacute; puramente geopol&iacute;tico. No baile aristocr&aacute;tico sequer cumprimenta os Europeus, prefere estar na mesa com Vladmir Putin e Xi Jiping organizando novas fronteiras territoriais e rotas comerciais para as partes.

A l&oacute;gica americana &eacute;, como qualquer outra na&ccedil;&atilde;o, expansionista. Acreditar que as fronteiras de hoje s&atilde;o eternas, &eacute; ignor&acirc;ncia. Em 1848, ap&oacute;s uma guerra brutal contra o M&eacute;xico, os EUA garantiram acessos mar&iacute;timos de grande relev&acirc;ncia e imensa expans&atilde;o territorial. Em 1867, compraram o Alasca na m&atilde;o dos Russos, o que se revelou um golpe de mestre com a descoberta de ouro e petr&oacute;leo. O Canal do Panam&aacute;, conclu&iacute;do pelos americanos em 1914, ap&oacute;s o fracasso da Fran&ccedil;a &eacute; outro exemplo: para garantir a obra, os EUA patrocinaram um movimento separatista panamenho, garantindo o controle sobre uma rota comercial important&iacute;ssima.

Trump se insere nessa tradi&ccedil;&atilde;o expansionista imperial que remonta aos per&iacute;odos anteriores &agrave;s guerras mundiais, ambas iniciadas em conflitos na Europa. Seu imperialismo &eacute; transacional. Amea&ccedil;a anexar todo Canad&aacute;, para, como um troco, ficar com a prov&iacute;ncia de Alberta, riqu&iacute;ssima em petr&oacute;leo e outros recursos. Sobre Taiwan, o Departamento de Estado j&aacute; atualizou a declara&ccedil;&atilde;o oficial sobre a ilha alvo da China. Os EUA removeram a frase que dizia que os EUA n&atilde;o apoiam a independ&ecirc;ncia taiwanesa. &nbsp;Taiwan tem sido historicamente um parceiro estrat&eacute;gico dos EUA, embora sem reconhecimento oficial. A imprensa sequer se atentou para esta mudan&ccedil;a e isso j&aacute; faz mais de uma semana. Taiwan &eacute; a maior fornecedora de chips para o Pent&aacute;gono. Com uma pequena frase que muda tudo, d&aacute;-se recado claro &agrave; China de que a ilha &eacute; moeda de troca&nbsp;

Diferentemente da pol&iacute;tica externa tradicional dos EUA, que oscilava entre intervencionismo e diplomacia, Trump adota uma abordagem mafiosa. Ele n&atilde;o quer guerras prolongadas, mas tamb&eacute;m n&atilde;o pretende recuar do xadrez geopol&iacute;tico. Para ele a esperteza &eacute; a m&atilde;e de todas as virtudes. Tudo &eacute; neg&oacute;cio, tudo &eacute; barganha, e a for&ccedil;a sempre prevalece sobre os acordos abstratos. Fronteiras e tratados s&atilde;o abstra&ccedil;&otilde;es sujeitas a mudan&ccedil;as circunstanciais. O multilateralismo, a ONU e as alian&ccedil;as tradicionais s&atilde;o entraves, n&atilde;o ferramentas. O livre com&eacute;rcio e a paz s&atilde;o apenas circunst&acirc;ncias. Depende de terceiros negociarem sob seus termos.

Estamos em uma nova fase do imperialismo global: um jogo de poder com novas regras, muitas ainda sequer foram escritas. Intuitivamente ou n&atilde;o, o Cisne Vermelho segue a cartilha de Hans Morgenthau, nascido em 17 de fevereiro de 1904, em Coburg, na Alemanha. Estudou Direito e Ci&ecirc;ncias Pol&iacute;ticas, mas com a ascens&atilde;o do nazismo na Alemanha emigrou para os EUA em 1937, fugindo da persegui&ccedil;&atilde;o do regime de Hitler. Tornou-se professor na Universidade de Chicago, onde desenvolveu teorias sobre pol&iacute;tica internacional. Morgenthau teve embates com os formuladores de pol&iacute;tica externa dos EUA, especialmente durante a Guerra do Vietn&atilde;, que ele considerava um erro estrat&eacute;gico. Ele argumentava que os EUA deveriam evitar conflitos baseados em ideologias e focar no interesse nacional realista, baseado no pragmatismo e n&atilde;o em ilus&otilde;es idealistas.

Trump est&aacute; longe de ser um pacifista, mas tamb&eacute;m &eacute; errado lig&aacute;-lo &agrave; m&aacute;quina de guerra americana operativa entre democratas e republicanos. Antes da II Guerra Mundial, os EUA eram muito mais neutros em conflitos no exterior; sua filosofia era expansionista dentro de seu pr&oacute;prio territ&oacute;rio. Trump quer fortalecer e expandir os EUA, rivalizar com China e R&uacute;ssia. Acabou a amizade e os tapinhas nas costas da burocr&aacute;tica e iludida Uni&atilde;o Europeia. Bem-vinda, ent&atilde;o, &oacute; humanidade, ao novo imperialismo global. Algum especialista esperto de algum banco de investimento j&aacute; pode aposentar o &ldquo;BRICS&rdquo; e come&ccedil;ar a usar o acr&ocirc;nimo da nova era que cruza os limites democr&aacute;ticos: a era imperial que &ldquo;C.R.USA &ndash; China, Russia e USA&rdquo;. Cabe a Europa se defender e o resto do mundo entender que o futuro n&atilde;o &eacute; certo nem errado, &eacute; incerto.

Matheus Oliva

Todos os textos de Matheus Oliva

Cisne Vermelho XI

Cisne Vermelho X

Cisne Vermelho XIX

Cisne Vermelho VIII

Cisne Vermelho VII

Cisne Vermelho VI

Veja também

Jantar de negócios reúne empresários para celebrar aniversário da Agência Comunicando Ideias!

Taís Araujo celebra 15 anos como porta-voz de L'Oréal Paris em momento marcante de sua carreira!

Vídeo: Ministra da Cultura, Margareth Menezes volta a defender comitês após denúncias de uso político

Mais Lidas

Alta de Bolsonaro prevista para sábado foi adiada, diz portal

Assista: Podomblé celebra 100 anos de Mãe Stella de Oxóssi com episódio especial

Caso nova federação seja oficializada, Jerônimo garante que PP ficará sem deputados na ALBA

CBF diz que imagens de suposta camisa vermelha da Seleção não são oficiais

Com recusa de Ancelotti, Jesus pode virar novo alvo da Seleção