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Privilégio ou dignidade?

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Privilégio ou dignidade?

Privilégio ou dignidade?

Há muito eu ouço: onde vamos parar? Minha mãe era pródiga em tais indagações diante de situações anômalas ao aceitável em uma sociedade, naturalmente que ela, falecida em 1982, semianalfabeta, não guardava rebuscados pensamentos filosóficos, mas tinha a sensibilidade humana diante de situações em que degradavam o equilíbrio das vivências sociais. Parece que atualmente, na sociedade mundial, continua pertinente o questionamento de minha sábia mãe. Semana passada, uma juíza se viu em grande exposição, no  chamado tribunal das redes sociais, quando em  audiência de custódia, Lana Leitão Martins, do Tribunal de Justiça de Roraima (TJ-RR), cumpriu o protocolo do Conselho Nacional de Justiça, que determina que os presos devem ser ouvidos sem algemas se não forem violentos e não existir perigo de fuga.  Durante o depoimento, a magistrada ofereceu café e um casaco a um detento que estava tremendo de frio. Foi o suficiente: o linchamento público surgiu. De um modo geral, os ataques diziam que a juíza estava dando privilégio a bandido. De logo, pensei que os comentários eram distorções entre tratamento digno e privilégio. Talvez privilegiados sejam os tais engravatados que...vocês sabem.  

Os operadores do Direito, entre advogados e exercentes de funções no Judiciários defenderam a juíza, afirmando que ela atuou de maneira correta, lembrando, inclusive, que o réu estava sendo tratado em consonância com a Constituição Federal e com os protocolos internacionais dos quais o Brasil é signatário, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção Americana de Direitos Humanos.

Certamente, a esta altura deste despretensioso, alguns leitores questionam qual seria o meu comportamento se algum familiar fosse, vítima de algum bandido, o que eu faria? A depender do crime , é certo que teria ânimo de vê-lo ser maltratado, na proporção da maldade,  mas isto não guardaria tempo sob o abrigo da racionalidade, do sentimento cristão verdadeiro, haja vista que não estamos em uma barbárie - talvez verbal, sim – onde  impera a violência acionada na sede de justiça pelas próprias mãos. Inconcebível no século XXI, onde os que fomentam, fermentam os comportamentos medievais se deem conta que esses dias não são os da Idade Média. Recomendo a leitura de Leviatã, de Hobbes, para melhor entender a linha defendida pelo renovado filósofo sobre o primarismo humano e suas buscas de satisfações, de revanchismo e vingança, atropelando valores das sociedades, da leis e da convivência. Atenção: essa obra é do século XVII. Ao que parece não evoluímos muito, nem mesmo os que se proclamam cristãos, que deveriam cultivar, ou pelos tentar,  a caridade. É o que sinto. 
   
 

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