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Adolescentes enfrentam crise de pânico após período de isolamento social

Volta às aulas presenciais e rotina fora de casa causam medo

Por Ane Catarine Lima
Ás

Adolescentes enfrentam crise de pânico após período de isolamento social

Foto: Getty Images

Depois de um longo período em isolamento social, adolescentes apresentam crises de pânico ao se depararem com a volta às aulas presenciais e a rotina fora de casa. Desde o desenrolar da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, estudos apontam que  jovens e adolescentes, em sua maioria, desenvolveram transtornos ligados à saúde mental. Especialistas apontam que a presença de adolescentes com crises de pânico e ansiedade se tornou comum em consultórios psiquiátricos durante a pandemia.

A pedagoga e especialista em adolescência, Carolina Delboni, explicou ao Farol da Bahia que a crise de pânico tem um comportamento característico em adolescentes. Segundo ela, durante um ataque de pânico, comumente o adolescente pensa que vai morrer naquele determinado momento. “Nesses casos, o coração dispara e há uma perda de controle emocional. Isso tudo causa medo e pânico nesses adolescentes. O ataque de pânico é percebido no momento em que você se vê com uma série de pensamentos causados, na maioria das vezes, por medo, estresse e ansiedade, e não tem controle sobre eles”, disse. 

“Isso acontece de uma forma totalmente inconsciente e involuntária, principalmente no adolescente que entra em pânico quando percebe que não consegue controlar o que está acontecendo. Tudo isso ocorre devido a descompensação de várias substâncias no corpo. Normalmente, em uma crise, o adolescente tem a certeza de que vai morrer naquele momento ou que não vai dar conta de se manter naquele lugar por alguma razão. Se o adolescente está em um ambiente e tem uma crise de pânico, por exemplo, ele precisa sair porque o ambiente começa a sufocá-lo. E, em muitos casos, a angústia que uma pessoa está sentindo aumenta no momento da crise. Então, há uma potencialização dos sentimentos de ansiedade, estresse nervosismo”, completou. 

Os sentimentos desorganizados e potencializados durante a pandemia afetam muitas pessoas de formas diferentes. O reflexo dessa realidade na vida dos adolescentes já ultrapassou a vivência dentro de casa e muitos enfrentam dificuldades para retomar a socialização. Embora alguns adolescentes comemorem o retorno à escola, outros estão com mais dificuldade e enfrentam o medo do mundo e, além disso, os medos internos.

"A volta às aulas e a retomada de uma certa normalidade têm causado estresse para alguns jovens. Eles ficaram muito tempo com a vida suspensa dentro de casa e com uma série de proteções como a própria tela do computador ou celular. E o que para um determinado grupo é motivo de comemoração, para outro tem gerado medo, insegurança e ansiedade. Todos possíveis gatilhos para uma crise de pânico", afirma Carolina Delboni.

De acordo com um levantamento da Universidade de Calgary, publicado na revista médica JAMA Pediatrics, uma porcentagem alarmante de crianças e adolescentes está passando por alguma crise mental devido à pandemia. Além disso, novos estudos mostram que os sintomas de depressão e ansiedade dobraram em crianças e adolescentes quando comparados aos tempos pré-pandêmicos.

"O reflexo da pandemia nos adolescentes já extrapolou as paredes do quarto. Existe um isolamento dentro do isolamento e não é aquele saudável e típico esperado da idade. Agora é permeado pelo que chamamos de doenças mentais. E entre as certezas que temos é que a pandemia nos deu um alerta para questões que possivelmente já estavam aí, talvez apenas à espera de um gatilho. Saúde mental é dos assuntos mais urgentes e contemporâneos. Precisamos olhar, falar e cuidar. Sejamos adultos, adolescentes ou crianças. Porque a vulnerabilidade é intrínseca ao ser humano", afirma a especialista.

Fobia social 

Carolina Delboni afirma que, após estudos, dois reflexos foram observados entre os adolescentes após a retomada das atividades. “Nós observamos muita criança e adolescente tendo o que a gente chama de fobia social, que é o medo da socialização. A fobia social é caracterizada pelo medo de se recolocar e reinserir na sociedade. Então, o adolescente sempre teve muito medo da solidão, seja ela interna ou social, e de repente ele se viu com medo de se relacionar”, disse.

“O que por muito tempo era característico da vida de um adolescente entrou em suspensão. E, por ser uma questão de sobrevivência, esses adolescentes não tiveram que ‘mudar’ por conta dessa situação. Como não tinha muito o que fazer, eles aceitaram essa condição. Na hora de voltar, no entanto, estão enfrentando uma dificuldade muito grande. Alguns respondem essa situação com medo e  fobia social”, completou.

Com a retomada das atividades presenciais, segundo a especialista, é comum que alguns adolescentes comecem a fazer diversos questionamentos internos, principalmente os que estão ligados à questão de pertencimento ou não de grupo social. “Esses questionamentos se potencializaram e ter que voltar ao normal, em muitos casos, gera medo. Quando esse medo sai do controle, alguns adolescentes apresentam crise de pânico. Então, isso é uma coisa que está recorrente nos consultórios de psiquiatras e psicólogos. Após a retomada das atividades, houve um aumento de crises de pânico em adolescentes”, concluiu.   

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