Algoritmos que escaneiam CV impedem 27 milhões de achar emprego
Pesquisa de Harvard foca na população dos EUA, mas afirma que estimativa é semelhante para o Reino Unido e a Alemanha

Foto: Georgijevic/Getty Images
Cada vez mais empresas fazem uso de tecnologias que automatizam o processo de recrutamento e seleção. Por meio da Inteligência Artificial (IA), os números de currículos, antes obtidos em dias, podem ser encontras ou ignorados em minutos.
Uma nova pesquisa realizada por acadêmicos da Universidade de Harvard estima que esse tipo de tecnologia pode estar impedindo cerca de 27 milhões de norte-americanos de encontrarem trabalho integral. O estudo os denomina "trabalhadores ocultos".
Os trabalhadores ocultos, como afirma o relatório, são candidatos, que buscam vagas, mas não obtêm sucesso por conta de "processos de contratação que se concentram no que eles têm (como credenciais), em vez do valor que podem trazer (como habilidades)".
As plataformas procuram o candidato ideal através de palavras-chaves e experiência, muitas vezes com base nos critérios específicos por quem lidera o processo. Até 75% dos empregadores nos Estados Unidos contam com essa tecnologia hoje, de acordo com o relatório.
Na pesquisa, os trabalhadores ocultos foram divididos em três categorias: 63% estão trabalhando em um ou vários empregos de meio período, mas gostariam de um emprego em tempo integral; 33% estão procurando emprego, mas estão desempregados há muito tempo e 4% estão "ausentes do mercado de trabalho", ou seja, não procuram emprego, mas podem e têm vontade de trabalhar nas circunstâncias certas.
O estudo mostra que os grupos mais afetados incluem veteranos, refugiados, pessoas com deficiência, pessoas com problemas de saúde física ou mental, ex-detentos, cuidadores de adultos ou idosos e pessoas que se mudaram para uma cidade nova ou país. Os idosos e pessoas com pouca ou nenhuma qualificação, sem diploma ou histórico de emprego, também foram afetadas pelas ferramentas de IA.
O relatório mostra que há mais de 27 milhões de trabalhadores ocultos nos Estados Unidos, e estima proporções semelhantes no Reino Unido e na Alemanha. Os pesquisadores conversaram com 8.000 trabalhadores ocultos, antigos e atuais, e 2.250 executivos do Reino Unido, Alemanha e EUA para entender o problema mais a fundo.
A pandemia do novo coronavírus agravou ainda mais o quadro, aumento o número de trabalhadores ocultos, como afirma a pesquisa. Mas muitas pessoas dizem que encontrar trabalhando antes da pandemia era igualmente difícil.
O relatório também traz algumas recomendações para que as empresas consigam ser mais diversas em seus processos seletivos, como 1) trocar de filtros "negativos" para afirmativos, como enfatizar em habilidades ao aproveitar de experiência acadêmica ou profissional; e 2) tornar o processo de candidatura mais fácil para atrair mais grupos, já que 84% dos entrevistados disseram ter dificuldade em se candidatar.