Bahia lidera número de homicídios de mulheres, diz pesquisa

Mais de 180 mulheres foram mortas no estado em 2020

Por Da Redação
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Bahia lidera número de homicídios de mulheres, diz pesquisa

Foto: Reprodução/G1

A Rede de Observatório de Segurança divulgou nesta quinta-feira (4), o boletim A Dor e a Luta: números do feminicídio, que aponta que 181 mulheres foram mortas na Bahia em 2020. Desse total, 70 foram vítimas de feminicídio, crime de ódio em que a mulher é assassinada em contexto de violência doméstica ou por misoginia – aversão às mulheres. 

O estudo mostra as dinâmicas dos crimes contra mulheres em mais quatro estados: Ceará (138 casos, entre homicídios e feminicídios), Pernambuco (144, somando homicídios e feminicídios), Rio de Janeiro (84, contando homicídios e feminicídios) e São Paulo (200, também entre homicídios e feminicídios).

Foram 1823 casos monitorados - entre eles, 449 são feminicídios. São cinco registros de crimes contra mulheres por dia. Feminicídios e violência contra mulher ocupam o terceiro lugar entre os registros da Rede em 2020. Estão atrás apenas de eventos com armas de fogo e ações policiais. Em 58% dos casos de feminicídios e 66% dos casos de agressão, os criminosos eram companheiros da vítima.

De acordo com a cientista social e pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança e Iniciativa Negra, Luciene Santana, nos estados em que as pesquisas foram feitas, existem dois pontos em comum: as motivações para os crimes são as mesmas e o que os feminicídios aumentaram no período de isolamento social por conta da pandemia da Covid-19.

“É claro que as medidas de saúde são importantes e necessárias, mas percebemos que neste período as mulheres foram mais vítimas de violência doméstica, porque tiveram que passar mais tempo em casa com o seu agressor. Com isso, aumentaram os conflitos e os índices de feminicídio e violência contra a mulher”, informou.

Na comparação com os estados, a Bahia lidera no homicídio de mulheres (111) e fica em 3º lugar no ranking dos feminicídios (70), somando 181 no total dos crimes.

Luciene Santana afirma que as motivações para crimes de homicídio não são informadas. “Quando se chega a informação dos homicídios, não chegou-se ainda ao ponto da investigação para saber o que motivou esse crime”, informa.

Já com relação as motivações dos feminicídios em primeiro lugar estão: brigas, represálias e conflitos, término de relacionamento, ciúmes e suposta traição. 

Falta de perfil das vítimas e qualificação dos crimes

Luciene Santana levanta outro ponto importante que é: há a necessidade de classificar os tipos de violência corretamente. Muitos casos de feminicídio são subnotificados porque acabam sendo enquadrados como homicídios de mulheres. Nenhum transfeminicídio foi notificado na Bahia.

“Quando falamos de dados como esses estamos falando da vida de várias mulheres, quando esse crime não é registrado corretamente a vítima não tem direito a memória e não tem direito a justiça da forma adequada. Isso significa que não chegou nesse momento a uma investigação adequada para constatar que esse homicídio foi um feminicídio. Por exemplo: uma mulher que foi achada morta, queimada, no porta malas de um carro. Essa morte entra inicialmente como um homicídio, mas ela pode ser um feminicídio. É preciso classificar esses crimes da maneira correta, cumprindo o direito à memória dessas vítimas também", disse. 

A cientista política também aponta o papel da sociedade para prevenir essas situações. Para ela, é fundamental a contribuição social para que os dados diminuam.

"É uma questão também cultural, em relação ao machismo, ao sistema patriarcal, em que essas mulheres são colocadas em situação de desigualdade em relação ao homem, e vista também por esses parceiros e ex-companheiros como objetos, como propriedades, por isso passíveis de serem mortas e violentadas".

"É preciso de fato um entendimento cultural e social sobre essas questões, para que a gente consiga transformar esses dados", acrescentou.  
 

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