Brasileiro deve recuperar a renda de 2013 só em 2029, diz especialistas

Desigualdade social e regional tende a se aprofundar no rastro da crise provocada pela pandemia da covid-19, da qual o Brasil sairá mais pobre

[Brasileiro deve recuperar a renda de 2013 só em 2029, diz especialistas]

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Especialistas afirmam que a desigualdade vai aumentar mais ainda no planeta. O Brasil, onde há mais de 64 mil mortes contabilizadas oficialmente e um dos maiores volumes de pessoas contaminadas no mundo, acima de 1,6 milhão, não é diferente. O fosso que separa ricos e pobres vai ficar ainda mais profundo diante da uma expectativa de retomada lenta e desigual nas diferentes regiões do país, devido às idas e vindas das medidas de isolamento social. 

Analistas avaliam que a recessão sem precedentes que se formou terá efeitos devastadores no mercado de trabalho e na economia, pois a renda do trabalhador tende a encolher e terá recuperação mais lenta do que a do Produto Interno Bruto (PIB) como um todo.

O Brasil já vinha apresentando crescimento fraco desde 2017, após a recessão dos dois anos anteriores, avançando em um ritmo de 1% ao ano. Esse percentual é a capacidade de crescimento do país, o chamado PIB potencial, de acordo com o economista Rafael Bacciotti, analista da Instituição Fiscal Independente (IFI), que prevê queda de 6,5% no PIB neste ano. “O potencial de crescimento da economia foi de 1,5% de 2011 a 2018, ante 4 % entre 2005 e 2010. O PIB está em trajetória de desaceleração”, explica. “O país perdeu o gás devido à perda de produtividade.”

Diante da falta de capacidade para crescer, a desigualdade voltou com força nos últimos três anos, o que pode ser percebido não apenas no aumento da pobreza, mas, também, no mercado de trabalho. No trimestre encerrado em maio, quando a taxa de desemprego subiu para 12,7%, o índice de pessoas ocupadas caiu a 49,5%. É a primeira vez que esse indicador fica abaixo de 50% na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2012.

Emergência

O economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) diz que “ainda é cedo para medir todo o impacto da crise, mas quem está na informalidade e depende do comércio ou de serviços foi duramente afetado. Somente os trabalhadores do setor público não tiveram redução dos salários”, destaca.

Levantamento realizado por Costa mostra que o impacto do auxílio emergencial de R$ 600 está sendo positivo para minimizar as perdas dos trabalhadores informais e dos mais pobres, especialmente do Norte e do Nordeste. Contudo, o benefício não é suficiente para evitar os danos da recessão. Para o economista, o PIB deve cair 6,5% neste ano. “O impacto será mais forte nas classes mais baixas, porque a principal fonte de renda de muitas pessoas foi cortada na pandemia, e ainda vai demorar para se recuperar”, destaca.

Ele reconhece que o Brasil ainda não chegou ao pico da primeira onda de contágio, e uma possível segunda onda, como está começando a se formar em países que reduziram os casos, pode ser ainda mais devastadora, como aconteceu no início do século passado com a gripe espanhola. Essa pandemia que, na verdade, foi originada nos Estados Unidos, teve três ondas e matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo.

O economista avalia que os diferentes estágios da covid-19 nas regiões brasileiras também devem proporcionar uma retomada desigual. “Se vai haver uma segunda onda, ou se essa primeira onda será bem prolongada, ainda não sabemos. Agora, estamos vendo a expansão da doença para o interior. Cidades como Recife começam a retomar as atividades gradualmente, mas, no interior, a situação está ficando mais preocupante”, avalia.

Jefferson Nascimento, coordenador de Pesquisa e Incidência em Justiça Social e Econômica da Oxfam Brasil, reforça que a desigualdade social vai aumentar com a recessão. “Os dados de emprego já mostram que isso está ocorrendo, pois, considerando que a desigualdade já tinha voltado a aumentar nos últimos três anos, agora, com a desaceleração mais forte da economia, deve piorar”, afirma.
 


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