Canetas emagrecedoras podem reduzir eficácia do anticoncepcional oral e levar a gestações não planejadas; Entenda
Aos detalhes...

Foto: Divulgação
O anúncio da gravidez de Laís Caldas, influenciadora e ex-participante do Big Brother Brasil, reacendeu um alerta importante no debate sobre saúde feminina: a interação entre medicamentos para emagrecimento e métodos contraceptivos orais. A influenciadora contou que engravidou mesmo utilizando pílula anticoncepcional de forma regular enquanto fazia uso do Mounjaro (tirzepatida).
Em seu relato nas redes sociais, Laís explicou que o objetivo inicial era perder alguns quilos antes do casamento, realizado em setembro. Segundo ela, a falha contraceptiva não ocorreu por uso incorreto da pílula, mas por uma interação medicamentosa pouco discutida fora do ambiente médico.
“Eu realmente estava tomando anticoncepcional oral direitinho, mas eu casei em setembro e eu fiz o protocolo com Mounjaro, a tizerpatida. Eu queria estar mais sequinha no casamento e fiz o protocolo. O Mounjaro retarda o esvaziamento gástrico e isso diminui a absorção de alguns medicamentos orais e um dos mais afetados é o contraceptivo oral.”
Por que isso acontece?
Medicamentos como o Mounjaro atuam, entre outros mecanismos, retardando o esvaziamento gástrico. Na prática, isso significa que o alimento, e também outros medicamentos ingeridos por via oral, permanecem mais tempo no estômago antes de serem absorvidos no intestino. Esse atraso pode comprometer a absorção de hormônios presentes na pílula anticoncepcional.
Estudos clínicos mostram que, no caso da tirzepatida, pode haver redução expressiva do pico hormonal no sangue, além de diminuição da quantidade total do hormônio absorvido. Em termos práticos, o organismo recebe menos hormônio do que o necessário para garantir a supressão da ovulação, o que aumenta o risco de gravidez.
Para a endocrinologista e PhD Dra. Alessandra Rascovski, diretora da clínica Atma Soma, o caso ajuda a esclarecer um ponto essencial: não se trata de falha da paciente, mas de uma interação farmacológica que ainda é pouco compreendida fora da comunidade médica.
“O Ozempic e o Wegovy oferecem menor risco de interferência nos anticoncepcionais orais do que o Mounjaro. Além disso, o emagrecimento contribui para a melhora da resistência insulínica e para a regularização do ciclo em mulheres com ovário policístico, favorecendo o aumento da fertilidade”, explica a médica, que também é autora do livro Atmasoma – O equilíbrio entre a ciência e o prazer para viver mais e melhor”.
Todas as canetas oferecem o mesmo risco?
Não. A evidência científica mostra que o impacto varia conforme a substância utilizada. A tirzepatida, presente no Mounjaro e no Zepbound, é a que levanta maior preocupação, justamente pela redução significativa da absorção do anticoncepcional oral.
Já medicamentos à base de semaglutida, como Ozempic e Wegovy, também retardam o esvaziamento gástrico, mas os estudos indicam que o hormônio da pílula acaba sendo totalmente absorvido, ainda que de forma mais lenta. Nesse caso, não há comprovação de perda da eficácia contraceptiva.
Outras moléculas da mesma classe, como liraglutida, exenatida e dulaglutida, podem atrasar a absorção, mas não demonstraram impacto clínico relevante na proteção contra a gravidez.
Diante desse cenário, a recomendação médica é clara: “No caso do Mounjaro, existe um alerta formal em bula. O risco de redução da eficácia do anticoncepcional oral é maior nas primeiras quatro semanas de uso e após cada aumento de dose. Por isso, a recomendação oficial é associar um método contraceptivo adicional, como a camisinha, por quatro semanas após iniciar o tratamento ou ajustar a dose”, finaliza.


