Cientistas brasileiros apontam fatores genéticos que protegem pessoas da Covid-19

Duas pesquisas foram feitas para identificar genes em diferentes casos

[Cientistas brasileiros apontam fatores genéticos que protegem pessoas da Covid-19]

FOTO: Tomaz Silva/Agência Brasil

Cientistas brasileiros publicaram recentemente duas pesquisas que ajudam a entender quais fatores genéticos que protegem algumas pessoas da infecção ou desenvolvimento da forma grave da Covid-19. As informações são Agência Fapesp.

Um dos estudos foi realizado com um grupo de idosos acima de 90 anos resistentes ao vírus SARS-CoV-2, causador da doença, e o outro descreve o caso de gêmeos idênticos com desfecho diferente para a chamada Covid longa.

“Se realmente comprovarmos que alguns genes promovem resistência ao SARS-CoV-2, isso também pode ser verdade para outros tipos de vírus. A partir disso, novos trabalhos podem buscar entender os mecanismos por trás dessa resistência e desenvolver medicamentos para aumentar a proteção das pessoas contra infecções virais”, diz a professora Mayana Zatz, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP).

Em uma das pesquisas, com o grupo de idosos, os dados foram comparados com os de 55 pessoas com menos de 60 anos e que contraíram a forma grave ou morreram, além de uma base da população idosa geral da cidade de São Paulo, obtida por meio de banco genético.

Os pesquisadores analisaram a região do cromossomo 6, conhecida como Complexo Principal de Histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês). Essa área tem dezenas de genes que controlam o sistema imunológico de diferentes formas, mas depende de equipamentos e ferramentas especiais para análise.

Houve ainda o sequenciamento do exoma (fração do genoma que codifica os genes). Já a infecção por SARS-CoV-2 foi confirmada pelo teste de diagnóstico molecular, tendo sido as amostras coletadas no início de 2020 – antes dos programas locais de vacinação contra a Covid-19.

O primeiro foi que o grupo com Covid leve apresentou frequência aumentada de algumas variantes do gene MUC22, duas vezes maior do que os pacientes com casos graves e mais frequente ainda nos superidosos resilientes.

Segundo o estudo, essas mutações (variantes do tipo missense, que trocam aminoácido na proteína) do MUC22 podem estar reduzindo as respostas imunes hiperativas contra o SARS-CoV-2 e, com isso, desempenhando um importante papel protetor das vias respiratórias contra o vírus. Ou seja, uma hipótese é que indivíduos com melhor controle da produção da mucina talvez sejam mais resistentes.

O trabalho foi publicado na Frontiers in Immunology e recebeu apoio da Fapesp por meio do CEPID, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Envelhecimento e Doenças Genéticas e de mais quatro projetos.

Segundo estudo

No outro estudo, os cientistas relataram um caso de gêmeos idênticos (monozigóticos), com 32 anos à época, que apresentaram simultaneamente Covid-19 grave com necessidade de internação e uso de oxigênio, apesar da idade e das boas condições anteriores de saúde.

Coincidentemente os dois foram internados e intubados no mesmo dia, mas um dos irmãos passou oito dias a mais no hospital e somente ele apresentou a Covid longa, ou seja, continuou com sintomas, principalmente fadiga, mesmo após sete meses da infecção.

Depois de avaliar o perfil de células imunes e das respostas específicas ao SARS-COV-2, além de sequenciamento completo do exoma (a parte do genoma responsável por codificar as proteínas), os cientistas apontaram que a evolução clínica diferente entre ambos reforça o papel da resposta imune e da genética no desenvolvimento da doença.

Segundo o trabalho, publicado na Frontiers in Medicine, embora os gêmeos idênticos compartilhem as mesmas mutações genéticas que podem estar associadas ao aumento do risco de desenvolver a forma grave, a evolução clínica foi diferente. Já em relação à síndrome pós-Covid, corroborou uma associação entre o tempo de internação e a ocorrência de sintomas de longa duração.

“Já tinham sido registrados no Brasil casos de sete pares de gêmeos idênticos adultos que morreram em decorrência da doença com dias de diferença, o que chama a atenção para o componente genético da Covid-19. Quando soubemos desse par de gêmeos que teve a forma grave ao mesmo tempo e só foi saber um do outro no hospital, ficamos interessados em descrever o caso. O fato de terem sido infectados simultaneamente e desenvolverem uma forma grave da doença reforça a hipótese do fator genético”, afirma Vidigal, primeiro autor do trabalho, que também recebeu apoio da Fapesp.

Segundo o pesquisador, entre os parâmetros sistêmicos ligados à fadiga pós-Covid que apareceram alterados estão a ferritina (proteína produzida pelo fígado envolvida no metabolismo do ferro) e a creatina-kinase (uma proteína muscular).

“Em pesquisas como essas é extremamente importante o trabalho em equipe, envolvendo genômica, imunologia, parte clínica e outras. Quando se quer responder questões complexas, é importante saber desenhar o experimento e identificar os pacientes que melhor podem ajudar a responder a pergunta. E isso não é fácil”, resume Zatz.

Tamanha é essa dificuldade que uma equipe internacional de pesquisadores lançou em outubro do ano passado na revista Nature uma espécie de caçada global por pessoas geneticamente resistentes à infecção pelo SARS-CoV-2.


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