Cientistas desenvolvem vacina experimental que estimula anticorpos contra o HIV em 97% das pessoas
Os resultados do ensaio clínico foram publicados na revista Sciene na quinta-feira (1º), no Dia Mundial da AIDS

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Uma nova vacina experimental contra o HIV obteve resposta imunológica em 97% dos voluntários que receberam duas doses, em um intervalo de oito semanas. O imunizante não provocou efeitos adversos graves. Os resultados do ensaio clínico foram publicados na revista Sciene na quinta-feira (1º), no Dia Mundial da AIDS.
Os anticorpos foram estimulados em 35 de 36 pessoas que participaram da primeira fase de testes. A vacina foi nomeada como eOD-GT8 60mer. Os resultados estabelecem “prova clínica de conceito” em apoio ao desenvolvimento de regimes de reforço para induzir respostas imunes contra a infecção pelo HIV, para a qual não há cura. O não controle do vírus HIV pode causar a síndrome da imunodeficiência adquirida, conhecida como AIDS.
Diversos grupos de pesquisadores estão buscando desenvolver vacinas que estimulem um tipo de célula imunológica específica — conhecida como células B — a gerar os chamados anticorpos amplamente neutralizantes. Estes trabalham contra partes do vírus HIV que variam pouco entre as cepas.
Durante qualquer infecção viral, apenas uma fração das células B específicas do vírus pode produzir anticorpos amplamente neutralizantes. Quando se trata de HIV, a incorporação de proteínas virais em uma vacina pode ativar esse subconjunto de células B.
“Aprender como induzir anticorpos amplamente neutralizantes contra patógenos com alta diversidade antigênica, como HIV, influenza, vírus da hepatite C ou a família dos betacoronavírus, representa um grande desafio para o design racional de vacinas”, escreveram os pesquisadores.
Para avaliar a eficácia dessa abordagem, Juliana McElrath , da Universidade de Washington em Seattle, e seus colegas recrutaram 48 voluntários sem HIV, com idades entre 18 e 50 anos, para testar uma vacina que estimula as células B a produzir anticorpos amplamente neutralizantes específicos para o HIV, com base em estudos de laboratório e em animais. A vacina contém parte de uma proteína encontrada na superfície do HIV, chamada gp120, que ajuda o vírus a entrar nas células.
Dos 48 voluntários, 36 receberam o esquema de duas doses da vacina experimental e 12 ficaram no grupo controle e tomaram uma solução salina.
Entre os participantes, 18 receberam a dose de 20 microgramas da vacina e, oito semanas depois, a mesma dose da vacina com adjuvante; 18 receberam uma dose de 100 microgramas da vacina e, oito semanas depois, uma dose do mesmo tamanho da vacina com um adjuvante.
Resposta imunológica
Após as injeções, todos os participantes forneceram regularmente amostras de sangue por 16 semanas. Daqueles que receberam doses baixas ou altas de vacina, 97% tinham anticorpos amplamente neutralizantes específicos para o HIV no final do estudo.
Os níveis de anticorpos foram semelhantes entre os participantes que receberam as diferentes quantidades da vacina, mas aqueles que receberam as doses com 100 microgramas apresentaram uma resposta imunológica ligeiramente mais alta.
Entre os 12 participantes que receberam solução salina, dois apresentaram anticorpos anti-HIV ao final do estudo. Por que isso ocorreu não está totalmente claro. No entanto, os pesquisadores acreditam que esses participantes podem ter alguma imunidade natural contra o vírus.
Entre todos os participantes, incluindo aqueles que receberam a solução salina, 98% experimentaram efeitos colaterais leves, como fadiga, dores de cabeça e sensibilidade no local da injeção.
Apesar da alta estimulação de anticorpos, a vacina ainda não demonstrou proteger contra a infecção pelo HIV. Com base no nível de proteção gerado, provavelmente seriam necessárias mais de duas doses para prevenir a infecção pelo vírus.