Comércio entre Brasil e Estados Unidos cai ao menor nível desde 2009
Embarques de petróleo e combustíveis correspondem a quase 9% das exportações aos americanos

Foto: Reprodução/Agência Brasil
Com uma queda de 25% em relação ao ano passado, as relações entre Brasil e Estados Unidos fecharam o acumulado de janeiro a setembro em US$ 33,4 bilhões, a menor corrente de comércio bilateral para o período dos últimos 11 anos. A predominância de bens da indústria de transformação na pauta brasileira de exportação aos americanos, com participação importante de petróleo e derivados, contribuiu para a queda de 31,7% dos embarques aos EUA até setembro.
Os dados sinalizam para um déficit no comércio bilateral em 2020 que deve ser o maior dos últimos cinco ou seis anos, de acordo com os dados do “Monitor do Comércio Brasil-EUA”, divulgado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil). Ainda assim, os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com fatia de 9,7% das exportações e 12,3% da corrente de comércio brasileiras.
Em primeiro lugar, a China detém 34,1% das exportações e 28,8% da corrente de comércio. A Amcham projeta déficit entre US$ 2,4 bilhões e US$ 2,8 bilhões para este ano no comércio entre os dois países. Em termos relativos as exportações brasileiras rumo aos EUA foram as mais afetadas em comparação a igual período de 2019. Até setembro os embarques somaram US$ 15,2 bilhões, o menor valor para o período desde 2010.
Isso significa queda de 31,5% contra igual período do ano passado. “O ritmo é quatro vezes maior que o da retração de 7,7% da exportação total do Brasil”, destaca Abrão Árabe Neto, vice-presidente executivo da Amcham Brasil. A pauta de exportação brasileira aos americanos, com 87,2% em itens da indústria de transformação, explica o maior impacto no comércio com os EUA.
É um cenário bem diferente dos embarques à China, que ganharam espaço impulsionados por volumes e preços de commodities agrícolas. Nas vendas ao americanos, a commodity que influenciou foi o petróleo, mas com queda, já que o preço do óleo despencou em março e apesar da recuperação nos últimos meses, não alcançou o nível pré-pandemia.
Entre os dez itens mais exportados aos EUA, o petróleo e combustíveis derivados correspondem hoje a 8,9% da pauta exportadora brasileira aos americanos. Ao mesmo tempo, as importações brasileiras de produtos americanos caíram 18,7% considerando o acumulado até setembro contra igual período de 2019, para US$ 18,3 bilhões. O ritmo de queda se intensificou nos últimos três meses, aponta Abrão Neto.
Para ele, a demora maior do efeito da pandemia nas importações se deve ao fato de que o desembaraço de mercadorias já contratadas e embarcadas antes da crise continuou sendo feito por algum tempo. Além disso, boa parte do comércio com os EUA é composta de trocas intra-companhia que podem ter demorado mais a refletir a queda de demanda.
“Foi um golpe muito duro nas trocas bilaterais, mas a avaliação é de que o fundo do poço já foi atravessado”, diz o ex-secretário de comércio exterior no antigo Ministério do Desenvolvimento. Com a perspectiva de recuperação do comércio internacional de bens e serviços e a demanda que isso trará para o exportador brasileiro e americano, a expectativa é de recuperação gradual do comércio, embora ainda haja alguma dose de incerteza em relação ao comportamento da Covid-19.