Conheça a Síndrome da cabana e entenda por que há quem não queira o fim do isolamento
Aos detalhes...

Em tempos de isolamento social, um comportamento curioso ganhou até nome: Síndrome da cabana, uma dificuldade anormal de deixar o conforto do lar para conviver socialmente. Com a crise de saúde mundial, surgiu também a Fear of Going Out (do inglês, medo de sair de casa). Ambas carregam algumas características em comum, e tendem a ser sazonais. Sequelas emocionais do momento histórico que vivemos, não são consideradas patologias, mas um mecanismo de defesa natural da mente. “O termo síndrome da cabana veio à tona em 1900, no norte dos Estados Unidos. Foi criado para explicar um problema que acometia caçadores. Após passarem meses sozinhos em suas cabanas esperando o rigoroso inverno passar, eles sentiam repulsa em retornar à civilização”, elucida a psicóloga e hipnoterapeuta Sabrina Amaral. “Esse medo de voltar a conviver em sociedade depois do difícil trabalho de condicionar o cérebro a viver confinado vinha acompanhado de ansiedade e estresse grave, sinais que dificultavam ainda mais a retomada das atividades normais”, emenda. Por estar extremamente relacionado ao atual período de distanciamento social imposto pela pandemia da Covid-19, “o tema nunca esteve tão em alta”, frisa a especialista. Psiquiatra do Hospital Albert Einstein e presidente do conselho científico da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), o médico Luis Felipe Costa e a psicóloga Sabrina Amaral pontuam que os sintomas mas recorrentes da síndrome são:
- falta de motivação e ânimo;
- alteração de humor;
- perda de memória e concentração;
- sensação de frustração e impotência;
- alteração no sono;
- distúrbio alimentar (ingerir quantidade de comida significativamente maior ou menor do que a consumida habitualmente);
- ansiedade, que pode vir acompanhada de inquietação, irritabilidade e taquicardia.
De acordo com os especialistas, pessoas naturalmente introvertidas são mais suscetíveis a sofrer desse mal. Medidas para reverter o quadro:
Para aliviar a angústia causada pela síndrome da cabana, os profissionais sugerem quatro medidas simples. Além de ajudar no processo de aceitação da ideia de voltar à ativa, os conselhos são capazes de elevar o bem-estar em geral.
1- Respeite seu tempo
A síndrome não é um transtorno psicológico. Portanto, é extremamente normal se encontrar nessa condição emocional após longos períodos de confinamento. Violar o seu ritmo, fazer autojulgamento e comparar os seus sentimentos com os dos outros pode dificultar a saída desse quadro ou até mesmo agravar os sintomas. Seja gentil consigo e respeite o seu tempo.
2- Recompense cada pequeno passo
Técnica amplamente usada no universo da terapia, a dessensibilização consiste em diminuir uma condição com doses mínimas e crescentes. Nesse caso, significa que você, quando for sair de casa pela primeira vez, deve priorizar uma simples voltinha de carro. Depois, aumentar a duração do passeio e, quem sabe, visitar um parque.
No fim de cada simples tarefa cumprida, ainda é importante se recompensar, seja lendo uma frase motivacional ou até mesmo realizando uma atividade prazerosa, como assistir a um filme, preparar uma receita.
3- Você está no controle
Lembre-se de que sair de casa não é como andar em corda bamba ou fazer excursão Traga à memória os bons momentos vividos fora. Entenda, ainda, que você detém o controle de quando voltar para a “toca”. Se sair e se sentir mal, por exemplo, não tem problema voltar às pressas. Um passo de cada vez. Conduza a situação no seu ritmo.
4- Crie uma rotina
O nosso cérebro geralmente se adapta melhor quando seguimos uma rotina. Por isso, estabeleça uma que faça sentido e seja fácil de ser seguida. Inclua exercícios e alimentação saudável na programação. Treinar e comer bem ajudam a manter a energia e motivação em alta. Como procurar ajuda:
Se perceber que o comportamento não melhora, pelo contrário, se agrava, busque orientação profissional.
“Se os sintomas clássicos da síndrome da cabana perpetuarem por mais de duas semanas, procure ajuda. Atualmente, com a telemedicina, é possível se consultar e receber prescrição médica sem sair de casa”, enfatiza o psiquiatra Luis Felipe.
O médico alerta que a síndrome, quando não monitorada e tratada, pode desencadear quadro depressivo grave.
“Esses sintomas persistentes, principalmente quando aliados a crises de autoestima, podem indicar, sim, uma patologia. Na dúvida, consulte um profissional para decodificar o seu caso”, indica.