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Copa do Mundo: conheça a atleta baiana convocada no primeiro Mundial em 1991

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Copa do Mundo: conheça a atleta baiana convocada no primeiro Mundial em 1991

Além de Formiga, Solange Bastos vestiu a camisa da seleção brasileira

Por Stephanie Ferreira
Copa do Mundo: conheça a atleta baiana convocada no primeiro Mundial em 1991
Foto: Acervo pessoal

Todos os olhos estão na mesma direção nesta segunda-feira (24): a estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo Feminina 2023, contra o Panamá, no torneio que acontece na Austrália. O mesmo feito há quase 32 anos quando uma equipe de atletas chegava na China para o primeiro Mundial feminino da história. 

Dentre elas, uma baiana nascida em Feira de Santana, Solange Bastos, que fazia sua primeira viagem internacional aos 22 anos. Em entrevista ao Farol da Bahia, a ex-jogadora contou como foi chegar a um país culturalmente tão diferente do Brasil para competir algo até então impensável. 

“Era uma coisa surreal, do outro lado do mundo. Nunca tinha imaginado isso para mim... Quando nós chegamos, eu pensei ‘meu Deus, que loucura’, não sabia nem o que fazer. Tirava foto de tudo”. 

Naquela Copa, o Brasil estreou no Mundial vencendo o Japão por 1x0 mas, para Solange Bastos, a vitória veio mesmo antes do jogo começar.

“Quando a seleção brasileira chegou em campo, porque a gente passou por trás dos bancos, a torcida toda gritou: ‘Brasil’. Eu nunca tinha visto tanta gente vendo o jogo feminino, na minha vida. Eu sentei por uns 10 minutos para me recompor.”

Soró, como era e ainda é chamada por colegas, foi novamente convocada para a Copa de 95, logo após a seleção masculina ser tetracampeão em 1994. Segundo ela, a nova conquista gerou pressão no time. 

“O Luciano do Vale falou assim: 'olha, no jornal saiu que o Brasil não tinha tradição no feminino, mas o masculino sim. Se vocês perderem esse jogo vai acabar o futebol feminino no país'”.

Apesar da pressão, a ex-atleta classifica essa partida como a mais emocionante e marcante da sua vida. O Brasil venceu a Suécia por 1x0.

“Acho que todo mundo foi buscar o melhor possível e conseguimos. Foi o jogo da minha vida. E foi esse placar que nos deu a classificação para a Olimpíada no ano seguinte". 

Apesar da classificação para a também primeira Olímpiada com jogos femininos, o Brasil encerrou a Copa de 95 na 9ª colocação com vitória na estreia sobre a Suécia por 1 a 0, derrotas para o Japão por 3 a 1 e para a Alemanha por 6 a 1.

Para Bastos, seu legado e de suas colegas que enfrentaram preconceito e falta de assistência refletem nas conquistas e melhorias para as novas jogadoras. Além disso, agora, a Soró que estuda Educação Física, vive um novo sonho: ser treinadora. “Fazer o melhor de mim. Como eu fiz enquanto atleta, como jogadora, eu quero fazer também como treinadora”. 

O Brasil participou de todas as Copas até o momento – esta é a 8ª edição. E subiu ao pódio duas vezes, a primeira em 1999, quando disputou com a Noruega o terceiro lugar, levando a medalha de bronze. E em 2007, com medalha de prata após perder para a Alemanha por 2x0. 

Lenda baiana 
Miraildes Maciel Mota, mais conhecida como Formiga, cria da cidade de Salvador, na Bahia, marcou a história com recordes no esporte entre homens e mulheres: ninguém jogou em mais copas que a baiana. Ela também participou do primeiro Mundial em 1995. 

Aos 16 anos foi convocada pela primeira vez e desde então participou de sete Copas: 1995, 1999, 2003, 2007, 2011, 2015 e 2019.  Ao todo foram 234 jogos, com 152 vitórias, 35 empates e 47 derrotas pela equipe. A atleta fez 37 gols com a camisa da seleção.  

Formiga atuou também nas Olimpíadas de Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008, Londres-2012, Rio-2016 e Tóquio-2020.

A jogadora se aposentou da Seleção aos 43 anos em 2021. 

Do circo à TV:  a história do futebol feminino brasileiro
O futebol feminino no Brasil tem uma trajetória marcada por desafios e lutas por espaço e reconhecimento. Em entrevista ao Farol da Bahia, a historiadora do Esporte e co-curadora das exposições Futebol e Olimpíadas do Museu do Futebol, Aira Bonfim, afirmou que essa modalidade chegou ao país através de viajantes da elite brasileira que foram à Europa e trouxeram o esporte consigo. 

"Esse futebol chega no Brasil importado, não foi o Brasil que inventou esse esporte, e ele vem para contagiar, a princípio, um grupo seleto de pessoas, mas de homens para outros homens.”

Segundo a historiadora, as primeiras mulheres a praticarem o esporte eram frequentadoras dos mesmos ambientes esportivos que os homens, como clubes de São Paulo e Rio de Janeiro, que praticavam diversas modalidades. Elas, aos poucos, encontraram brechas para jogar, mesmo que em contextos mistos com meninos, em uma experiência ainda não estruturada.

Essa inserção feminina durante a década de 1920 ocorre também por meio do circo que utilizava o futebol feminino como atração nos espetáculos. Além disso, mulheres do subúrbio do Rio de Janeiro, representantes de classes sociais mais baixas, também começaram a disputar o futebol, enfrentando tensões de classe e raça.

Em 1941, durante o Estado Novo, o futebol feminino foi proibido oficialmente. "A proibição não acontece do nada. Ela faz parte de um momento de centralização de poderes em torno das diligências do esporte", afirma Aira Bonfim. Mesmo proibido, o futebol feminino continuou clandestinamente..

Somente em 1983, após quatro décadas de proibição, o futebol feminino foi regulamentado no Brasil. No entanto, mesmo após a revogação, o esporte ainda enfrentou – e enfrenta - muitas dificuldades para se desenvolver. De acordo com Aira Bonfim, o machismo e os estereótipos de gênero persistiam, dificultando o acesso das mulheres a espaços de formação esportiva e a oportunidades profissionais no futebol.

Para Bonfim, as dificuldades de equiparação tanto na valorização, investimento estrutural e em formação de novas atletas, além de salarial para as profissionais ainda é reflexo deste período que atrasou o desenvolvimento do esporte para as mulheres. 

Em contrapartida, as lutas incessantes têm mostrado efeitos e a adesão - mesmo que ainda muito menor que o masculino – com um crescimento significativo. “A copa sendo transmitida em TV aberta e fechada, com uma dinâmica robusta, de presença de mulheres nos bastidores desse evento, trabalhando dentro com as comissões permite que haja reconhecimento. Então, gerações mais novas que talvez não tenham vivido as mesmas dificuldades passam a normalizar a ideia, desse futebol no seu cotidiano e se quiser sonhar com ele.”

A Copa do Mundo feminina teve início na última quinta-feira (20) e segue até o dia 20 de agosto. O time é comandado da treinadora Pia Sundhage. 

Confira calendário dos primeiro jogos da seleção:
Brasil x Panamá — 1ª rodada do grupo F
Data: 24 de julho (segunda-feira)
Horário: 8h (de Brasília)
Local: Hindmarsh Stadium, em Adelaide, Austrália
Onde assistir: Globo, SporTV, Fifa+ e CazéTV

Brasil x França — 2ª rodada do Grupo F
Data: 29 de julho (sábado)
Horário: 7h (de Brasília)
Local: Brisbane Stadium, em Brisbane, Austrália
Onde assistir: Globo, SporTV, Fifa+ e CazéTV

Brasil x Jamaica — 3ª rodada do Grupo F
Data: 2 de agosto (quarta-feira)
Horário: 7h (de Brasília)
Local: Melbourne Rectangular, em Melbourne, Austrália
Onde assistir: Globo, SporTV, Fifa+ e CazéTV

Conheça as convocadas: 
Goleiras

Camila - Santos
Leticia Izidoro - Corinthians
Bárbara - Flamengo
Defensoras
Antonia - Levante UD (Espanha)
Bruninha - NJ/NY Gotham (Estados Unidos)
Monica - Madrid CFF (Espanha)
Kathellen - Real Madrid (Espanha)
Lauren - Madrid CFF (Espanha)
Tamires - Corinthians
Rafaelle - Arsenal (Inglaterra)
Meio-campistas
Adriana - Orlando Pride (Estados Unidos)
Ary - Racing Louisville (Estados Unidos)
Ana Vitória - Benfica (Portugal)
Duda Sampaio - Corinthians
Kerolin - North Carolina Courage (Estados Unidos)
Luana - Corinthians
Atacantes
Geyse - Barcelona (Espanha)
Bia Zaneratto - Palmeiras
Gabi Nunes - Madrid CFF (Espanha)
Marta - Orlando Pride (Estados Unidos)
Debinha - Kansas City Current (Estados Unidos)
Andressa Alves - Roma (Itália)

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