Dança é arte, política e aliada no tratamento de depressão e ansiedade

Dia Internacional da Dança é celebrado nesta sexta-feira (29)

[Dança é arte, política e aliada no tratamento de depressão e ansiedade ]

FOTO: Arquivo Pessoal

Não importa se os movimentos são desajeitados ou perfeitos, se a música é rápida ou lenta, o importante é dançar. A dança é uma manifestação artística que, apesar de ainda ser vista apenas como entretenimento por muitas pessoas, muda vidas e incentiva a cultura. Para além de movimentar o corpo, a dança também promove benefícios para a mente, pois libera serotonina e endorfina, e é fonte de sustento para os artistas que a utilizam como profissão nos palcos ou dentro das salas de aula. 

Graduado em dança pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ronald Castro, de 25 anos, contou ao Farol da Bahia um pouco da relação que tem com o mundo artístico. “Eu sou artista. Trabalho nessa perspectiva artística, sou um artista da dança. Trabalho com produções artísticas, dou aula e atuo como bailarino”, afirmou.

Morador do bairro de Sussuarana, em Salvador, ele teve o primeiro contato com a dança ainda na infância, através de um projeto social. “Moro no segundo maior bairro com incidência periférica de Salvador. A dança entrou na minha vida na infância, quando tinha 8 ou 9 anos, através de uma escola comunitária”, contou Ronald Castro. 

“Era um projeto social aqui da Sussuarana, onde os alunos estudavam pela manhã e pela tarde tinham atividades recreativas e artísticas. Naquela época, escolhi o teatro e a dança como atividades para complementar a minha carga horária. Então, eu começo a praticar a dança nesse ambiente. Agora, profissionalmente falando, eu comecei a dançar em 2015 quando participei de blocos de carnaval”, completou.

Para o artista, a dança é muito mais do que movimentos porque, como uma forma de expressão corporal e artística, os movimentos também se tornam políticos. “A dança é política. A gente se expressa com o corpo. Com a dança, a gente fala sem precisar proferir palavras. A dança é expressão, sentimento, relação e tudo aquilo que a gente está sentindo. A dança é quem somos. Então, a dança é uma amplitude de conexões específicas, além de também ser ancestralidade. A dança se coloca enquanto concepção subjetiva porque cada pessoa que dança tem seu próprio conceito”, afirmou Castro.

Desvalorização e ocupação de espaços

Na entrevista, Ronald Castro também comentou sobre o Dia Internacional da Dança, celebrado nesta sexta-feira (29). Apesar de todas as qualidades que envolvem o mundo artístico, ele chamou atenção para a desvalorização da dança enquanto profissão. "Costumo dizer que o artista está presente em diversos lugares ao mesmo tempo. Isso porque, infelizmente, o nosso trabalho ainda não é valorizado. A maior parte da sociedade e instituições veem a dança como entretenimento, mas precisamos ter a concepção de que a dança é uma forma de trabalho”, afirmou o artista.

“A dança é forma de sustento. Enquanto as pessoas pensarem que a dança é apenas entretenimento, a cultura será desvalorizada. A gente não tem mais o Ministério da Cultura, não temos uma valorização específica para o movimento artístico. Por isso, precisamos fazer uma série de coisas ao mesmo tempo. Atualmente, dou aula e tenho um projeto solo onde eu aplico a metodologia de pesquisa que é a 'ressignificação das danças negras periféricas’. Então, é sobre esse olhar das danças negras na periferia como forma de movimento”, completou.  

Para quem deseja seguir carreira profissional na dança, Ronald Castro deixou um conselho: “Dançar é bem mais do que aprender uma coreografia e gravar um vídeo. Dançar requer estudo, dedicação e força de vontade. Em alguns momentos vamos pensar em desistir, mas quando a gente mostra o que consegue fazer dançando e, além disso, quando vemos que a dança consegue mudar a sociedade nunca mais queremos deixar de dançar. A dança nos transforma. Então, é não desistir e insistir ”concluiu.

Benefícios da dança 

Como qualquer atividade física, dançar promove benefícios físicos, mentais e emocionais para o corpo. Por isso, essa arte é uma grande aliada no combate à depressão e à ansiedade. Em entrevista ao Farol da Bahia, a psicóloga Gisela Durão, de 38 anos, falou sobre a importância e os benefícios da dança para saúde do corpo e da mente. 

“A dança é de extrema importância para saúde mental porque é uma atividade física. A dança é lúdica e, além da diversão, ajuda na concentração e na coordenação. Para dançar, a pessoa precisa aprender a contagem e o ritmo, por exemplo. Se você dança sozinha é de um jeito, mas se dança acompanhado já está interagindo e tem que respeitar o ritmo dessa outra pessoa. Isso tudo reflete em como agimos na nossa vida”, afirmou a especialista.

“A dança pode ajudar no controle da ansiedade. Na prática, a pessoa começa a ter um autoconhecimento maior do seu próprio corpo. Entende, ainda, o seu ritmo de respiração e de dança. A pessoa percebe que não tem o ritmo igual ao da outra pessoa e, portanto, para de se comparar. A comparação também é um fator da ansiedade. Quem faz dança há algum tempo já consegue perceber o ritmo, a respiração e a contagem dos passos. Tudo isso vai acalmando e a pessoa está ali concentrada na dança e, por um momento, deixa de pensar nos problemas. Então, a dança ajuda no controle da ansiedade”, continuou Durão.

A depressão e ansiedade podem estar relacionadas a transtornos de imagem, que têm causas mentais. Nesse caso,  a dança também é uma aliada porque, ao liberar serotonina e endorfina, ajuda a melhorar a autoestima. Ainda em entrevista, a psicóloga Gisela Durão incentivou a iniciação da dança.

“Comece aos poucos para o corpo ir se ajustando. Pegue uma coreografia por dia para fazer. Dance o que você gosta, identifique isso. Que dança você gosta? Entenda qual é o seu tipo de dança favorita e comece a praticar", concluiu. 
 
 


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