Dificuldade para dormir no calor pode ser prejudicial ao aprendizado, memória e bem-estar

As noites de verão tem impossibilitado que muitas pessoas tenham uma boa noite de sono, especialmente para aquelas que residem em ambientes que estejam com temperaturas acima do recomendado. Segundo a pesquisadora Erika Treptow, do Instituto do Sono, em São Paulo, os três fatores que influenciam no ritmo circadiano (o relógio biológico) são: luminosidade, secreção de melatonina e temperatura corporal. 

"No período noturno, ocorre naturalmente uma queda da temperatura corporal que auxilia no início do sono. Quando a temperatura ambiente se mantém elevada, há uma interferência na termorregulação do organismo. Ao invés da sensação de relaxamento habitual ao adormecer ocorre um desconforto, cansaço e incapacidade de iniciar o sono", destaca.

O recomendável é que o ar do ambiente esteja entre 15,6°C e 19,4°C, afirma a especialista. Para crianças pode ser um pouco mais elevado, já que elas apresentam mais sensibilidade às mudanças de temperatura.

Um estudo conduzido pela Escola de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade de Harvard, EUA, analisou 24 estudantes, onde quatro dormiram em quartos com ar-condicionado e outros 20 em dormitórios sem o equipamento. Ao final, os pesquisadores verificaram que os alunos que dormiram em ambientes quentes apresentaram desempenho em testes 13% pior do que os que tiveram climatização.

"Uma série de razões poderia explicar esse tipo de efeito de exposição. Não é necessariamente uma exposição direta ao calor. Ele [o calor] pode ter afetado a qualidade do sono, de modo que ficam menos descansados, têm menos energia ou recursos mentais, ou capacidade de concentração", explica a psicóloga Daisy Chang, da Universidade Michigan State.

Ainda segundo Treptow, nosso sono depende de um processo que envolve quatro fases, repetidas em ciclos durante a noite, onde cada uma delas é importante.

"Temos o sono NREM que é subdividido nas fases N1, N2 e N3 e o sono REM (fase na qual temos os movimentos rápidos dos olhos). Quando dormimos em ambientes muito quentes, ocorre a redução da fase N3, que é a mais profunda do nosso sono, muito importante para a sensação de sono reparador. Nas noites de calor, também há redução do sono REM, que é fundamental para a manutenção das funções cognitivas, como memória, criatividade e a capacidade de aprender, além de proporcionar bem-estar."