Dólar abre em alta após forte queda na véspera, acompanhando o exterior
Às 9h05, o dólar à vista tinha alta de 0,42%, aos R$ 5,301 na venda.

Foto: Agência Brasil
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após ceder mais de 1% na véspera, o dólar iniciou a quarta-feira (24) em alta ante o real, acompanhando o avanço da moeda norte-americana no exterior, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ter feito declarações consideradas cautelosas sobre o ciclo de cortes de juros nos EUA. Às 9h05, o dólar à vista tinha alta de 0,42%, aos R$ 5,301 na venda.
Na terça, o dólar teve forte queda de 1,11% e encerrou a sessão cotado a R$ 5,277 -o menor valor para a moeda norte-americana em mais de um ano. Já a Bolsa renovou o recorde de fechamento mais uma vez ao fechar em alta de 0,96%, a 146.509 pontos.
Os discursos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), realizados pela manhã, foram os principais responsáveis pelo desempenho dos ativos na sessão. Foi a primeira vez que ambos os líderes ficaram no mesmo ambiente desde que Trump aplicou sanções ao Brasil, em maio, e, antes de deixar o púlpito, o republicano afirmou que irá se encontrar com Lula na próxima semana.
Ao fim de seu discurso, marcado por críticas às Nações Unidas, Trump confirmou que se encontrou brevemente com Lula antes de subir ao palco e que houve "excelente química" entre os dois. Eu só faço negócios com pessoas que eu gosto. E eu gostei dele, e ele de mim. Por pelo menos 30 segundos nós tivemos uma química excelente, isso é um bom sinal", disse o americano, que discursou após o petista. Ele afirmou que ambos os líderes vão se encontrar na próxima semana, em um aceno à desescalada de tensões entre os dois países.
A sinalização deu fôlego para as cotações, levando o dólar à mínima em mais de um ano e a Bolsa a um novo recorde de fechamento e outro durante o período de negociações, de 147.178 pontos, atingido no pico da sessão.
"Abre-se caminho para o que não tinha acontecido até agora: Trump sentando à mesa para conversar com o Brasil. Pode ter uma flexibilidade nas tarifas de 50%, aumento da lista de isenção... Ele disse pouco, mas é uma sinalização muito valiosa", diz Daniel Teles, especialista e sócio da Valor Investimentos. O encontro aconteceu um dia após o governo Trump ampliar as sanções a autoridades brasileiras e ao entorno do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), em reação à condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão.
Ao citar o julgamento do ex-presidente no discurso, Lula defendeu a legitimidade do processo. "Bolsonaro teve amplo direito de defesa. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam", disse, em alfinetada a Trump. Ele voltou a dizer que "nossa democracia e soberania são inegociáveis".
Para José Áureo Viana, sócio da Blue3 Investimentos, o "discurso de Lula reafirmando a defesa da democracia e críticas a sanções unilaterais foi lido como esperado". "Na prática, a combinação das falas [dos dois presidentes] ajudou a criar um ambiente de alívio, reforçando a percepção de estabilidade institucional no curto prazo."
O aceno ao diálogo, mesmo após a cutucada do brasileiro ao governo norte-americano, foi "extremamente positivo" para o mercado, diz Pedro Moreira, sócio da One Investimentos. "Antes não tinha conversa entre Brasil e Estados Unidos, principalmente entre os dois presidentes, e agora há a possibilidade de ter um diálogo aberto, em que questões geopolíticas poderão ser mais entendidas mais profundamente, tanto em relação à Lei Magnitsky quanto em relação às tarifas."
Antes dos discursos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, endereçou a guerra comercial entre os dois países em entrevista ao ICL Notícias. Para ele, a imposição de sobretaxas sobre produtos brasileiros, em especial commodities, foi um "tiro no pé", uma vez que a medida, "impensada", penaliza o consumidor americano ao encarecer "o café da manhã, o almoço e o jantar".
Ele ainda ponderou sobre a taxa de juros do Brasil, mantida em 15% pelo Copom (Comitê de Política Monetária) na semana passada pela segunda reunião consecutiva."Eu entendo que tem espaço para esse juro cair. Acredito que nem deveria estar em 15%. Mas enfim, está, mas tem espaço para cair", disse, acrescentando que "boa parte do mercado financeiro" também vê espaço para queda de juros.
A fala segue a esteira da divulgação nesta manhã da ata do Copom sobre última reunião. Com a taxa Selic estacionada em 15% ao ano, o maior patamar em duas décadas, o comitê do BC (Banco Central) pretende examinar os impactos acumulados da política de juros para avaliar se o plano de conservar a taxa no atual patamar por tempo "bastante prolongado" será suficiente para levar a inflação à meta.
"Isso tende a pressionar a taxa de câmbio para baixo, embora a ata apenas expanda o que nós já vimos no comunicado divulgado após a decisão. Ainda que parte dessa conclusão já estivesse precificada, a ata reforça que os juros ficarão em um patamar estável por bastante tempo no momento em que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) retoma seu ciclo de cortes", avalia Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
No mercado cambial, essa dinâmica tende a ser uma boa notícia. Isso porque a manutenção pelo Copom e o corte pelo Fed aumentam a diferença entre os juros de lá e os daqui, e, quanto maior essa diferença, mais rentável é a estratégia conhecida como "carry trade".
Nela, pega-se dinheiro emprestado a taxas baixas, como a dos EUA, para investir em ativos com alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.
O mercado agora olha para frente, atento a novas sinalizações sobre a política monetária dos Estados Unidos. Em discurso nesta tarde, Jerome Powell, presidente do Fed, contrariou as expectativas de mais cortes nos próximos meses, afirmando que os formuladores de políticas enfrentam uma "situação desafiadora" ao decidir se priorizam o combate à inflação ou a proteção de empregos. Ele indicou que essas medidas estão longe de estarem garantidas, apesar de investidores estarem precificando mais dois cortes em 2025. O chefe do Fed disse que se os banqueiros centrais "afrouxarem de forma muito agressiva", então eles "poderiam deixar o trabalho da inflação inacabado e precisariam reverter o curso" para restaurar a taxa à meta de 2%.