Especialista em gerenciamento de crises fala sobre Covid-19

Gustavo Cunha Mello diz que pandemia de coronavírus deve ser tratado de forma técnica

Por Ticiana Cardoso, Emilly Lima
Ás

Especialista em gerenciamento de crises fala sobre Covid-19

Foto: Reprodução

Depois de viralizar na Internet e aplicativos de mensagens por ter utilizado um argumento técnico sobre os pontos do novo coronavírus (Covid-19), o economista, professor e analista de crises, Gustavo Cunha Mello, explica ao Farol da Bahia porque a população deve estar atenta ao que é divulgado sobre o vírus e como direcionar o olhar para o que não está sendo explicado pelas autoridades da Saúde e governantes.

Inicialmente, Gustavo destaca que a primeira coisa que a população deveria fazer todos os dias é pesquisar as novidades e descobertas dos cientistas e infectologistas sobre a doença. Do outro lado, ele critica a quarentena sobre não ser tão perfeita porque parte da população precisa ir ao supermercado, farmácias e até mesmo trabalhar. O que quebra o isolamento social. 

"A primeira informação que os estudiosos nos dão é que o período de encubação do vírus é de no máximo 15 dias. Quando a pessoa pega a doença, ela pode apresentar os sintomas no mesmo dia, o que é fora da média. Mas, ele também pode apresentar os sintomas depois de 15 dias, porém, no geral, as pessoas apresentam a doença em cinco dias", frisa. 

Ou seja, de acordo com o economista, o período de 15 dias definido para que a população observe sinais do coronavírus, não seria eficaz porque o período que o vírus fica no organismo é de 15 dias. Levando em consideração os cinco dias para apresentar os sintomas da Covid-19, em dez dias dias a pessoa, que acredita não estar mais com o vírus, sai da quarentena e pode acabar infectando outras pessoas. 

Mesmo após os 15 dias de quarentena, com estabelecimentos, shoppings, comércios, espaços públicos, escolas e faculdades fechadas, o número de acometidos pela doença cresceu, e essa é uma grande interrogação para o gerenciador de crises. Para ele, há dois aspectos: a população não obedeceu as orientações da quarentena ou a contaminação está sendo feita nas residências. 

Um estudo científico publicado na revista Science, no dia 16 de março, revela que 86% das infecções de coronavírus na China não foram registradas e que, dessas infecções invisíveis, 55% eram tão infecciosas quanto as detectadas. "Essas infecções não documentadas geralmente apresentam sintomas leves, limitados ou inexistentes e, portanto, não são reconhecidas e, dependendo de sua contagiosidade e número, podem expor uma parcela muito maior da população ao vírus do que ocorreria de outra maneira", informa o documento. 

De modo geral, a pesquisa indica que uma grande maioria dos infectados pela Covid-19 não foram registrados antes da adoção de restrições de viagem e isolamento social. "A alta proporção de infecções não documentadas, muitas das quais provavelmente não eram severamente sintomáticas, parece ter facilitado a rápida propagação do vírus por toda a China". 

Quarentena não cura Covid-19

Assim como os estudos, Gustavo Cunha também defende que a melhor forma de conter a disseminação do coronavírus é a realização de testes em larga escala, assim como a Coreia do Sul e outros países pequenos têm feito. 

"Não tem como acabar com a quarentena e colocar todo mundo na rua. O que precisa ser pensado é numa logística para testar a população após o fim do isolamento. Testar as pessoas no transporte público, no metrô, nos trens. E aí, se a pessoa testar positivo, precisa ser obrigada a voltar para casa, ou ficar no hospital para ser monitorada e evitar que ela entre em contato com outras pessoas", diz Cunha. 

Cunha ressalta as ações que deveriam ter sido feitas quando o Brasil teve ciência do novo coronavírus, a exemplo de intensificação de fiscalização de pessoas vindas de países com casos confirmados nos aeroportos, nas estradas que têm conexão entre o Brasil e outros países, e utilizar os equipamentos de testagens. Ele ainda explica que se o vírus já se instalou no Brasil, "não vai ser a quarentena que vai acabar com ele", por que "a quarentena tem um único e exclusivo motivo de reduzir a velocidade de transmissão para que os hospitais não fique abarrotados". Ainda segundo ele, o que precisa-se pensar e estudar são as formas de retorno dessas pessoas para as ruas. 

Economia após pandemia

"É preciso destacar que a maioria não pode ser muito extensa porque quanto mais isolamento, mais pessoas ficam desempregada", frisa Cunha ao comentar sobre a economia brasileira. Ele diz que o que as pessoas não podem deixar de fazer é cobrar dos políticos ações coletivas para que as microempresas e autônomos não fiquem prejudicados com a falta de vendas. Situação que já está sendo encaminhada pelo governo federal, que vai disponibilizar pelo período de três meses o auxílio emergencial no valor de R$ 600 para trabalhadores que não estão tendo renda neste período de pandemia. 

No entanto, as cobranças também devem ser feitas em relação aos equipamentos essenciais para que hospitais atendam a demanda dos pacientes infectados, como máscaras cirúrgicas, luvas, álcool em gel, equipamentos respiratórios e, principalmente, leitos. "Quando mais prazos de quarentena os governantes colocam, mais mostra a insuficiência deles em resolver o problema na área da saúde", afirma. 

Mas apesar do cenário da pandemia, o analista de crises, Gustavo Cunha, demonstra-se otimista com o retorno da economia. Mas ele destaca que isso só vai acontecer se os bancos realizarem os empréstimos as empresas para que elas quitem as dívidas e paguem os funcionários, já que o governo se colocou à disposição através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Tesouro Nacional. Por outro lado, isso gera um desajuste fiscal nos Estados brasileiros, mas para que isso não aconteça à longo prazo, Cunha explica que as reformas administrativas e tributárias precisam ser aprovadas. 

"Se as reformas administrativas e tributárias forem aprovadas, pode ser que o governo comece a organizar suas notas fiscais e os investidores também voltem. Há um ciclo de coisas positivas mas, para que isso possa acontecer, primeiro, os bancos precisam liberar o dinheiro e as reformas tem que sair. Se essas duas coisas acontecerem, a gente passa por essa crise econômica em um curto prazo numa boa."

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