• Home/
  • Notícias/
  • Economia/
  • Fabricantes de veículos alertam governo sobre risco de parar produção por falta de chips

Fabricantes de veículos alertam governo sobre risco de parar produção por falta de chips

Informação é da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

Por FolhaPress
Às

Fabricantes de veículos alertam governo sobre risco de parar produção por falta de chips

Foto: Hyundai Motor Group

A produção nacional de automóveis corre o risco de ser paralisada devido a uma crise global que envolve um dos maiores produtores de semicondutores do mundo. Em duas semanas, montadoras de todo o país podem interromper suas linhas de produção caso não haja uma solução clara para o impasse.

A informação é do presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Igor Calvet. "Estamos diante de uma crise que se desenha global no fornecimento de chips. Começamos a receber notificações sobre uma iminente interrupção de fornecimento de peças. A nossa indústria pode começar a parar nas próximas duas ou três semanas", disse à reportagem.

A situação crítica foi tema de uma conversa que Calvet teve nesta quarta-feira (22) com o vice-presidente e ministro do Mdic (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Geraldo Alckmin.
"Já alertei o vice-presidente Alckmin hoje sobre o que está acontecendo. Estamos desenhando a possibilidade de o próprio governo brasileiro fazer uma interlocução direta junto ao governo chinês, para que as exportações desse tipo de produto ao Brasil sejam liberadas", comentou.

A crise dos chips, desencadeada nos últimos dias, é resultado direto de disputas geopolíticas envolvendo o controle de tecnologias e de minerais críticos, como as terras raras.

No dia 12 de outubro, um domingo, o governo holandês, sob forte pressão dos Estados Unidos, assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país. Ocorre que a Nexperia é uma subsidiária do grupo Wingtech, de origem chinesa. Com a atitude, o presidente chinês da empresa foi destituído por ordem judicial, sob suspeita de transferência indevida de tecnologia para a China.

Ao assumir o controle temporário da empresa, o governo holandês alegou que havia risco de escassez de chips essenciais para a economia europeia, além de preocupações de segurança nacional. O temor é de que Pequim possa usar a companhia para influenciar ou restringir o fornecimento de semicondutores à Europa.

A resposta foi imediata. A China reagiu à intervenção holandesa e impôs restrições à exportação de componentes e tecnologias produzidas pela Nexperia em território chinês. Como consequência, essa decisão acabou limitando o envio de chips e peças que são montadas em fábricas da empresa no mundo todo.

Como o Brasil importa praticamente todos os semicondutores que usa e muitos desses componentes vêm de fornecedores que compram chips da Nexperia, o efeito em cascata já começou a se desenhar.

Nesta quarta-feira (22), o Sindipeças-Abipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), que representa toda a indústria de autopeças instalada no Brasil, enviou uma carta diretamente a Geraldo Alckmin, com a "solicitação de apoio governamental em razão da situação crítica de abastecimento de componentes fabricados pela empresa chinesa Nexperia".

No documento, ao qual a reportagem teve acesso, o Sindipeças afirma que, nas últimas semanas, já observou "uma redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais" para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia usados em veículos leves, comerciais e industriais.

"Esses componentes não possuem, no curto prazo, alternativas de fornecimento local ou regional, sendo críticos para o funcionamento de montadoras instaladas no Brasil como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai, BYD, entre outras", afirma o Sindipeças.

O sindicato fala em "risco real de paralisação de linhas de produção, impedindo inclusive o cumprimento de contratos de exportação e desaceleração de investimentos recentemente anunciados no país" e pede que o governo faça "gestões técnicas e diplomáticas junto ao governo da China, de forma a garantir a continuidade do fornecimento e a estabilidade da cadeia automotiva e eletrônica nacional".

O impacto da falta de semicondutores mexe não apenas com a indústria automotiva, mas com toda a cadeia de produtos eletrônicos, como a de celulares e computação, passando pelos setores elétrico e de eletrodomésticos.

O Mdic foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou até a publicação deste texto. Igor Calvet, da Anfavea, disse que Alckmin foi receptivo ao pleito do setor e que iria buscar informações a respeito do cenário.

"Os carros modernos têm entre mil e 3.000 chips. Portanto, é bastante semicondutor que nós utilizamos. A produção global desses componentes está muito concentrada na Ásia, em países como Taiwan, Coreia do Sul e China. Então, precisamos de ação. Sem semicondutores, não há carro. Da mesma forma que não há celular ou qualquer sistema eletrônico que funcione".

Na terça-feira (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou para uma viagem oficial de seis dias à Ásia, com compromissos na Indonésia e na Malásia. A expectativa da indústria nacional é que a crise dos chips seja discutida durante a visita.

A disputa global pelos semicondutores tem como pano de fundo a corrida pelos minerais críticos promovida por China, Estados Unidos, Japão e Europa. Quase toda a cadeia de fabricação de semicondutores, desde o wafer de silício até a embalagem final, exige diversos metais e minerais estratégicos, como as terras raras.

A produção desses minerais é altamente concentrada em poucos países, como a China, que controla grande parte da mineração, refino e processamento, influenciando diretamente as cadeias globais. Hoje a China responde por cerca de 70% da mineração mundial de terras raras, mais de 90% do refino e quase 100% da produção de ímãs permanentes, segundo informações da IEA (Agência Internacional de Energia).

Neste ano, Pequim tomou diversas atitudes para proteger sua posição. A mais recente delas ocorreu em 9 de outubro, quando a China passou a exigir licenças para tecnologias, equipamentos e materiais de refino ligados a terras raras, além de determinar que exportações para setores sensíveis, como defesa e semicondutores, seriam avaliadas caso a caso.

Os Estados Unidos reagiram, reforçando restrições à exportação de tecnologia para a China. Agora, avalia novos controles sobre softwares usados na fabricação de chips, como resposta às medidas chinesas.

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie:redacao@fbcomunicacao.com.br
*Os comentários podem levar até 1 minutos para serem exibidos

Faça seu comentário