Finados: as histórias por trás da data

Há quem goste e se divirta com a data reservada aos mortos

Por Da Redação
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Finados: as histórias por trás da data

Foto: Gilberto Júnior/Farol da Bahia

Chega o triste dia que a pessoa que você possui afeição resolve partir, assim de uma hora pra outra, sem deixar qualquer bilhete avisando que não irá mais voltar, que vocês nunca mais irão ser ver na vida. O triste dia da morte da pessoa que você considera mais próxima, ama ou admira é um sentimento forte que você carrega para si para o resto da vida. Preservar a memória dela é uma das tarefas. O ambiente cemiterial é algo que costuma dar calafrios ou remete a lembranças fortes em pessoas. Contudo, há pessoas que vivem a rotina diária de um cemitério com naturalidade.

Há diferentes casos de pessoas que conhecem cada centímetro do lugar com a palma da mão. A exemplo de Simon de Castro, há 13 anos funcionário do Cemitério do Campo Santo, no centro da capital, ele já teve que suar muito a camisa para cavar profundos buracos que seriam novos lares de pessoas de diferentes religiões, cores e etnias. As piadinhas e histórias sobre ficar perto de "gente morta" seguem até os dias atuais, mas para quem já "morreu" de trabalhar até encontrar estabilidade no emprego em um cemitério, isso é o de menos.

"Eu era camelô, trabalhava nas praias vendendo óculos de praia, se chovesse era sombrinha, quando o movimento tava muito bom era bala de gengibre. Eu tinha dois filhos para dar de comer. Quando recebi a proposta o povo falou "Ah você vai ser coveiro", eu disse "Vou sim, é um trabalho digno com outro", afirma.

Cemitério é um ambiente só para enterrar a pessoa e depois seguir a vida? Não, nem só de morte vive um cemitério, há outras tarefas rotineiras que podem ser realizadas no ambiente.

"Quem vem e olha o local percebe que é um local de paz, há pessoas que vem para o Campo Santo fazer caminhada, leitura e estudar no Campo Santo, então não é um ambiente somente daqueles que se foram e sim ambiente daqueles que estão". 

No atual mundo da tecnologia, quem diria, um QR Code nas gavetas onde os mortos estão enterrados, um modelo de sepultamento único na Bahia, que tem intenção de fazer uma linha do tempo da passagem da pessoa pela terra, podem ser inseridos vídeos, fotos e informações sobre cada ser. Os locais totalmente ecológicos, feitos de bagaço de cana, coco e garrafa pet, tudo para preservar o meio ambiente. 

Geralmente ao transitar por um cemitério, é possível notar pessoas tristes, desamparadas, e muitas das vezes chorosas por ter perdido amigos, parentes ou outros entes queridos, mas acredite, há quem ache o passeio por aquelas vastas e longas lápides e túmulos o máximo, é o caso do pequeno Emanuel, de 5 anos, ele correu pra lá e pra cá, subiu em um dos monumentos expostos pelo Cemitério, posou ao lado da escultura e deu aquele sorrisão. No final o baixinho ainda vira e fala: "Eu vou ficar aqui por um bom tempo". É melhor ir com calma, Emanuel, você ainda tem muita vida pela frente e muitos sonhos para viver até fazer parte desse ambiente.

Foto: Gilberto Júnior/Farol da Bahia

É comum ligarmos a televisão e notarmos a todo momento um conflito religioso, as vezes a intolerância é causadora deste conflito por não aceitarmos a religião oposta. Pois é, isso não ocorre na Igreja do Campo Santo quando o dia de finados chega. Todas as manifestações são bem vindas, desde o candomblé até o catolicismo, são exaltadas em harmonia, sem violência, gritos ou agressões. No final, todo mundo morre, mas tenha calma caro leitor, estamos falando é de morrer de rir, afinal tem remédio melhor para curar a tristeza do que um festival de risadas? pode até ter, só que por enquanto é bom aproveitar a vida ao máximo antes de partir.

Os mexicanos e o "dia de los muertos"

O dia dois de finados costuma ser um dia triste para os brasileiros, é aquele momento que fica difícil segurar as lágrimas ao lembrar dos entes queridos, mas há quem comemore a data como se fosse um dia de muita felicidade. Sabe onde eles estão? Bem ali na América Central, são os mexicanos, grandes entusiastas e celebradores da animada data chamada "dia de los muertos". É aquele momento que as pessoas se fantasiam de morte, com máscaras de caveiras, chapéus icônicos e roupas esqueléticas. Há ainda diferentes elementos simbólicos para relembrar a memória daqueles que se foram, quem revela isso é José Gonzalez, um funcionário do governo mexicano, que costuma estar presente nos festejos para relembrar a memória dos avós e tios

Confira alguns dos objetos citados por José e os significados:

Água: reflete a pureza da alma, a vida contínua e a regeneração da vida; Um vaso de água serve para ajudar o espírito a aliviar a jornada pelo mundo;

Comida e bebida: as comidas tradicionais são o que agradará ao falecido, que será colocado no altar para que a alma que o visite possa apreciá-lo;

Copal e incenso: copal é um elemento pré-hispânico que limpa e purifica as energias de um lugar e as que ele usa; O incenso santifica o meio ambiente; 

Papel picado: é considerado uma representação da alegria festiva do Dia dos Mortos e do Vento.

Foto: Reprodução

Celebrar o dia que os entes queridos partiram. Para alguns, uma forma de desrespeito a memória daqueles que se foram, mas não para os mexicanos, só que nada adianta um simples brasileiro explicar explicar isso, porque celebrar essa data José? peço aqui até licença ao saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade e parafrasear um trecho de um dos tantos lindos poemas desse grande ícone da literatura brasileira, e agora José? explique o motivo.

"Porque há uma crença de que nossos entes queridos que partiram, voltam para nos visitar e ver nas ofertas que colocamos todas as coisas que eles gostaram na vida, objetos, comida, bebida, mas a coisa mais importante que eles não esqueceram. Nos cemitérios, eles passam a noite cantando e saboreando, porque ainda há memória e é o dia em que você pode, de alguma forma, morar com eles novamente".

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