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'Fragmentos de Memória': exposição gratuita em shopping de Salvador reconstitui rostos de pessoas escravizadas através da IA

A ação integra o calendário do Novembro Negro e eleva a iniciativa de reparação histórica e a busca por justiça

Por Giovanna Amorim
Às

Atualizado
'Fragmentos de Memória': exposição gratuita em shopping de Salvador reconstitui rostos de pessoas escravizadas através da IA

Foto: Farol da Bahia

Salvador é a cidade mais negra fora do continente africano, mas quando se fala de registros históricos do povo negro, ainda se sabe muito pouco, restando somente fragmentos de um cenário de extrema violência e apagamento. Pensando nisso, a Fundação Pedro Calmon, por meio do Arquivo Público do Estado da Bahia, está apresentando a exposição 'Fragmentos de Memória', no segundo piso do Shopping da Bahia, gratuitamente até o dia 30 de novembro.  

O acervo é composto por rostos de pessoas que foram escravizadas e libertas da Bahia Colonial e Imperial. As fisionomias foram reconstituídas através da Inteligência Artificial, a partir dos documentos como o passaporte dessas pessoas, dando início a um novo patamar de reparação histórica. O diretor do Arquivo Público do Estado da Bahia, Jorge X, conta que a ideia surgiu a partir da percepção que a população não negra solicitava muitas certidões para a garantia de direitos. 

Ele documento principal aquele que permitia que essas pessoas tivessem dupla cidadania, no entanto, a população negra não tem acesso aos arquivos que contam a sua origem. Ele questiona: "'Por que a população negra não vai até o Arquivo Público para descobrir a sua ancestralidade?' Nós sabemos o porquê: foi a violência do colonialismo e do racismo. E ai nós começamos a nos perguntar como podemos dinamizar esse espaço de memória." 

Jorge também reforçou que a memória do povo negro registrada em documentos é muito fragmentada. "O sobrenome não existia, o nosso nome ancestral também foi 'aportuguesado'. Nós dinamizamos utilizando a inteligência artificial e criando a exposição "Fragmentos de Memória". 

O diretor-geral da Fundação Pedro Calmon, Sandro Magalhães, afirmou que a ideia foi desenvolvida por pesquisadores, arquivistas e historiadores do arquivo que idealizaram a relação com os documentos de pessoas escravizadas, como passaportes, livros de notas de compra e venda de escravizados, inventários, cartas de alforria; todos que continham uma descrição textual da fisionomia dessas pessoas com a construção de um rosto utilizando a IA. 

"A exposição Fragmentos de Memória é um espaço para reforçar a representatividade. É para relembrar a história, a ancestralidade do nosso país, em especial aqui do nosso estado da Bahia", ressaltou o diretor. 

A ação integra o calendário do Novembro Negro, que tem como objetivo ressaltar a conscientização da população sobre a violência racial, o combate ao racismo e o incentivo à busca por justiça. O secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro, reforça a importância da preservação e resgate da memória, principalmente, no estado e cidade mais negra fora do continente africano. 

"Nós estamos trazendo os rostos, as imagens, a força do olhar de pessoas, de seres humanos que viveram todas as mazelas do horror, da desumanidade que foi a escravidão a partir dos poucos registros que se tinham sobre suas histórias, sobre a sua descrição, sobre a sua fisionomia com o uso da inteligência artificial a serviço da preservação da nossa memória", disse o secretário. 

Bruno também afirma que a exposição no shopping faz com que as pessoas se reconheçam "nesses olhares e nessas histórias". Ele diz que a exposição já está provocando um grande impacto nas pessoas que passam pelo espaço e gera um empoderamento para que a população siga em frente. 

A cantora Sátyra Carvalho afirmou que a exposição causou um sentimento de reconexão ancestral e familiar com o acervo. Ela contou que ficou arrepiada com a força que as imagens mostram. "As nossas raízes estão aqui expostas nestes quadros". 

Já Marcio Rebouças afirmou que a exposição traz dignidade e visibilidade para as pessoas que foram escravizadas. Ele ainda ressaltou que tem todas as informações possíveis dos colonizadores, e dos escravizados não tinha quase nada. 

"Como o próprio nome diz, eram só fragmentos. Então, este projeto é extremamente importante pois ele dá dignidade a rostos que ficaram esquecidos pelo tempo, infelizmente", concluiu ele. 

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