Investimentos no exterior disparam em 2021 com juros baixos

Investimentos no primeiro trimestre já somam metade de todo o resultado de 2020

[Investimentos no exterior disparam em 2021 com juros baixos]

FOTO: Agência Brasil

Atualmente, o cenário de incertezas no Brasil e a baixa taxa de juros, aliados ao acesso facilitado a aplicações no exterior, vêm aumentando os investimentos dos brasileiros em ativos financeiros de outros países. No total, os investimentos de brasileiros em ações no exterior no primeiro trimestre já somam metade de todo o resultado de 2020. São US$ 1,57 bilhões de janeiro a março deste ano ante US$ 3,08 bilhões no ano passado. Na moeda brasileira, são R$ 8,65 bilhões em 2021 contra R$ 16,02 bilhões em todo o ano de 2020, e que por sua vez equivalia a oito vezes a remessa de R$ 1,99 bilhões realizada em 2019.

Esse movimento de investimentos no exterior pode ser observado em várias categorias de investimentos, como ações compradas diretamente no exterior, fundos que investem lá fora e recibos de ações estrangeiras (BDRs) e fundos de índice internacionais que agora estão acessíveis por meio do homebroker das corretoras.  "A taxa de juros em 2016 estava em 14% ao ano. O investimento para o brasileiro era o CDI [índice de referência para renda fixa que acompanha a Selic]. Aí o juro caiu para 2% ao ano e começaram a perceber que o CDI não estava mais fazendo a função de investimento e foi rapidamente se transformando em gestão de liquidez", disse Eduardo Camara Lopes.

Com exceção de um breve período em 2015 e entre abril de 2016 e março de 2017, as compras de ações por brasileiros no exterior vêm superando as vendas dos papéis há pelo menos oito anos, tendo alcançado um pico de R$ 22,29 bilhões no acumulado em 12 meses até março. Para entender a dimensão desse valor, os investimentos de brasileiros no exterior nos últimos 12 meses já correspondem a mais de um terço de todo o estoque aplicado nos conservadores títulos do Tesouro Direto.

E os investidores têm remetido dinheiro para investir lá fora não apenas para comprar papéis de empresas estrangeiras, como também de companhias brasileiras que abriram capital em bolsas dos Estados Unidos, como foram os casos de PagSeguro, Stone e XP. "São marcas grandes e muito conhecidas da vida das pessoas", diz Roberto Lee, presidente da Avenue, corretora americana que tem os brasileiros como principais clientes, e que prevê uma continuidade do movimento forte de internacionalização dos investimentos em 2022 e 2023. 

Investindo indiretamente

O acesso direto ao mercado internacional vem sendo facilitado nos últimos anos com o surgimento de mais corretoras que oferecem essa possibilidade, taxas menores e baixo valor de aplicação mínima. Contudo, não é preciso fazer esse movimento se o investidor não quiser, já que as alternativas para investir lá fora de forma indireta também cresceram.  O número de investidores em fundos internacionais, por exemplo, saltou 70% desde o fim do ano passado até abril, quando somava 344 mil cotistas, o equivalente a 23,3% dos investidores ativos do Tesouro Direto. 

O acesso mais democrático à internet colaborou com a evolução do mercado. "Houve simplificação da comunicação com os investidores, temos novas vozes no mercado, como influenciadores, novos veículos de imprensa e remodelagem dos antigos nessa dura missão de simplificar esse modelo de investimento, que era muito elitizado", diz Carlos Takahashi, presidente da BlackRock Brasil.

Com mais conhecimento, os investidores só precisavam encontrar maior acesso para alocar seu dinheiro de forma simplificada e sem precisar começar com grandes aportes. Assim, foi a maior abertura regulatória do acesso de pequenos investidores a ativos atrelados ao exterior, a ponte mais recente para o aumento da diversificação da carteira dos brasileiros.

Com mais oportunidade, outras pessoas conheceram novas possibilidades de investimentos. O maior exemplo disso foi a liberação, em 22 de outubro de 2020, das negociações de BDRs para pequenos investidores, que passaram a poder investir de forma simplificada em empresas conhecidas como Google, Apple e Amazon. Até então, apenas pessoas com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras podiam fazer esses investimentos. Também foram liberados os BDRs de ETFs na B3, a bolsa brasileira.

A BDR é uma sigla em inglês para Brazilian Depositary Receipts, ou seja, recibos de ações de empresas estrangeiras ou de outros títulos negociados em bolsas lá de fora. O investidor que compra um BDR está investindo de forma indireta em ativos internacionais. O ETF é uma sigla para Exchange Traded Fund, também conhecido como fundo de índice. Parece complicado, mas é simples entender: são fundos de investimento que replicam o desempenho de índices internacionais, como o S&P 500, por exemplo. O BDR de ETF é um investimento num fundo de índice do exterior.

Foram duas grandes portas abertas e o investidor, mais uma vez, respondeu positivamente. O volume de estoques de BDRs era de R$ 14,3 bilhões no fim de 2020 e passou para R$ 21,2 bilhões em março deste ano, um avanço de 48,3%. O volume médio de operações diárias multiplicou por mais de três vezes, passando de R$ 115 milhões em 2020 para R$ 351 milhões neste ano.
 


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