Iphan interdita área onde funcionava cemitério de escravizados em Salvador
Local pode abrigar mais de 100 mil corpos

Foto: Divulgação
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) determinou, nesta quarta-feira (29), a interdição da área onde funcionava um antigo cemitério de pessoas escravizadas em Salvador. A decisão visa garantir a preservação do sítio arqueológico, localizado no estacionamento da Pupileira, administrado pela Santa Casa de Misericórdia, no centro da cidade.
De acordo com o órgão, o local deverá ser desocupado para que as pesquisas arqueológicas possam continuar. O Iphan avalia ainda a possibilidade de transformar o espaço em um centro de memória, já que o cemitério pode ser o maior da América Latina dedicado a pessoas escravizadas.
O sítio foi identificado pela arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, durante seu doutorado na Universidade Federal da Bahia (UFBA). A pesquisadora comparou mapas históricos de Salvador com imagens de satélite e confirmou a existência do cemitério. As escavações começaram em maio deste ano, e logo nos primeiros dias foram encontrados fragmentos de porcelanas e, posteriormente, ossadas humanas datadas do século 19.
O relatório técnico que embasou a decisão foi apresentado no dia 21 de outubro e contou com a presença de representantes do Iphan, do Ministério Público da Bahia, da Fundação Gregório de Matos e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).
Segundo o Iphan, o uso do espaço como estacionamento tem causado danos ao patrimônio arqueológico. “A circulação de veículos pressiona as camadas de aterro, fragmentando e acelerando a destruição dos restos ósseos”, aponta o órgão.
Os registros históricos indicam que o cemitério funcionou por cerca de 150 anos, até 1844, quando a Santa Casa passou a administrar o Cemitério Campo Santo. No local, eram enterradas principalmente pessoas escravizadas, além de indígenas, ciganos e indivíduos sem condições de arcar com os custos de sepultamento.
Pesquisas também apontam que o espaço pode abrigar corpos de participantes da Revolta dos Malês, da Revolta dos Búzios e da Revolução Pernambucana. Os sepultamentos, segundo os estudos, ocorriam em valas comuns e de forma superficial, sem qualquer cerimônia religiosa.
LEIA MAIS:


