Levantamento indica que Covid-19 mata mais jovens no Brasil

Mortalidade até 35 anos é 65% maior que nos países ricos

Por Da Redação
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Levantamento indica que Covid-19 mata mais jovens no Brasil

Foto: Reprodução

A mortalidade por Covid-19 entre os jovens brasileiros é quase dois terços superior à verificada nos países ricos, revela uma análise feita para o G1 pelo demógrafo francês Christophe Guilmoto, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) da Universidade de Paris. Proporcionalmente, há também mais mulheres entre as vítimas brasileiras do novo coronavírus, embora em todos os países a maioria dos mortos seja masculina. 

Em estudo preliminar divulgado semana passada no repositório MedRxiv, Guilmoto analisou a mortalidade da doença em 19 países, responsáveis por quase 80% do total de mortos no planeta. Para nove deles – oito na Europa, além dos Estados Unidos –, investigou as mortes por sexo e por faixa etária. A pedido do G1, ele incluiu em sua análise os dados brasileiros das mortes por Covid-19, distribuídos por sexo e faixa etária segundo as informações disponíveis no Portal da Transparência do Registro Civil.

O demógrafo explica que para concluir que a doença mata mais jovens, não basta calcular, para cada país, a proporção de jovens sobre o total de mortos. Não basta dizer que 6% dos mortos brasileiros têm menos de 35 anos, ante menos de 1% dos americanos. É preciso levar em conta que, num país com mais jovens como o Brasil, é esperado que jovens morram em maior proporção do que num país onde a pirâmide etária abriga uma fatia maior de idosos.

Segundo Guilmoto, o certo é comparar não quantos jovens ou idosos há no total de mortos, mas a mortalidade pela Covid-19 nas diferentes faixas etárias. No Brasil, até os 35 anos, a doença mata aproximadamente 5,9 pessoas por milhão (6,5 homens por milhão e 5,2 mulheres por milhão). Nos demais nove países analisados por ele, nessa mesma faixa etária, a Covid-19 mata 3,5 pessoas por milhão (4,7 homens por milhão e 2,4 mulheres por milhão). A mortalidade pela Covid-19 entre os jovens brasileiros é, portanto, 65,4% superior à registrada nos países ricos.

Os demógrafos, para analisar as diferentes causas de morte, avaliam o impacto que anos a mais de vida representam nos índices de mortalidade. 
“Uma medida simples é saber em quantos anos a mortalidade é multiplicada por 10. Na minha amostra, são exatamente 20 anos. Quer dizer que eu tenho dez vezes menos risco de morrer de Covid do que quem tem 20 anos a mais”, diz Guilmoto.

A inclinação do gráfico, chamada “gradiente etário da mortalidade”, é a medida correta de quão letal é uma doença para as diferentes faixas de idade. “A taxa de mortalidade geral no Brasil decuplica em 40 anos, então o gradiente da Covid – quase 30 anos – continua acentuado, mas bem menos que noutros países”, afirma Guilmoto.

Ele calculou ainda as diferenças na mortalidade entre os sexos, também levando em conta faixas etárias. Em todos os países, a Covid-19 mata mais homens que mulheres. Na Europa e nos Estados Unidos, essa proporção é superior ao dobro para todas as faixas etárias entre os 30 e os 85 anos. No Brasil, há novamente um abrandamento na curva. Embora a mortalidade masculina ainda seja bem maior, ela só alcança o dobro na faixa em torno dos 55 anos.
 

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