Museu do Recôncavo da Bahia reabre após 25 anos fechado e com reflexão sobre o passado escravocrata
Reabertura ocorreu nesta segunda-feira (8). Equipamento vai funcionar de quarta a domingo, das 10h às 17h, com acesso gratuito.

Foto: Jóa Souza/ GOVBA
O Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, localizado às margens da Baía de Todos os Santos, na Enseada de Caboto, em Candeias, reabriu ao público nesta segunda-feira (08). O espaço está disponível, com acesso gratuito, de quarta a quinta-feira, das 10h às 17h.
A cerimônia de abertura reuniu autoridades, lideranças comunitárias e grupos culturais, lideranças indígenas, e o cantor Lazzo Matumbi, que fez o show comemorativo. Estiveram presentes o governado do estado Jerônimo Rodrigues (PT) e o Secretário da Cultura do estado, Bruno Monteiro.
Segundo a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), o Museu ressurge com um novo conceito, que privilegia narrativas africanas e indígenas e propõe uma reflexão crítica sobre o período colonial e escravocrata no Recôncavo Baiano.
O equipamento oferta visitas guiadas com monitores especializados, audioguia em Libras, banheiros acessíveis e áreas de descanso, além de espaços para residências e ocupações. O percurso, inclui a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Freguesia, com duração média de duas horas.
O equipamento está localizado no antigo Engenho Freguesia, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1940.
O Museu do Recôncavo foi criado no início da década de 1970 e ocupa um conjunto arquitetônico formado por Casa Grande, capela, antiga fábrica, receptivo náutico e edificações de apoio. O investimento total para requalificação e restauro ultrapassou R$42 milhões.
"Este museu não é apenas um prédio restaurado. Ele representa nossa luta por reconhecer as histórias que sempre estiveram aqui, mas não eram contadas. Queremos que os estudantes, principalmente, venham, conheçam, debatam e façam sua própria leitura desse passado", afirmou o governador.
Exposições
o Museu conta com cinco núcleos expositivos, além da Capela de Nossa Senhora da Conceição da Freguesia, com exposição de arte sacra, e o térreo para exposições temporárias de longa duração.
O núcleo ainda inclui a mostra colaborativa Fragmentos do Passado, montada com a participação dos atuais trabalhadores do museu, que receberam uma homenagem do governador. A mostra reúne restos de móveis, ferramentas e objetos encontrados durante as obras e expostos de modo que remete a uma sala de ex-votos.
“São fragmentos que contam histórias de trabalho, criatividade e resistência. A curadoria parte da ideia de ex-votos, reinterpretada como gesto de memória e reconhecimento”, explica Daniela Steele, artista plástica e coordenadora do projeto expográfico.
No térreo, está a exposição temporária de longa duração “Encruzilhadas”, que reúne obras de arte negra brasileira e africana dos acervos do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) e do Solar Ferrão. São 40 artistas representados, entre eles Mestre Didi, Pierre Verger, Rubem Valentim, Juarez Paraíso, Emanoel Araújo, Bel Borba, Arlete Soares e Alberto Pitta. A mostra inclui, ainda máscaras da Coleção Cláudio Masella, industrial italiano que reuniu peças de 18 etnias de 15 países.
Histórico
Em 1877, 121 pessoas escravizadas atuavam no local. Herdeiro do casarão, o historiador José Wanderley Pinho — professor, prefeito de Salvador e deputado federal — propôs uma das primeiras iniciativas de proteção ao patrimônio cultural no Congresso.
Embora a proposta tenha sido interrompida pela dissolução do Parlamento em 1930, o texto serviu de base para a futura legislação de proteção ao patrimônio cultural e inspirou a criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1937.


