No dia 5 de dezembro de 1972, o ferry-boat Agenor Gordilho inaugurava a sua primeira viagem na travessia entre o Terminal São Joaquim, em Salvador, e o Terminal Bom Despacho, na Ilha de Itaparica. Durante 45 anos, esse movimento de bate e volta pôde ser vivenciado por turistas e moradores da capital baiana até o final de 2017. 

Com 71 metros de comprimento e 19 metros de altura, o ferry, que é considerado um dos mais antigos do sistema da travessia, tinha capacidade de levar até 600 passageiros por viagem, além de espaço para 90 veículos. Mas, após entrar no período de "aposentadoria", a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos (Agerba), decidiu que, pela idade, não seria mais recomendado a sua reforma. 

Programado há pouco mais de um ano para afundar nas águas baianas, o ferry precisou ser suspenso em razão de pendências por parte da empresa responsável pela operação, que não atendeu a um dos itens nas Normas da Autoridade Marinha (Normam). Contudo, a expectativa de mergulhadores, turistas e pescadores baianos voltou à tona, isso porque o transporte marítimo Agenor Gordilho e o rebocador Vega devem naufragar neste sábado (21), a partir das 11h, nas intermediações do Yacht Club da Bahia, em Salvador. As embarcações vão submergir a uma profundidade aproximada de 36 metros, com diferença de tempo de uma hora.

A iniciativa é da Secretaria do Turismo do Estado da Bahia (Setur-BA), que visa incrementar o turismo náutico na Baía de Todos-os-Santos, proporcionando uma atração turística náutica, além de favorecer para o habitat marinho, onde a expectativa é que em até um ano, a embarcação esteja repleta de vida marinha, com corais, algas e diversos tipos de espécies.

“Com o afundamento do ferry, estamos fomentando o turismo de mergulho, atividade que, segundo a Associação de Mergulhadores da Bahia, forma mais de 6 mil profissionais por ano no Brasil e atrai anualmente mais de 350 praticantes à BTS [Baía de Todos-os-Santos] – número que deverá aumentar 300% com estas novas opções de exploração submarina. O mergulhador, em geral, tem alto poder aquisitivo e forma uma classe que, no mundo inteiro, é ávida por viajar atrás de novos pontos de mergulho”, comentou o secretário da pasta, Fausto Franco. 

Para que o afundamento do transporte não seja um agressor do meio ambiente, estudos prévios de localização e de impactos ambientais foram realizados. Óleos e combustíveis da embarcação foram removidos para atender às especificações ambientais, além de peças que podem oferecer riscos aos mergulhadores.

Expectativa 

Para o operador de mergulho, Robson Oliveira, da Submerso Esportes Aquáticos, o adiamento do afundamento chegou a causar frustração, mas por outro lado, aumentou ainda mais a expectativa entre os profissionais de mergulho, que até então, contam apenas com naufrágios de destroços de embarcações no fundo do mar. "A proposta desse naufrágio é termos uma embarcação inteira, não somente destroços para formação de recifes artificiais e é de muita importância, pois esse tipo de coral, além de proteger a vida marinha da pesca de arrasto, cria uma área de refúgio para proteção e alimentação de dezenas de espécies criando um ambiente complexo de grande biodiversidade", disse. 

Próximo do Farol da Barra, está o navio Galeão Sacramento, que naufragou em 1668, além dos vapores Germania (1876) e Bretagne (1903), e segundo Robson, Salvador tem grandes chances de ser colocada como uma das melhores rotas de turismo para esse tipo de mergulho. "Desde que o naufrágio histórico do Cavo Artemidi, que era o maior da América Latina, ser coberto por um banco de areia, Salvador tinha saído do roteiro de turismo dos mergulhadores pelo mundo. Mas com esse naufrágio, há um potencial de reinserção da capital baiana nesta rota de turismo, fomentando ainda mais a economia local direta e indiretamente", opinou.