A Doença de Alzheimer, responsável por 60% a 70% dos casos de demência no mundo segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atinge atualmente cerca de 1,2 milhão de brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). Até pouco tempo atrás, o tratamento se limitava a amenizar os sintomas, sem alterar o curso da enfermidade. Agora, um novo medicamento aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abre caminho para uma mudança significativa: ele é capaz de retardar a progressão da doença.
A novidade ganha ainda mais relevância neste mês, em que se celebra o Dia Mundial e Nacional de Conscientização da Doença de Alzheimer, em 21 de setembro. A data chama atenção para a necessidade de informação, diagnóstico precoce e avanços terapêuticos — pontos que se tornam ainda mais atuais diante da chegada dessa nova terapia. “O que tem de muito novo nesse tratamento é que é um remédio capaz de reduzir a progressão do Alzheimer. Os estudos mostraram que os pacientes declinaram, mas de forma muito mais lenta em comparação aos que não usaram a medicação. Por isso, recebeu a autorização dos órgãos reguladores, tanto da FDA, nos Estados Unidos, quanto da Anvisa aqui no Brasil”, explica o neurologista Ricardo Alvim, coordenador da equipe de Neurologia do Hospital Mater Dei Salvador e especialista em Alzheimer e outras demências.
Segundo o especialista, trata-se de um marco histórico. “Pela primeira vez, temos uma terapia que atua diretamente no processo neuropatológico da doença, reduzindo os depósitos de proteínas que levam à morte dos neurônios e ao declínio cognitivo. Isso é revolucionário”, destaca.
Apesar do avanço, o tratamento é indicado apenas para fases iniciais da doença, exige exames de neuroimagem e avaliação genética, e pode apresentar riscos em determinados perfis de pacientes. “Não é uma medicação para todos os casos, mas representa uma esperança inédita e concreta para aqueles que se encaixam nos critérios clínicos”, acrescenta Dr. Alvim.
O impacto desse avanço ultrapassa o aspecto clínico. Com o envelhecimento populacional, estima-se que o número de pessoas com Alzheimer triplique até 2050, segundo a OMS. O Brasil, que já tem mais de 30 milhões de idosos, verá crescer a pressão sobre famílias, cuidadores e o sistema de saúde. Nesse cenário, terapias capazes de retardar o declínio cognitivo podem significar mais tempo de autonomia e qualidade de vida para milhões de pacientes.
Outro ponto ressaltado por especialistas é a importância da conscientização e do diagnóstico precoce. Muitos pacientes chegam ao consultório em fases avançadas, quando as opções terapêuticas são limitadas. “Identificar os sinais iniciais, como perda de memória recente, dificuldade em executar tarefas cotidianas e alterações de comportamento, é essencial para que possamos intervir no momento certo e oferecer os tratamentos mais eficazes”, conclui o Dr. Ricardo Alvim.