O Memorial de Mãe Stella de Oxóssi vai impulsionar o turismo da Bahia

Confira o artigo de Valdenor Cardoso

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Atualizado
O Memorial de Mãe Stella de Oxóssi vai impulsionar o turismo da Bahia

Foto: Ascom/MinC

Nascida em Salvador, em 1925, bisneta da africana Maria Conibabê, Mãe Stella de Oxóssi completaria cem anos no dia 2 de maio deste ano.

Considerada uma das mais importantes líderes religiosas do Brasil, ela também se tornou um símbolo da cultura nacional. Além de seu papel religioso, dedicou-se à literatura e à luta contra o preconceito e a intolerância religiosa. Mãe Stella foi Ialorixá, enfermeira, educadora, griotte e escritora. Mulher doce e carinhosa, foi também uma intelectual de posições firmes e independentes, defendendo com vigor as tradições e os direitos do povo preto, bem como a autonomia do culto aos Orixás. Escreveu um manifesto contundente contra o sincretismo religioso entre o candomblé e o catolicismo, e, por outro lado, é autora do artigo “A maleta do Papa”, no qual traça um perfil justo e emocionante do Papa Francisco.

Herdeira das raízes africanas, Mãe Stella conheceu o candomblé por meio de sua tia, Dona Arcanja, e foi iniciada aos 14 anos por Mãe Senhora, quando recebeu o nome Odé Caiodê, que significa “caçador de alegrias”. Em 1976, foi escolhida como sucessora de Mãe Ondina de Oxalá para liderar o Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais respeitados terreiros do Brasil e do mundo, localizado em Salvador. Sob sua liderança, o templo não só preservou suas tradições, como também ganhou projeção nacional e internacional. Para Mãe Stella, a religião deveria dialogar com a ciência, a educação e a cultura. “O que a gente não escreve, o tempo leva”, dizia.

Mãe Stella rompeu o silêncio que cercava os terreiros em tempos de discriminação e invisibilidade. Publicou livros, artigos e participou de debates que ajudaram a esclarecer e valorizar o candomblé. Obras como “E daí aconteceu o encanto”, “Meu tempo é agora” e “Òsósi – O Caçador de Alegrias” marcaram sua trajetória como escritora, ao revelar os fundamentos da religião e trazer reflexões sobre a vida, resistência e ancestralidade.

Sua atuação ultrapassou os limites do espaço religioso e acadêmico. Mãe Stella tornou-se uma referência na luta contra a intolerância religiosa e o preconceito, defendendo com coragem o direito à liberdade de culto e o reconhecimento do candomblé como patrimônio cultural brasileiro. Em um país ainda marcado pelo racismo religioso e por preconceitos de toda ordem, sua voz continua a orientar e sustentar aqueles que enfrentam discriminação.

Celebrar o centenário de Mãe Stella é mais do que reverenciar sua história. É um convite à ação, à preservação da cultura afro-brasileira, à valorização dos terreiros e ao combate às discriminações que ainda persistem. Sua luta pela dignidade do povo de todas as raças e religiões continua viva e necessária.

Cem anos após seu nascimento, o legado de Mãe Stella inspira religiosos, intelectuais, ativistas e jovens a seguirem firmes na defesa da ancestralidade, da tradição e da transformação social. Ela ensinou que a sabedoria dos antigos não é apenas memória, mas uma força ativa que guia o presente e abre caminhos para o futuro.

Sob sua liderança, o Ilê Axé Opô Afonjá firmou-se também como centro de promoção da cultura afro-brasileira, com ações que abrangem a educação e as artes. Fundou a Escola Eugênia Anna dos Santos, o Museu Ilé Ohun Lailai e a Biblioteca Maria Stella de Azevedo Santos, equipamentos culturais construídos dentro do terreiro e abertos ao público em geral. Demonstrando sua contemporaneidade, criou ainda um canal digital no YouTube, provando a verdade da expressão “seu tempo é agora”.

Ela, como poucos, soube viver o seu tempo, mas seu exemplo e ensinamentos se espalharam além de sua época e permanecem eternos. Sua voz ecoa nos terreiros, nas escolas, nas manifestações culturais e nas lutas por direitos. Homenagear Mãe Stella em seu centenário é manter essa personagem viva e, na acepção da palavra, imortal – não apenas um título que lhe foi conferido pela Academia de Letras da Bahia, mas uma transformação contínua na vida de pessoas e da sociedade.

Para além de sua importância religiosa, acadêmica e social, Mãe Stella também contribuiu para fortalecer o turismo da Bahia. Sob seu comando, o Ilê Axé Opô Afonjá tornou-se um destino cultural visitado por pesquisadores, estudantes e turistas do Brasil e do exterior. Sua visibilidade nacional e internacional fortaleceu a imagem da Bahia, fazendo com que os visitantes passassem a enxergar Salvador não apenas pelo sol, pelas praias e belas paisagens, mas também pela oportunidade de vivenciar de perto os rituais, a música, a dança e a filosofia que ela preservou e divulgou.

Esse reconhecimento da cultura afro-brasileira, levado ao mundo por seus discípulos – entre eles Jorge Amado, Carybé e Dorival Caymmi, os três magníficos Obás de Xangô – impulsionado por sua liderança, ajudou a consolidar a Bahia como referência em turismo cultural, onde a herança africana é celebrada como um dos principais atrativos do estado.

Neste ano de comemorações pelo seu centenário, cresce o movimento para que o Governo do Estado da Bahia implante e inaugure o Memorial das Matriarcas, na casa onde Mãe Stella nasceu e viveu até os cinco anos. A iniciativa reforçará ainda mais a importância de sua história para o Brasil, transformando o local em um ponto de visitação para pessoas de todo o mundo, fortalecendo o afro-turismo e o turismo religioso e cultural em nosso estado.
 

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