ONU defende diálogo com talibãs para evitar milhões de mortes no Afeganistão
António Guterres deseja 'um governo inclusivo'

Foto: Divulgação/ONU
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu na última quinta-feira (9), em entrevista à agência de notícias France-Presse, que a comunidade internacional mantenha diálogo com os talibãs. Segundo ele, esse contato é importante para evitar o colapso econômico no Afeganistão, com milhões de mortes. "É preciso manter um diálogo com os talibãs, no qual afirmamos os nossos princípios de forma direta, no sentido de solidariedade com o povo afegão. Nosso dever é estender a solidariedade a um povo que sofre enormemente, onde milhões e milhões estão em risco de morrer de fome", disse.
António Guterres afirmou que a ONU quer "um governo inclusivo", no qual a sociedade afegã esteja amplamente representada e "este primeiro governo provisório", anunciado há alguns dias, "não dá essa impressão". "É preciso respeito pelos direitos humanos, pelas mulheres e jovens. É preciso que o terrorismo não tenha base no Afeganistão para lançar operações em outros países e é preciso que os talibãs cooperem na luta contra a droga", afirmou.
Além disso, ele garantiu que a ONU quer que o Afeganistão possa "ser governado em paz e com estabilidade". Para que esse caminho se torne possível, Guterres considerou imprescindível o envolvimento positivo do Talibã. "Os talibãs devem estar envolvidos para que o Afeganistão não seja um centro de terrorismo, para que mulheres e jovens não percam todos os direitos adquiridos durante o período anterior e para que os diferentes grupos étnicos se sintam representados", disse.
Na última terça-feira (7), o grupo extremista anunciou um governo provisório totalmente masculino para o Afeganistão, com veteranos de sua linha dura, que governou o país entre 1996 e 2001, e da luta de 20 anos contra a coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, que terminou em agosto. Segundo o secretário, o governo provisório talibã ainda não foi reconhecido internacionalmente, mas é preciso "evitar uma situação de colapso econômico que pode ter consequências humanitárias terríveis". Para Guterres, "é do interesse da comunidade internacional medidas específicas para permitir que a economia afegã respire''.