Perfil de mortos pela Covid-19 mantém pobres como maiores vítimas da pandemia
Dados de 50 UTIs revelam que mais de 60% dos internados são homens

Foto: Reprodução/Agência Brasil
O Brasil é o segundo país no mundo em números de mortos pela Covid-19. Desde o começo da pandemia, pesquisadores e médicos fazem levantamentos para traçar as particularidades das vítimas. A pandemia por aqui tem cara, sexo, raça, nível de escolaridade e classe social. Segundo Alexandre Biasi, diretor de Pesquisa e médico intensivista do Hospital do Coração (HCor) de São Paulo, o aumento das taxas de mortalidade não alterou o perfil dos doentes nas duas ondas da pandemia.
De acordo com dados de 50 Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) do Brasil, sendo 70% hospitais públicos e 30% privados, divulgados pelo projeto "Impacto MR" do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), na última quarta-feira (3). A média de idade era de 64 anos, sendo 60,5% homens e 39,5% de mulheres.
Entre as comorbidades, cerca de 33,6% têm diabetes, 56,4% são hipertensos, 5,9% fumantes e 15,5% têm alguma doença cardiovascular. 44,8% dos indivíduos tinham precedência de casa sem home care antes da admissão na UTI; 21,4% foram transferidos de UPAs, 29,7% de outro hospital ou serviço de saúde, 2,4% hospital de retaguarda, 0,9% de casa de repouso e 0,8 casa com home care.
A Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares divulgou, em fevereiro, um estudo feito pelas pesquisadoras Ligia Bahia e Jéssica Pronestino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Elas analisaram dados da PNAD Covid-19 e do banco de internações de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e concluíram que há desigualdades relativas à testagem, letalidade e óbito de acordo com a renda, cor de pele e escolaridade da população.
Entre os brasileiros que apresentaram sintomas da SRAG e fizeram o teste da Covid-19, 9,9% tinham renda entre meio e um salário-mínimo; 14,9,9%, entre um e dois salários-mínimos e 29,3%, dos que ganhavam quatro ou mais salários-mínimos. As pesquisadoras verificaram que a taxa de letalidade varia de acordo com o nível de escolaridade do paciente.
Entre os pacientes sem escolaridade, 71,3% morrem; para os que cursaram até o nível fundamental I a taxa cai para 59,1% e para 47,6% entre os que cursaram até o fundamental II. Nos níveis médio e superior, a letalidade despenca para 35% para quem tem nível médio e para 22,5% para os de nível superior. A cor da pele também interfere na taxa de letalidade, que é de 56% nos pacientes brancos internados com Síndrome Respiratória comprovada e de 79% entre os não brancos.