Presidente do Albert Einstein enxerga grande desafio em campanha de vacinação contra a Covid-19

Sidney Klajner também fala sobre obrigatoriedade da vacina e festas de fim de ano

Por Da Redação
Ás

Presidente do Albert Einstein enxerga grande desafio em campanha de vacinação contra a Covid-19

Foto: Reprodução/Money Report

Em meio a pandemia da Covid-19 no Brasil, o presidente do hospital Albert Einstein, o cirurgião Sidney Klajner, relatou em entrevista ao jornal O Globo, o crescimento de internações no hospital, que é referência no tratamento da doença no país. No último mês, o número de leitos ocupados pela doença dobrou. Klajner entende que a discussão sobre obrigatoriedade da vacina é inócua, pelo fato de o brasileiro ter, por hábito, comparecer a campanhas de vacinação.

Ele avalia, porém, outros desafios devem ser enfrentado no país, como a dificuldade logística. “Eu vejo um desafio muito grande nessa campanha de vacinação. Não temos na história do mundo a produção de uma vacina eficaz em tão pouco tempo. Temos que ter em mente que, mesmo aprovada a vacina, até começar a campanha, que seria em março, de acordo com o Ministério da Saúde, há quatro meses pela frente. Isso, acreditando que vai dar tudo certo.”

O médico questiona ainda se a vacinação deve começar pelos idosos com mais de 75 anos, profissionais de saúde e indígenas, como prevê o governo. “Essa discussão tem que ser levada a uma profundidade maior. Grande parte da mortalidade não está nesses idosos acima de 75 anos e sim na população que sai mais de casa e se expõe, entre 60 e 75 anos. A mortalidade é maior na população mais ativa.”, confira abaixo uma parte da entrevista.

O Einstein tem registrado aumento de internações de casos de covid-19?

Sim. O maior pico da doença foi em abril, quando cerca de 150 leitos do hospital chegaram a ser ocupados por casos de covid-19, sendo muitos em estado bem grave, até porque era uma doença que carecia de conhecimento maior por parte dos médicos. Depois de maio, assistimos uma queda desse pico e chegamos a um platô. Por quatro meses, o hospital ficou com cerca de 50 leitos sempre ocupados com pacientes com covid. No último mês, vimos uma ascensão e o número de internações dobrou. Hoje estamos com 106 pacientes confirmados com covid-19, dos quais entre 50 estão na UTI e na UTI semi-intensiva.

Então podemos falar que vivemos uma segunda onda?

Podemos. Nosso comportamento no Brasil é bem diferente do que houve na segunda onda na Europa. O que teve lá foi um pico muito agudo de mortes e contaminados e um lockdown rígido, que fez com que a mortalidade caísse quase a zero. Com a chegada do verão europeu, a população voltou a fazer viagens, ir às praias, restaurantes, e aí veio outro pico e a necessidade de alguns governos implementarem um novo lockdown. Aqui, não houve um pico muito agudo, porque as medidas de isolamento fizeram com que se achatasse esse pico. No Brasil, porém, nunca deixou de existir um platô de contaminação e mortalidade, como houve na Europa.

A que o senhor atribui o aumento dos casos?

A gente procura passar a mensagem de que falta pouco, que a vacina está chegando, para que as pessoas não baixem a guarda com medidas de segurança. Acontece que as questões de saúde mental e de impactos de isolamento tornam a situação muito difícil, principalmente para os jovens. Então, voltam a acontecer encontros, idas a restaurantes, festas. Estudos mostram que, de cada dez contaminações que ocorreram entre março e maio em Nova York, oito se deram em restaurantes, bares ou academias. São ambientes fechados e o cidadão é obrigado a tirar máscara se for comer.

O que deve ser feito diante da escalada da doença nas últimas semanas?

Compartilho da ideia de que alguns passos da flexibilização têm que voltar atrás. É por isso que mantemos o monitoramento contínuo da contaminação. Os feriados foram grandes exemplos disso e agora teremos as festas de fim de ano, que vão trazer mais riscos. Uma empresa que organiza um evento de ano novo para 2 mil pessoas precisa sofrer alguma intervenção antes do evento acontecer. É a morte anunciada. Lembra que a pandemia no Brasil começou com um casamento? As medidas de isolamento social são obrigatórias para que a gente não estresse mais o sistema de saúde.

O senhor acredita que a vacina contra a covid-19 tem que ser obrigatória?

Tem uma pesquisa com 27 países do mundo questionando se as pessoas se propõem a se vacinar. Nessa pesquisa, o Brasil apareceu com 65% dos entrevistados com desejo de tomar a vacina, enquanto alguns países da Europa, como Bélgica, Inglaterra e Alemanha ficaram entre 35% e 40%. Acredito que não seja necessário colocar a obrigatoriedade, mesmo porque conseguimos a imunidade de rebanho com 70% da população vacinada.

Qual a importância das campanhas de vacinação?

Uma campanha bem feita faz com que não haja a necessidade da palavra obrigatoriedade que, por muitas vezes, nesse ambiente que a gente vive de fake news, pode colocar mais dúvida sobre a população. É fazer a campanha como sempre foi feita.

Qual o seu conselho para as pessoas nas festas de fim de ano?

Não precisa ficar trancado em casa, mas famílias que têm parentes que são grupos de risco e que pretendem fazer uma refeição juntos, se forem todos de máscara, só tirem na hora da refeição e ao ar livre, o que traz menos riscos de contaminação. A gente não precisa voltar a perder a liberdade, desde que a gente respeite o que é essencial. É essencial ir a uma rave? A gente não vai zerar o risco nunca, mas podemos minimizá-lo. Cada vez que você tem esse tipo de postura, influencia quem está do lado.

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