Psicanalista analisa por que a perda de celebridades mobiliza tanta dor pública e o que isso revela sobre nossas feridas invisíveis!
Aos detalhes.

Foto: Div
O Brasil se prepara para o velório de Preta Gil, marcado para o dia 25 de julho no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A despedida da artista acontece três dias após a morte de Ozzy Osbourne, ícone mundial do rock, que faleceu aos 76 anos em Londres. A comoção em torno dessas perdas ultrapassa fãs e fronteiras e o que se vê é um fenômeno emocional coletivo, que transforma o luto privado em catarse pública.
Para a psicanalista Ana Lisboa, fundadora do Grupo Altis e uma das principais referências em saúde mental feminina, essas reações dizem muito sobre quem somos, o que admiramos e, principalmente, o que não elaboramos. “Quando uma figura pública parte, o que nos dói não é apenas a ausência dela. É a ausência simbólica do que ela representava. Preta era potência, afeto, coragem. Ozzy era o caos genial, o eterno sobrevivente. Quando eles vão embora, algo dentro de nós também se despede”, explica.
Ana observa que o luto coletivo, muitas vezes visto como exagero, é na verdade uma válvula emocional legítima, especialmente em uma cultura que ainda reprime o sentir.
“Essas perdas servem como gatilhos emocionais. Muita gente chora por Preta, mas também pela mãe que partiu sem adeus, pelo amigo que foi embora sem explicação, pelo amor que ficou suspenso no tempo. O luto se acumula onde não foi vivido.”
A comoção pública também revela um desejo de pertencimento que a vida moderna nem sempre oferece. “O compartilhamento de homenagens, vídeos, memórias, hashtags, tudo isso nos dá uma ilusão momentânea de comunidade. Por alguns dias, sentimos que não estamos sozinhos na dor. E esse sentimento de união, ainda que breve, é profundamente terapêutico”, afirma a psicanalista.
Preta Gil, com sua trajetória marcada por afeto, espiritualidade e resistência, e Ozzy Osbourne, com sua energia rebelde e inabalável, eram mais do que apenas artistas, eram arquétipos vivos. “Eles ocupavam um lugar simbólico nas nossas fantasias. Perder essas figuras é ser convidado, à força, a revisar o que realmente importa. Nossos afetos, nossos silêncios, nossas saudades.”
A psicanalista acredita que o luto coletivo, quando respeitado e vivido com consciência, pode se tornar uma alavanca de transformação. “Sentir dor não é sinal de fraqueza. É sinal de humanidade. E se há algo que precisamos reaprender com urgência, é a arte de sentir. Não para sofrer mais, mas para viver com mais verdade”, conclui.