Relatório de violência na Bahia: taxa de homicídios de jovens é de mais de 200%

O estudo analisou 10 anos de dados do Sistema Único de Saúde (SUS)

[Relatório de violência na Bahia: taxa de homicídios de jovens é de mais de 200%]

FOTO: Foto Gilberto Júnior - Farol da Bahia

A Rede de Observatórios da Segurança lançou nesta quinta-feira (5), no Centro de Estudos Afro Orientais da UFBA, em Salvador, o relatório “A cor da violência na Bahia: Uma análise dos homicídios e violência sexual na última década”.

O estudo inédito, analisou 10 anos de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e apresenta a evolução das mortes violentas no estado da Bahia e revela, com dados, a chocante concentração da violência letal e sexual entre negros e negras.

A Rede de Observatórios na Bahia conta com a parceria da Iniciativa Negra, instituição responsável pelo monitoramento de indicadores de violência no estado. A organização acompanha indicadores de segurança pública, incluindo operações policiais, feminicídio, linchamentos, chacinas, sistema penitenciário, sistema socioeducativo, intolerância religiosa, racismo, violência contra LGBTQ+, entre outros, além dos dados oficiais.

Números
De acordo com o relatório, existe dificuldade de analisar com profundidade a queda nos indicadores, uma vez que o governo estadual não divulga com regularidade os dados sobre violência e crime.

“A Bahia é um dos poucos estados do Brasil que não tem como prática a divulgação regular dos dados sobre criminalidade e violência. Por isso, a Rede de Observatórios da Segurança buscou nos bancos de dados do SUS, as informações sobre o perfil das vítimas e o local de ocorrência dos crimes”, ressalta Dudu Ribeiro, coordenador da Iniciativa Negra e do Observatório da Segurança – Bahia.

O relatório aponta que de 2009 a 2018, cerca de 600 mil pessoas perderam suas vidas em dinâmicas de homicídios no Brasil. Destas mortes, 38,6% (222.848) ocorreram no Nordeste. A Bahia é um dos estados nordestinos com maior número de fatalidades violentas: 27,7% das mortes ocorridas nesta região aconteceram no Estado.

Silvia Ramos, cientista social e coordenadora da Rede de Observatório da Segurança, afirma que “a violência é um problema muito grave no Brasil. São mais de 40 mil homicídios por ano, mas ainda tem muita coisa que a gente não sabe sobre a violência. Aumentou ou diminuiu? Quem são essas pessoas que estão morrendo? Por que que morre todos os anos basicamente as pessoas de mesmo perfil? Onde mata-se muito, outros crimes existem simultaneamente, o homicídio é a ponta do iceberg”, questiona.

Segundo Silvia Ramos, existem dinâmicas de violência que não são possíveis de serem contabilizadas, como: lesão corporal, ameaças, intimidações, injúrias, situações que suscitam o medo. “O propósito do Observatório é monitorar os dados dos Estados, os oficiais, mas também questionar o aumento dessa violência. Para isso precisamos ter parceiros locais, com capacidade de diálogo, como os líderes comunitários”, disse.

Violência policial
Silvia Ramos destaca também a questão da violência policial na Bahia. Segundo ela, são mais de 700 homicídios feitos pela polícia há vários anos. “A gente não tem nem acesso a esses números. É muito grave. Para que se sonegam os números? A Bahia é um ponto fora da curva, todos os demais Estados do Brasil divulgam com mais assiduidade. A justifica do governo é que os dados são manipulados politicamente, por isso não divulgam. Há uma política declarada e consciente de tentar omitir porque os dados são muito ruins. Dado ruim a gente esconde. É lamentável que isso aconteça”, avalia.

A cientista política diz ainda que segurança pública não é uma questão de polícia e sim de políticas públicas. “Os governos precisam entender que política de segurança no Brasil é uma coisa séria. Os dados são dos cidadãos”, frisou.

Homicídio de jovens negros
93% das vítimas de homicídio no Brasil são os homens. “A distorção entre a taxa de homicídio de homens negros na Bahia é maior do que a distorção da taxa de homicídios de homens negros no Brasil. Na Bahia, a taxa de homicídios de jovens negros na faixa de 20 anos é de mais de 200%. Essa é a visão mais gritante do racismo na Bahia. Esse racismo vira genocídio”, revelou Silvia Ramos 
 


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