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'Salvador Pra Cego Ver': projeto usa audiodescrição para que pessoas com deficiência visual conheçam a cidade

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'Salvador Pra Cego Ver': projeto usa audiodescrição para que pessoas com deficiência visual conheçam a cidade

Farol da Bahia conversou com Patrícia Braille e Silvânia Macêdo, idealizadora e colaboradora do projeto

'Salvador Pra Cego Ver': projeto usa audiodescrição para que pessoas com deficiência visual conheçam a cidade
Foto: Divulgação

Você já imaginou como seria não poder sentir a energia das vibrantes cores que dão vida à história do Pelourinho? E como seria não ficar fascinado com a arquitetura do Elevador Lacerda e a beleza de tantos outros pontos turísticos de Salvador? O que parece ser apenas um questionamento representa as barreiras enfrentadas por mais de 6,5 milhões de pessoas cegas ou com algum tipo de deficiência visual no Brasil, sendo mais de 89 mil só na capital baiana (IBGE, 2010). 

É com o propósito de promover acessibilidade e inclusão no acesso à cultura e turismo que a educadora baiana Patrícia Braille criou o projeto “Salvador Pra Cego Ver”, que também conta com a participação da produtora cultural Edmilia Barros. Por meio de um site e perfis no Instagram (@salvadorpracegover) e Facebook, o projeto compartilha imagens e pontos turísticos de Salvador com o uso da audiodescrição, uma ferramenta que narra e dá detalhes sobre a composição das imagens. Além da audiodescrição, os conteúdos contam com uma intérprete de libras, o que amplia a acessibilidade para pessoas surdas ou com algum tipo de deficiência auditiva.

Perfil no Instagram conta com audiodescrição e intérprete de libras que detalham os conteúdos | Foto: Reprodução @salvadorpracegover

Patrícia Braille, que é a autora da famosa iniciativa #PraCegoVer, explicou ao Farol da Bahia que o projeto surgiu por meio da necessidade de investir em um turismo mais inclusivo tanto para as pessoas que moram na cidade quanto para os turistas. 

“Salvador é uma cidade histórica, linda, repleta de cultura em cada canto, porém inacessível para pessoas com deficiência. Ter deficiência e morar em Salvador é estar em relativo isolamento social, pois a constituição da cidade não permite o trânsito livre e autônomo. Sem falar que a cidade tem paisagens exuberantes, mas não temos profissionais de turismo capacitados para a prática da audiodescrição. Então tanto quem mora aqui, quanto quem vem de fora, em especial as pessoas cegas e com baixa visão, estão impedidas de desfrutar deste patrimônio”, disse a educadora. 

Patrícia Braille idealizou o projeto para auxiliar pessoas com deficiência visual através da inclusão | Foto: Danielle Silva 

A especialista em educação inclusiva também falou sobre a importância do diálogo com o público cego e com deficiência visual para garantir a acessibilidade dessa população na cidade como um todo.

“Acredito que a escuta atenta ao que as pessoas com deficiência têm a dizer é o princípio de toda acessibilidade. Em nossa equipe, por exemplo, todo o trabalho foi validado por nossa consultora de audiodescrição, Silvânia Macêdo [...] A sociedade inclusiva é para todos, mas alguns grupos historicamente excluídos precisam ser ouvidos com especial atenção, pois o parâmetro não pode ser a famigerada “normalidade””, pontuou Patrícia.

Uma das pessoas fundamentais para o projeto é a historiadora e especialista em educação inclusiva, Silvânia Macêdo. Cega há 27 anos, Silvânia atua no projeto como consultora de audiodescrição e disse que o ‘Salvador Pra Cego Ver’ a ajudou a descobrir a cidade de outras formas, além de conhecer a sua construção histórica. 

"Através do projeto, se desperta a curiosidade para conhecer melhor a cidade e diversos locais que, porventura, talvez já façam parte do dia-a-dia de muitas pessoas com deficiência. Eu passei a conhecer melhor a cidade de Salvador e a perceber a riqueza, a história e a beleza que existe nessa cidade, que muitas vezes é despercebida porque as pessoas com deficiência visual não têm acesso", relatou Silvânia.

Silvânia Macêdo aposta em um turismo mais acessível na cidade | Foto: Divulgação

Para ilustrar a falta do turismo inclusivo, a historiadora relembrou de uma viagem em que passou por diversas cidades e encontrou apenas um agente de turismo especializado que possibilitou um passeio especial para ela. Silvânia avalia que as iniciativas de acessibilidade são necessárias não só para ajudar as pessoas com deficiência, mas também como atrativo de novos públicos.

"Essas iniciativas não devem só partir do poder público, mas da iniciativa privada também. As empresas de turismo podem estar encabeçando projetos que vão estimular o turismo, vão trazer novos clientes para essas empresas [...] A própria cidade precisa organizar e criar as estruturas físicas e necessárias para que a cidade seja acessível [...] A cidade precisa preparar os seus profissionais da área do turismo para receber o turista que é deficiente", sugeriu a consultora.

Silvânia também deixou um recado para derrubar preconceitos e aconselhar as pessoas que querem colaborar na acessibilidade e inclusão da cidade e tantos outros espaços.

"Invistam em acessibilidade. Ao poder público: faça da cidade uma cidade para todos. Não apenas daqueles que enxergam, nem daqueles que caminham com as próprias pernas, mas uma cidade em que todas as pessoas possam usufruir de sua beleza, de sua riqueza e de sua história", completou.

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