Setembro Amarelo: projetos de Salvador oferecem atendimento psicológico gratuito

Neste domingo, dia 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio

[Setembro Amarelo: projetos de Salvador oferecem atendimento psicológico gratuito ]

FOTO: Pexels

Em meio à pandemia da Covid-19, nasce uma iniciativa para cuidar da saúde mental da população baiana. O projeto “Borboletas - Livres para Viver” realiza o atendimento psicológico gratuito dos pacientes, com acompanhamento dos casos e prevenção ao suicídio. Em Salvador, outras ações desenvolvem o mesmo trabalho [veja lista no final da matéria]. 

Neste domingo, dia 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, organizado Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio em parceria com a Organização Mundial da Saúde. Na cartilha de prevenção da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), revela-se que de cada 100 brasileiros, 17 já pensaram, ao menos uma vez, em tirar a própria vida.

"Hoje em dia todo mundo tem algum tipo de problema, pode não ser muito grave, mas pode ter algum nível de transtorno. Se o poder público não realiza o atendimento, o terceiro setor faz, cumprindo nossa obrigação e o nosso papel social."

A afirmação é do criador do projeto Borboletas, Antônio Carlos Lacerda, que também é psicólogo e instrutor de inteligência emocional da Guarda Civil Municipal (GCM). Ele detalha que a iniciativa surgiu da necessidade de prevenção e combate ao suicídio, pensando inicialmente em adolescentes que se automutilavam, principalmente vítimas de abuso sexual, e pediam ajuda em uma clínica que trabalhava. 

Ao perceber que outras pessoas também precisavam de ajuda, para além das adolescentes, Lacerda passou a atender o público geral, de 4 a 87 anos. "A gente faz uma triagem e de acordo com a vulnerabilidade de cada pessoa, vendo quem tentou suicídio, quem tem uma depressão maior, ansiedade, a gente vai fazendo o atendimento da melhor forma possível", explica. 

A instituição atende aos sábados, de manhã, no bairro do Stiep, em Salvador. Em média, são 60 a 100 atendimentos por dia. 

Campanha do Setembro Amarelo 

Neste mês, também acontece o Setembro Amarelo, iniciado em 2015. A psicóloga clínica Gabriela Sousa destaca que a iniciativa visa promover a conscientização sobre a prevenção do suicídio, sendo um importante alerta para a necessidade de discutir e debater aspectos ligados ao sofrimento psicológico e o ato de causa a própria morte.

Segundo ela, a campanha diz muito sobre o quanto é necessário abordar mais a temática, promovendo espaços que possibilitem o diálogo, a quebra de tabus e o reconhecimento dos fatores de risco, para que, a partir disso, possam ser adotadas intervenções adequadas. 

Sousa detalha que causar a própria morte é um fenômeno complexo e multifatorial, que vai sofrer influência de diversos fatores, que podem ser psicológicos, biológicos ou sociais: “É necessário ter um olhar biopsicossocial para o suicídio. Não há como dizer que existe uma única causa. Diante disso, abordando os fatores psicológicos, os casos de suicídio estão constantemente relacionados e podem ser desencadeados por transtornos como depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias, que vão repercutir de diferentes formas na vida do indivíduo que está em sofrimento psíquico, podendo afetar o humor, os pensamentos, as emoções, os comportamento”.  

A médica residente em psiquiatria Jamille Cardoso também enfatiza que a campanha do Setembro Amarelo acontece anualmente e que, a cada ano, ganha mais notoriedade. A iniciativa faz com que o tema seja abordado de maneira mais constante e, com isso, podem ser adotadas medidas mais ativas na prevenção dos fatores de risco.

“Falar sobre suicídio é algo doloroso, delicado e extremamente desconfortável, por motivos óbvios. Mas infelizmente a incidência de casos tem aumentado nos últimos anos. Com isso é muito importante que a gente, enquanto sociedade, enquanto comunidade médica, discuta sobre o tema, para pensar o que a gente pode fazer para mudar esse panorama”, pontua a especialista.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por ano devido ao suicídio, o que representa uma a cada 100 mortes registradas. No Brasil, a estimativa é de 14 mil casos por ano, ou seja, em média, 38 pessoas tiram a própria vida por dia. Entre 2010 e 2019, o país registrou em torno de 112.230 mil mortes.

Jamille Cardoso afirma que a ansiedade e depressão são as patologias mais prevalentes na população de maneira geral, principalmente no período pós-pandemia da Covid-19, em que são observados pelos profissionais um aumento no diagnóstico dessas doenças, que podem variar de quadros leves, moderados e graves. A pessoa diagnosticada com um transtorno mental pode ter dificuldades de executar as atividades do dia a dia e, inclusive, apresentar sintomas físicos que podem se confundir com outros distúrbios. 

“Em um contexto de crise de ansiedade, por exemplo, o indivíduo pode sentir uma dor torácica e acreditar que está infartando. Se isso acontecer de maneira recorrente, o paciente vai procurar a emergência diversas vezes e não ser diagnosticado com o infarto porque, na verdade, aquilo é um sintoma da sua ansiedade que não é tratada”, explica a médica. “Essa situação pode se tornar uma bola de neve e, infelizmente, pode chegar em circunstâncias trágicas como no suicídio”, complementou. 

A psicóloga Larissa Oliveira afirma que a prevenção ao ato de causar a própria morte deve ser feita durante todos os meses do ano: “precisamos ter a conscientização de que todos os 12 meses do ano precisam ser preventivos, tendo cautela com o indivíduo, com o ser humano, com o outro. Todas as vezes que a gente fala de uma vida humana a gente está falando de preciosidade”. 

Oliveira explica que os transtornos mentais, como depressão, podem ser uma causa para o desejo de tirar a vida, mas não são as únicas. “Toda patologia, toda doença que ela não é tratada ela pode sim levar ao suicídio. E quando a gente fala de doenças, a gente também pode falar de questões físicas. Então, o indivíduo que recebe alguma notícia que não esperava, que foi pego de surpresa por aquilo que não esperava, pode acabar cometendo um ato suicida. Então nem todo ansioso e nem todo depressivo comete suicídio, e nem todo suicida teve ou tem algum transtorno”, expõe. 

A psicóloga também esclarece que a ansiedade é algo comum na vida das pessoas, sendo um mecanismo de defesa, como o medo, aflição, preocupação e outras emoções. Se torna um problema quando começa a afetar o dia a dia. “A ansiedade acontece dessa forma, se ela te faz paralisar diante daquilo que é comum você fazer, a gente precisa, nesse momento”, diz. 

Além disso, o ato também pode ser uma forma da pessoa tentar e livrar-se de uma dor, por isso a importância de fazer uma prevenção. “Tem gente que diz que ‘quem quer se matar não avisa’. Eu discordo totalmente. Todo indivíduo que quer se matar ele demonstra. Basta a gente estar atento para poder ver, ouvir e abraçar”, finaliza Larissa Oliveira. 

Pedir ajuda

A médica residente em psiquiatria Jamille Cardoso explica que conseguir atendimento psicológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente em Salvador, é um grande desafio. “Eu sempre oriento os meus pacientes a buscarem os atendimentos das universidades, tanto particulares quanto públicas. Lá o paciente pode encontrar um serviço com uma maior disponibilidade, justamente por ter diversos profissionais ainda em formação que vão realizar uma consulta junto com um profissional já formado e, muitas vezes, é um atendimento mais prolongado, da forma adequada para o paciente com alguma necessidade”, aconselha. 

O paciente também pode buscar atendimento nas situações de risco nas emergências de unidades públicas de saúde.  “O objetivo é que a gente previna o indivíduo de chegar nesse ponto, mas caso ele chegue, dá para procurar ajuda em qualquer unidade de urgência e emergência. O ideal é que seja uma unidade especializada em atendimentos psiquiátricos, mas ainda assim, caso não seja possível, ele pode buscar atendimento em unidades não especializadas em psiquiatria. O importante é buscar ajuda”, completou Cardoso.
 

Atendimentos gratuitos ou com preços sociais: 

Clínica de Psicologia da Unime 

Data e horário de atendimento: segunda a sexta, das 8h às 12h / 14h às 18h.

Contato: (71) 3378-8151

Agendamento: presencial ou por telefone

Endereço: Av. Luiz Tarquínio Pontes, 600 - Centro, Lauro de Freitas - BA, 42700-000

Instituto de Saúde da Unijorge 

O curso de Psicologia da Unijorge oferece atendimento psicológico para a comunidade, em formato presencial, no Instituto de Saúde, no campus Paralela. 

Os interessados devem entrar em contato pelo WhatsApp: (71) 99611-6919 para receber um formulário para inscrição. Após inscritos, devem aguardar o contato da Instituição com o dia e horário de agendamento. Em caso de dúvidas, o contato pode ser feito pelo telefone (71) 3206-8489.

Por causa da procura, o serviço poderá ter uma lista de espera.

Serviço de Psicologia da UniFTC

Em atividade desde 2005, o Serviço de Psicologia da UniFTC Salvador oferece atendimento psicológico à comunidade em geral. O serviço é prestado pelos alunos do curso de Psicologia, a partir do 8º semestre, com orientação dos professores.

Os atendimentos são feitos na sala 311, no Módulo II, Nível 3, de segunda a sexta das 8h às 17h. A taxa para atendimento é a combinar com o paciente, podendo ser gratuita.

Contato: (71) 3281-8073

CVV

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é gratuito em todo o Brasil e funciona 24 horas por dia, através do telefone gratuito 188. 

Dois Altos - Uneb 

O Serviço de Psicologia da Universidade do Estado da Bahia é um Programa Permanente do Curso de Psicologia do Departamento de Educação do Campus I, cuja função é o cumprimento ao que determinam as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Psicologia. É realizado atendimentos às populações de baixa renda, preferencialmente as localizadas no bairro do Cabula e adjacências, e à comunidade interna da universidade. 

Atendimento por ordem de chegada: segunda de 13h às 17h / terça a sexta de 9h às 17h - no andar térreo do Departamento de Educação, Campus I, Salvador. 

Para para atendimento noturno deve-se solicitar o contato direto do plantonista através do e-mail [email protected] ou por meio do telefone (71) 99600-2672.

Serviço de Psicologia Prof. João Ignácio de Mendonça - Ufba

O Serviço de Psicologia Professor João Ignácio de Mendonça, da Universidade Federal da Bahia, é uma clínica-escola, onde a maioria dos alunos do Instituto de Psicologia da universidade realiza estágio supervisionado, no final de sua graduação. Os interessados por atendimento psicológico devem ligar para a Instituição para marcar uma entrevista, de acordo com a disponibilidade de vaga na agenda de atendimentos. 

Informações para agendamento: (71) 98522-8306 (Whatsapp) ou no e-mail [email protected].

Projeto Livres para Viver {Borboletas}

Os atendimentos psicológicos oferecidos pelo projeto Borboletas são realizados pela Coordenadoria de Ações de Prevenção à Violência (Cprev), todos os sábados, das 8h às 13h, na Lagoa dos Pássaros, localizada na Primeira Travessa Arnaldo Lopes da Silva, 108, no bairro do Stiep. 

Mais informações podem ser obtidas através do número de Whatsapp (71) 99186-2869.

Pelo SUS

O paciente pode procurar e ir até uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) mais próxima para solicitar o atendimento.

Após passar pela triagem natural, a pessoa será encaminhada para um dos tratamentos disponíveis no local.


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