Surto da Doença de Chagas no norte da Bahia acende alerta para prevenção
No primeiro semestre deste ano, Jacobina registrou cinco casos e uma morte

Foto: Reprodução/Pixabay
Um surto de transmissão oral da Doença de Chagas no norte da Bahia acendeu um alerta sobre a importância de medidas preventivas para reduzir os riscos de infecção e destacou a necessidade do diagnóstico. De acordo com informações da Secretaria de Saúde do Estado, a região de Jacobina registrou, no primeiro semestre deste ano, cinco casos confirmados da doença e uma morte.
Causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, a Doença de Chagas é conhecida por ser transmitida através da picada do barbeiro. Após a pessoa ser picada, tende a coçar o local, favorecendo a penetração do parasita presente nas fezes do barbeiro infectado na corrente sanguínea. No entanto, o perfil de transmissão da doença tem passado por mudanças nos últimos anos, o que evidencia o recente surto de transmissão via oral na cidade baiana.
Em entrevista ao Farol da Bahia, o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fred Luciano Neves Santos, explicou que as pessoas podem ser infectadas de diversas maneiras. “A Doença de Chagas é uma enfermidade infecciosa e muito negligenciada. As principais vias de infecção são através das fezes do barbeiro, que é o inseto vetor, da transmissão congênita da mãe para o filho e por meio de transfusão sanguínea. Essas duas formas já estão controladas no Brasil, com a Doença de Chagas fazendo parte do pré-natal e dos exames de triagem sorológica nos bancos de sangue”, afirmou o especialista.
“Além disso, existem outras formas de transmissão, como por acidente laboratorial, embora seja mais rara, e também pela via oral. No norte do Brasil, por exemplo, é comum vermos casos de transmissão oral quando o barbeiro é triturado junto com o açaí ou outros alimentos. Recentemente, houve um surto na Bahia, na região de Jacobina, provavelmente devido à ingestão de suco de acerola, e esse caso está sob investigação", completou.
Fases da doença e sintomas
De acordo com o pesquisador Fred Luciano, a pessoa infectada inicia a doença na fase aguda, onde os principais sintomas são dor de cabeça, febre, cansaço, edema facial e dos membros inferiores, taquicardia, palpitação, dor no peito e falta de ar. No entanto, pode ocorrer casos da fase aguda ser assintomática e inaparente.
“Após a infecção, o indivíduo entra na fase aguda da doença. Essa etapa dura cerca de 4 a 8 semanas e, normalmente, a pessoa infectada apresenta sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, febre, dores musculares, aumento dos gânglios e outros. Esses sintomas inespecíficos podem ser confundidos com outras doenças comuns no Brasil. Por isso, muitas vezes, a fase aguda passa despercebida e, em alguns casos, o indivíduo não apresenta nenhum sintoma", explicou o pesquisador.
Fred Luciano disse ainda que a pessoa infectada pode apresentar manifestações crônicas da Doença de Chagas. “Na fase crônica, o indivíduo pode permanecer a vida inteira sem apresentar nenhum sintoma, o que é conhecido como fase crônica indeterminada. No entanto, cerca de 30% a 40% dos infectados nessa fase podem desenvolver sintomatologia órgão-específica”, afirmou.
“Por exemplo, pode haver o envolvimento do coração, levando o paciente a desenvolver taquicardia, arritmia, aneurisma e cardiopatia, podendo evoluir para a condição conhecida como 'coração grande' [cardiomegalia]. Além disso, alguns indivíduos podem desenvolver sintomas gastrointestinais, seja isoladamente ou em conjunto com as manifestações cardíacas”, continuou.
Prevenção e tratamento
Segundo a Fiocruz, existem dois medicamentos utilizados para tratar a infecção por Trypanosoma cruzi, sendo apenas um deles utilizado no Brasil: o benzonidazol, produzido pelo Laboratório Federal de Pernambuco (Fafepe). O Sistema Único de Saúde (SUS) distribui esse medicamento após a indicação médica, tanto para casos agudos quanto crônicos.
Em relação à prevenção, uma das medidas é evitar que o inseto "barbeiro" forme colônias dentro das residências, o que pode ser feito através da vedação de frestas nos telhados e de buracos nas paredes. Além disso, para evitar a transmissão oral da doença, é necessário garantir a higienização adequada dos alimentos.