Michel Telles
Infectologista da Rede Mater Dei de Saúde, Silvana de Barros Ricardo, informa que sepse é a causa número um de mortes evitáveis em todo o mundo
FOTO: Divulgação
A Sepse, termo médico usado para a infecção generalizada, é uma doença que atinge de 15 a 17 milhões de pessoas por ano no mundo, sendo 600 mil só no Brasil, segundo dados do ILAS - Instituto Latino-Americano de Sepse. Neste mês de setembro, quando se comemora o Dia Mundial da Sepse (13.9), instituições do setor saúde alertam para a conscientização sobre os cuidados e identificação precoce da doença que possui mortalidade elevada nas unidades de terapia intensiva (UTIs) espalhadas pelo país, com 240 mil óbitos por ano.
As mortes no Brasil chegam a 65% dos casos em UTIs, enquanto a média mundial está em torno de 30 a 40%. Com a pandemia da Covid-19, o panorama se tornou ainda mais grave. Entretanto, a incidência de casos pode ocorrer em pessoas não hospitalizadas e com bom estado geral de saúde.
A sepse é uma síndrome clínica causada por uma infecção, que pode levar à síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e óbito. Qualquer infecção pode causar sepse. A doença frequentemente se apresenta como a deterioração clínica de infecções comuns e evitáveis, como as do trato respiratório, gastrointestinal e urinário, ou de feridas na pele. A doença pode ser subdiagnosticada em um estágio inicial, quando ainda é potencialmente reversível.
A maioria dos tipos de microrganismos pode causar sepse, incluindo bactérias, fungos, vírus e parasitas. No entanto, também pode ser causada por infecções com vírus da influenza sazonal, vírus da dengue e patógenos altamente transmissíveis de interesse de saúde pública; como os vírus da gripe aviária e suína, Ebola e vírus da febre amarela. O diagnóstico da sepse é feito com base na identificação do foco infeccioso e na presença de sinais de mau funcionamento de órgãos.
Não há exames específicos, mas sim aqueles voltados para a identificação da presença de infecção, como o hemograma, e para a identificação do foco, como radiografia de tórax, e exames de urina. É também importante a identificação do agente infeccioso, com coleta de culturas de todos os locais sob suspeita de infecção, mas principalmente do sangue. São também importantes os exames para identificar a presença de mau funcionamento dos órgãos.
Segundo a infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Rede Mater Dei de Saúde, Silvana de Barros Ricardo, a sepse é a causa número um de mortes evitáveis em todo o mundo. Em 80% dos casos, a doença se manifesta fora do hospital, geralmente causada por infecções como pneumonia ou doença diarreica. Portanto, o paciente e/ou seus responsáveis desempenham um papel ativo na prevenção de infecção e na busca precoce pelo tratamento, o que pode reduzir a incidência e a morbidade da sepse. Daí a importância das campanhas educativas e divulgação de informação direcionada ao público.
Sepse hospitalar e diretrizes
Uma parcela menor de casos, mas ainda significativa, ocorre no paciente internado e tem relação direta com os profissionais de saúde e a implementação de programas de melhoria do desempenho para sepse. A taxa de mortalidade por sepse é mais de duas vezes maior nos hospitais públicos do que nos privados, onde os recursos e investimento ainda são, infelizmente, menores. Estudo divulgado pelo ILAS mostra que 42,2% dos pacientes com sepse levados a prontos-socorros das instituições públicas morreram. Já nas instituições particulares, a taxa foi de 17,7%. O levantamento avaliou 74 prontos-socorros do Brasil, dos quais 28 eram públicos e 46, privados.
A especialista da Rede Mater Dei de Saúde destaca a adoção de diretrizes baseadas em evidências e a padronização do atendimento ao paciente com suspeita de sepse como medidas essenciais para diminuir os desfechos negativos e proporcionar melhor efetividade do tratamento em unidades de saúde. Por isso, a capacitação dos profissionais é fundamental. A campanha mundial da sepse em 2020 foi baseada em quatro pilares, que resumem as ações necessárias para o enfrentamento da doença: prevenção, reconhecimento precoce, tratamento adequado e reabilitação.
“O manejo da sepse é um desafio clínico complexo, perpassando o entendimento de que ela apresenta letalidade potencial consideravelmente superior a uma infecção direta e requer o reconhecimento urgente. Nesse sentido, os programas de melhoria do desempenho para sepse devem ter os esforços direcionados à identificação precoce por meio de estratégias de triagem, vinculados ao manejo apropriado nas horas iniciais após seu desenvolvimento”, afirma a infectologista.
Ela destaca que na Rede Mater Dei de Saúde, a equipe multiprofissional, composta por técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos, é capacitada conforme as definições do protocolo institucional, com análise dos resultados dos indicadores e intervenções para melhoria. Esses indicadores do protocolo gerenciado de sepse fazem parte das metas de segurança assistencial dessas equipes e são acompanhados mensalmente pela alta direção através das análises críticas.
A rede implementou como política institucional o protocolo gerenciado de sepse baseado em evidências científicas e norteadas por indicadores de qualidade, para que se possa reduzir a mortalidade dos pacientes. A abordagem está focada em populações específicas de pacientes, seja em atendimento nos prontos-socorros ou internados nas Unidades de Internação (UIN) e UTI, assim como no manejo diferenciado da sepse em adultos e sepse em crianças. Os hospitais da rede possuem um protocolo específico para tratamento da sepse, incluindo um conjunto de intervenções, diagnósticas e terapêuticas, que norteiam a política institucional de melhoria assistencial do paciente com sepse, conforme recomendações do ILAS.
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