Um quarto da população brasileira vive em lares com insegurança alimentar
Segundo a pesquisa, no ano passado havia 18,9 milhões de lares identificados como tendo algum grau de insegurança alimentar no Brasil

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Apesar de uma melhoria em relação a 2023, o Brasil ainda registrava 54,7 milhões de pessoas vivendo com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave) em 2024, o equivalente a 25,7% da população.
É o que mostram dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) divulgados nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo a pesquisa, no ano passado havia 18,9 milhões de lares identificados como tendo algum grau de insegurança alimentar no Brasil, o que corresponde a 24,2% do total de domicílios no país em 2024 (78,2 milhões).
Os dados mostram uma melhoria em relação ao número anterior, da Pnad contínua de 2023, quando 29,6% da população brasileira e 26,6% dos domicílios estavam em situação de insegurança alimentar.
Para Maria Lúcia Vieira, coordenadora da pesquisa, a redução da taxa de desemprego ajuda a explicar a melhoria, assim como o aumento nos programas sociais.
"A taxa de desocupação vem se reduzindo, e tem um reflexo direto no que as pessoas conseguem adquirir de alimentos", afirma.
O levantamento contabiliza a incerteza alimentar a partir da EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), que vai dos graus leve a grave.
A insegurança alimentar leve é a preocupação quanto ao acesso a alimentos no futuro. Nesse caso, a qualidade dos alimentos é inadequada, em uma estratégia que visa não comprometer a quantidade de comida.
No caso do grau moderado, há uma redução na quantidade de alimentos entre os adultos, ou uma ruptura dos padrões de alimentação por causa da falta de alimentos entre os adultos.
Nos lares com insegurança alimentar grave, segundo o IBGE, essas restrições afetam também as crianças, e a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.
Os dados da pesquisa mostram que, no ano passado, 2,5 milhões de lares brasileiros estavam em insegurança alimentar grave no país, o equivalente a 3,2% do total. Esses endereços reuniam 6,4 milhões de pessoas.
O percentual da insegurança alimentar moderada era de 4,5% dos domicílios (ou 9,7 milhões de pessoas). No caso do grau leve, havia 16,4% dos lares em insegurança alimentar (o equivalente a 38,4 milhões de brasileiros).
As regiões mais afetadas pela insegurança alimentar são a Norte e Nordeste, com 37,7% e 34,8% dos lares, respectivamente, afetados pelo problema. Os percentuais do Centro-Oeste, Sudeste e Sul são de 20,5%, 19,6% e 13,5%, nessa ordem.
Os estados com as maiores taxas de insegurança alimentar moderada e grave são o Pará (17,1%), o Amapá (16,3%) e Roraima (15,9%), enquanto as menores taxas são em Santa Catarina (2,9%), Espírito Santo (3,5%) e Rio Grande do Sul (4,1%).
Na Pnad 2004, quando começa a série divulgada pelo IBGE, os domicílios com insegurança alimentar representavam 34,9% do total. Na Pnad 2009, a proporção recuou a 30,2%. Depois disso, houve a Pnad de 2013 (22,6%), a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2017-2018 (36,7%) e a Pnad contínua de 2023 (27,6%).
OS GRUPOS MAIS AFETADOS
Quando se olha a insegurança alimentar por perfil dos grupos afetados, a conclusão é que o problema afeta principalmente a parcela da população que já sofre com outras desigualdades econômicas e sociais.
Os lares localizados nas áreas rurais do país representaram, em 2024, 31,3% da insegurança alimentar, percentual que superou o das regiões urbanas (23,2%). De acordo com o IBGE, as áreas rurais costumam apresentar renda média inferior à das cidades, o que ajuda a explicar os resultados.
Há ainda disparidades de cor ou raça: 73,8% das pessoas afetadas pela insegurança alimentar grave no ano passado eram pretas ou pardas.
Outro recorte divulgado pelo IBGE, o de gênero, mostra que em 2024 as mulheres eram responsáveis por 50,8% dos lares com insegurança alimentar, enquanto os homens eram os moradores de referência em 49,2% dos endereços com o problema.
Considerando somente os lares com insegurança alimentar moderada ou grave, o rendimento domiciliar per capita (por pessoa) chegava no máximo a meio salário mínimo em quase metade dos domicílios em 2023 (42,5%).
Na outra ponta, 75,8% dos lares brasileiros viviam em segurança alimentar no Brasil em 2024. O dado equivale a 59,3 milhões de domicílios de um total de 78,2 milhões.
Conforme o estudo, uma família está nessa situação quando tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades.
A proporção cresceu ante a Pnad 2023, quando o percentual era de 72,4%, e da POF 2017-2018, quando estava em 63,3%, mas ainda ficou abaixo do patamar da Pnad 2013 (77,4%).
Os 59,3 milhões de domicílios com segurança alimentar abrigavam quase 157,5 milhões de moradores. Esse contingente equivale a 74,2% da população total.