A filha do tempo

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A filha do tempo

Revisando os acontecimentos que marcaram fundamente nossa História, constatei que a verdade necessita que o tempo termine por separará-la da mentira ou da  farsa. Foi assim, quando se deu a insurgência do Estado Novo, ditadura que consagrou o poder absoluto a Getúlio Vargas, em 1937, e deixou um rastro de violências e arbitrariedades.

Vargas permaneceu no poder até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando nossos pracinhas retornaram ao Brasil, depois de consignar nos campos de batalha da Itália, a grande contribuição dos brasileiros para a vitória da Democracia e a derrocada do horror nazi fascista. 

Somente neste ambiente de glória e reconhecimento, o General Góes Monteiro, então Ministro da Guerra, revelou aos brasileiros a farsa que os enredou e deu origem à supressão das liberdades democráticas e ao estado democrático de  direito entre nós.

A justificativa para a detonação insurrecional dos rebelados, sob a liderança de Getúlio Vargas, foi o famigerado “Plano Cohen”, elaborado por um grupo de  miliares golpistas, em novembro de 1937, no  qual descrevia detalhes  de uma insurreição planejada pela Internacional Comunista, semelhante a que que fora consumada nos idos de  1935 e  que levara o Partido Comunista Brasileiro a sofrer dura repressão, com as prisões de seus membros e dirigentes.

O “Plano Cohen” sobreviveu intocado pelo Estado Novo, reproduzindo em nossa realidade política os métodos amplamente praticados pelos regimes políticos totalitários, a  exemplo do III REICH nazista, em 1933, para implantar na Alemanha um regime racista e assassino, denunciando o incêndio do REICHASTAG (Parlamento Alemão)  como obra dos seus adversários políticos.

O poder gerador do Plano Cohen foi de tal ordem que o Estado Novo nascido em sua decorrência pôs por terra a Constituição de 1934, colocou no cárcere centenas de intelectuais que até hoje pontificam nas letras e nas ciências nacionais, matou cidadãos inocentes e maculou reputações, queimou livros e desonrou o país.

O golpe foi consumado na Alemanha e seu povo provou o fruto amargo da constatação de Niccolò Machiavelli, segundo qual “a política não tem relação com a moral, a politica é a arte de enganar”, conclusão a que chegou o florentino depois de estudar os príncipes de sua época e da história passada.

A moral não pode ser invocada num ambiente político contaminado pela corrupção sistêmica, corrupção que se  alastrou em todo  sistema jurídico-politico do país, cuja  extinção demanda reformas de  grande profundidade,  capazes de  alterar nosso sistema eleitoral e criar barreiras  eficazes à proliferação do assalto aos bens e ao dinheiro público.

A um sistema assim deteriorado em seus  fundamentos morais e institucionais, não é possível conceder confiabilidade e legitimidade às suas  alegações, aceitar suas tropelias diárias, suas “verdades” que se  dissolvem a cada  dia num mar de mentiras, seus arranjos para recuperar condenados pela Justiça e  suas manobras para interferir em resultados  eleitorais sejam esquecidos  e  abandonados, como se o país tivesse perdido suas memórias e sua própria História.

Os aparatos ideológicos da sociedade, que a ela deviam servir com lealdade, destacam-se a imprensa, que têm em 2024 o mesmo comportamento desatento, quando não para  corroborar a farsa, deixa-la incólume, sem ao menos questionar suas alegações sem provas, seus fatos risivelmente ridículos e suas flagrantes incongruências legais.

Repito, com Benjamim Franklin, “ a verdade é filha do tempo, não da autoridade”!

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