Marcelo Cordeiro

O discurso de entrega do pr&ecirc;mio Nobel da Paz a Maria Corina Machado, proferido pelo presidente do Comit&ecirc; Nobel, em Oslo, capital da Noruega, senhor Jorgen Watne Frydnes, representa a mais cabal reprova&ccedil;&atilde;o global aos regimes totalit&aacute;rios espalhados pelo mundo. Pela sua profundidade e coer&ecirc;ncia &eacute; uma advert&ecirc;ncia a todos os regimes autocr&aacute;ticos existentes e &agrave;queles em pleno desenvolvimento, como &eacute; o caso da ditadura judicial instalada no Brasil. 
O Comit&ecirc; noruegu&ecirc;s atribui o galard&atilde;o da paz a Maria Corina Machado, l&iacute;der inconteste da Oposi&ccedil;&atilde;o venezuelana ao regime de Nicol&aacute;s Maduro pelo seu &ldquo;trabalho incans&aacute;vel na promo&ccedil;&atilde;o de direitos democr&aacute;ticos para o povo da Venezuela&rdquo; e pela &ldquo;sua luta para alcan&ccedil;ar uma transi&ccedil;&atilde;o justa e pac&iacute;fica da ditadura para a democracia&rdquo;. 
Neste sentido, a l&iacute;der do povo venezuelano expressa a convic&ccedil;&atilde;o que, a despeito do car&aacute;ter sanguin&aacute;rio e violento do regime iniciado por Hugo Chaves, como t&atilde;o bem destacou o presidente do Comit&ecirc; Nobel, a transi&ccedil;&atilde;o deve percorrer um caminho democr&aacute;tico, alicer&ccedil;ada em elei&ccedil;&otilde;es livres. 
A primeira li&ccedil;&atilde;o que se depreende desse comportamento t&aacute;tico &eacute; a necess&aacute;ria unidade das for&ccedil;as pol&iacute;ticas, empenhadas na mudan&ccedil;a de regime e o advento de uma Venezuela livre. Sem essa condi&ccedil;&atilde;o pr&eacute;via, torna-se muito dif&iacute;cil, mesmo com a poderosa ajuda dos Estados Unidos, derrotar um regime que, ao longo de mais de vinte anos, se estruturou como um Estado de narcotraficantes, policial e terrorista! &nbsp; 
Em meio a todo esfor&ccedil;o e os perigos envolvidos, Maria Corina n&atilde;o logrou participar da solenidade de premia&ccedil;&atilde;o e foi substitu&iacute;da por sua filha, cujo corajoso e l&uacute;cido discurso a todos contagiou e comoveu, o que era esperado. &ldquo;O inesperado fez uma surpresa&rdquo; rica e digna da grandeza moral e pol&iacute;tica da solenidade. 
T&atilde;o surpreendente quanto o discurso da homenageada foi o do promotor da homenagem. Em nome da premia&ccedil;&atilde;o concedida, o presidente do Comit&ecirc; Nobel descreveu em seus mais contundentes pormenores o terror da ditadura, sua crueldade e os pavorosos crimes por ela cometidos &nbsp;contra os direitos &nbsp;humanos. &nbsp; 
Se a opini&atilde;o p&uacute;blica mundial tinha algum d&uacute;vida quanto a legalidade e conveni&ecirc;ncia da interven&ccedil;&atilde;o norte-americana para eliminar a ditadura de Nicol&aacute;s Maduro e seus c&uacute;mplices, j&aacute; os pode arquivar em nome da restaura&ccedil;&atilde;o plena dos valores da democracia.&nbsp; 
A Venezuela &eacute; mais que uma realidade local, incrustada no &nbsp;continente latino americano. &Eacute; o desenho de um novo modelo de totalitarismo, aurido dos restos mortais do &nbsp;socialismo fracassado, em todos os &nbsp;seus &nbsp;experimentos. Do antigo regime conservou o coletivismo autorit&aacute;rio e enveredou por um sistema econ&ocirc;mico e social baseado na &nbsp;elimina&ccedil;&atilde;o, ainda que gradual e &agrave;s vezes &nbsp;violenta, da propriedade privada. 
A concess&atilde;o do pr&ecirc;mio Nobel da Paz a Corina Machado, colheu um amplo apoio da opini&atilde;o p&uacute;blica mundial e seu fruto mais importante para as liberdades no mundo, &eacute;, sem d&uacute;vida, a advert&ecirc;ncia que cont&eacute;m, a fim de que n&atilde;o prospere, principalmente na Am&eacute;rica do Sul, essa erva &nbsp;daninha, que &nbsp;amea&ccedil;a a democracia, trilhando os mesmos &nbsp;caminhos por onde o totalitarismo se &nbsp;instalou na &nbsp;Venezuela. Maria Corina, elevou sua voz a alturas para que todos ou&ccedil;am e entendam, que uma vez instaladas as ditaduras erguem muralhas &agrave; sombra das quais sobrevivem!

O presidente dos Estados Unidos da Am&eacute;rica, Donald Trump, &eacute; um livro aberto ou uma grande inc&oacute;gnita. Dele se diz que &eacute; um jogador, sem princ&iacute;pios e um negociador sagaz e falso. &Eacute; capaz de tudo. Mentir, enganar e nele n&atilde;o se pode confiar. Outros, o veem como l&iacute;der de uma grande na&ccedil;&atilde;o, o restaurador de princ&iacute;pios que muitos consideravam mortos. Trump &eacute; o defensor universal dos direitos humanos, o baluarte da livre express&atilde;o, o exterminador da fal&aacute;cia woke, o inimigo n&uacute;mero um da censura, enfim, o presidente norte-americano que lidera em variadas frentes as mudan&ccedil;as geopol&iacute;ticas do mundo moderno.

N&atilde;o faz muito tempo, ele recebeu na Casa Branca o prefeito eleito de Nova Iorque, o democrata Zohran Mandani e esparramou-se em elogios ao socialista mul&ccedil;umano que havia chamado Trump de fascista e outros predicados desairosos, em sua campanha eleitoral!

A desfa&ccedil;atez do presidente norte-americano n&atilde;o parou por a&iacute;. Surpreendeu o mundo inteiro ao declarar, em encontro casual e moment&acirc;neo na Assembleia Geral das Na&ccedil;&otilde;es Unidas, o seu s&uacute;bito amor a Lula da Silva, o presidente brasileiro, de quem ouviu os mais ferozes improp&eacute;rios, desafios e chicanas.

Nada disso, contudo, impediu Trump, de buscar no fundo do cora&ccedil;&atilde;o esse inesperado amor, do qual se espera prod&iacute;gios que s&oacute; uma alma apaixonada pode alimentar.

Xi Jinping jamais esperou palavras t&atilde;o doces com que Trump lhe distinguiu: &ldquo;ele certamente n&atilde;o quer ver tumulto e morte. Ele n&atilde;o quer isso. Ele &eacute; um homem bom. Ele &eacute; um homem muito bom e eu o conheci muito bem&rdquo;. Esse nobres sentimentos aliviaram o mundo, que temia a hecatombe nuclear entre as duas pot&ecirc;ncias!

Quem n&atilde;o se lembra do encontro rom&acirc;ntico entre Trump e Kim Jong Um? O l&iacute;der da ditadura da Cor&eacute;ia do Norte, pouco antes tinha afirmado &ldquo;que se os imperialistas norte-americanos nos provocarem, n&atilde;o hesitaremos em revidar com um ataque nuclear preventivo.&rdquo; &nbsp;Em entrevista &agrave; Blomberg veio a resposta: &ldquo;Se fosse apropriado eu me encontrar com ele, eu o faria sem hesitar, seria uma &nbsp;honra.&rdquo;&nbsp;

Recentemente, nada foi mais emblem&aacute;tico da personalidade do presidente norte-americano do que a &nbsp;conversa telef&ocirc;nica com Nicol&aacute;s Maduro, l&iacute;der de um cartel de &nbsp;entorpecentes, ditador da Venezuela, sancionado pelo crime de pr&aacute;ticas contra os direitos &nbsp;humanos. O presidente eleito democraticamente bate um papo com um terrorista e chega a oferecer-lhe a ren&uacute;ncia e a fuga segura da Venezuela, rompendo o princ&iacute;pio, assaz conhecido, que n&atilde;o &eacute; l&iacute;cito e moral, nestas condi&ccedil;&otilde;es, negociar com um bandido.

Ah! Trump, quem te viu e quem te v&ecirc;. Ama a qualquer um, beija seus mais inimigos figadais, encontra com ditadores no escurinho do cinema e causa reboli&ccedil;o, como aconteceu com os esquerdopatas que o odiavam, bem aqui em nossa frente! A impress&atilde;o que d&aacute; est&aacute; contida na famosa afirma&ccedil;&atilde;o de Thomas Sowell: &ldquo;nada &eacute; t&atilde;o ruim que pol&iacute;ticos n&atilde;o possam piorar&rdquo;! 
Qual &eacute; o Trump real? Quem de fato &eacute; esse fingido bajulador? Se assemelha, &agrave;s vezes, ao poeta retratado por Fernando Pessoa: &ldquo;o poeta &eacute; um fingidor, finge t&atilde;o completando que &agrave;s vezes finge ser dor, a dor que deveras sente.&rdquo; Remanesce a pergunta: &eacute; a cara ou &eacute; a coroa?

Ao longo da hist&oacute;ria em que o mundo &eacute; mundo, j&aacute; se passaram muitos tipos de diplomacia entre os pa&iacute;ses. Entre elas floresceu por muitos s&eacute;culos a diplomacia papal, na qual o Papa da &eacute;poca celebrava acordos e tratados e os &nbsp;submetiam aos pa&iacute;ses, &agrave;s vezes, em contendas mortais. &nbsp;Conhecemos a diplomacia matrimonial, pela qual os casamentos entre homes e mulheres de diferentes coroas selavam a paz entre elas e fortaleciam suas alian&ccedil;as pol&iacute;ticas. Pelo s&eacute;culo XIX afora desenrolou-se a diplomacia secreta, sistema cujo vigor levaria &agrave; guerra e &agrave;s &nbsp;contesta&ccedil;&otilde;es, sobretudo no campo colonial. 
Atualmente, entre outras prosopopeias internacionais, e depois de muitas idas e vindas, entra em cena a diplomacia do amor &agrave; primeira vista, entre o presidente norte-americano Donald Trump e Lula da Silva, o brasileiro. Curioso &eacute; que entre eles rolava um &oacute;dio carniceiro, no qual Lula da Silva n&atilde;o poupava o norte-americano de toda sorte de pornografias e insultos e Trump respondia com obsequiosas san&ccedil;&otilde;es e duras considera&ccedil;&otilde;es sobre o estado da republica brasileira. &nbsp; 
De repente, num encontro fortuito, ocasional e breve entre os dois, no mesmo instante em que Lula da Silva acabara de pronunciar discurso bastante cr&iacute;tico aos Estados Unidos da Am&eacute;rica, sob a aten&ccedil;&atilde;o de representantes das na&ccedil;&otilde;es do mundo na Assembleia Geral da ONU, Trump declara seu amor s&uacute;bito ao apedeuta que governa o Brasil, inaugurando um tipo brega de diplomacia entre na&ccedil;&otilde;es. 
Espoucaram foquetes de alegria entre os apoiadores de Lula da Silva, saudando o amor que nascia entre os dois. Lula demorou a crer que aquele id&iacute;lio era para valer, por&eacute;m, receoso de visitar o sal&atilde;o oval da Casa Branca, o brasileiro preferiu encontrar-se com o presidente norte-americano na Mal&aacute;sia, onde todos os gatos s&atilde;o pardos. 
Sem penetrar em pormenores, sobejamente conhecidos, negocia&ccedil;&otilde;es transcorreram entre representantes &nbsp;governamentais dos &nbsp;dois Governos &nbsp;e culminaram com a elimina&ccedil;&atilde;o de tarifas prejudiciais aos &nbsp;exportadores brasileiros, mas necess&aacute;rias a &nbsp;conter a infla&ccedil;&atilde;o que j&aacute; recaia sobre produtos agr&iacute;colas consumidos pelos americanos, como laranja, caf&eacute;, banana e outros...&nbsp; 
Essa inusitada diplomacia, segundo fontes desconhecidas &ndash;considerando que o amor &eacute; assunto privado e &iacute;ntimo &ndash; conduziu os presidentes a analisarem conjuntamente a revoga&ccedil;&atilde;o da Lei Magnitsky, com a qual os EUA sancionaram o ministro do TRF Alexandre de Moraes, por crime contra os direitos humanos, e a suspens&atilde;o de vistos americanos a autoridades brasileiras.&nbsp; 
&Eacute; voz corrente que o diabo &eacute; capaz de rezar ora&ccedil;&otilde;es dos &nbsp;santos &nbsp;evangelhos, se isso lhe &nbsp;convier. Consequentemente, n&atilde;o devemos duvidar de nada. Repito com Sancho Pan&ccedil;a, em Don Quixote de la Mancha: &ldquo;yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay&rdquo;. 
Fala-se tamb&eacute;m que em troca dessas exorbitantes benesses, Trump teria pedido que o Brasil retornasse &agrave; &ndash;plenitude do estado democr&aacute;tico de direito, que a anistia ampla geral e irrestrita fosse aprovada no Congresso Nacional, que as empresas americanas de tecnologia ficassem livres do arrocho fiscal, que a censura fosse &nbsp;extirpada do Brasil... &nbsp;Nessa tamb&eacute;m estou inteiramente com Sancho Pan&ccedil;o! 
O certo &eacute; que estamos imersos num mundo de imagens, que n&atilde;o se pode acreditar em tudo. N&atilde;o se pode tamb&eacute;m de tudo descrer, j&aacute; que o mundo, tal como ele caminha, vai terminar num beco sem sa&iacute;da, no qual todos veem imagens e acreditam que s&atilde;o a realidade, como nos &nbsp;antecipou Jos&eacute; Saramago: &ldquo;o mundo est&aacute; a converte-se numa caverna igual &agrave; de Plat&atilde;o&rdquo;.

Miguel Torga, poeta portugu&ecirc;s dos mais aclamados, definiu num poema imortal, o que se passa no Brasil dos nossos tempos, tempos sombrios e dolorosos. Diz ele: &ldquo;&eacute; um fen&ocirc;meno curioso: o pa&iacute;s ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas n&atilde;o passa disto. Falta-lhe o romantismo t&iacute;pico da agress&atilde;o. Somos, socialmente, uma coletividade pac&iacute;fica de revoltados&rdquo;.

Por toda parte, no Senado e no povo, ouve-se o grito indignado, num protesto veemente e amargurado contra a decis&atilde;o monocr&aacute;tica do ministro decano do STF, Gilmar Mendes, que revoga parte de uma provecta lei dos idos de 1950, que estabelece o rito de impeachment&nbsp;de ministro do tribunal superior.

A decis&atilde;o monocr&aacute;tica, dependente de aprova&ccedil;&atilde;o pelo pleno do STF, retira do cidad&atilde;o comum o pedido de impedimento de um juiz do tribunal e o transfere para a Procuradoria Geral da Rep&uacute;blica &ndash; PGR, que passa a ter a prerrogativa exclusiva de faz&ecirc;-lo e outras decis&otilde;es liminares que eliminam prerrogativas dos Senadores, com- figuradas na Constitui&ccedil;&atilde;o Federal de 1988. 
N&atilde;o pretendo fazer deste coment&aacute;rio uma abordagem jur&iacute;dica, trazendo &agrave; tona o que estabelece com absoluta clareza o texto constitucional. Isto j&aacute; feito pelas milhares de cr&iacute;ticas publicadas pelo pa&iacute;s afora.

Contento-me se conseguir figurar entre os que pertencem &agrave; coletividade, sem dela ser mais um dos pacificamente revoltados. Exercer, por assim dizer a cidadania que est&aacute; sendo violentamente usurpada e desgra&ccedil;adamente violada.

Com este ato transloucado do ministro mais antigo do tribunal, presenciamos um &uacute;nico homem destituir direitos de todos os brasileiros consagrados na Constitui&ccedil;&atilde;o, ou seja, arvora-se a detentor de um poder imagin&aacute;rio, que s&oacute; existe na arrog&acirc;ncia golpista de suas lesivas atribui&ccedil;&otilde;es.

O que fazer, sen&atilde;o instaurar inqu&eacute;rito policial e atrav&eacute;s dele proceder &agrave; den&uacute;ncia pela PGR deste crime inomin&aacute;vel, somente designado como efetivo ato destinado a usurpar poderes constitucionais da Rep&uacute;blica e atentado real ao estado democr&aacute;tico de direito.&nbsp;

Est&aacute; redondamente equivocada a ministra Carmen L&uacute;cia, parceira de Gilmar Mendes, quando pretende ditar regras contra a civiliza&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica e liberal, quando afirma, a fim de iludir os incautos e incultos, que &ldquo;n&oacute;s estamos entrando no per&iacute;odo da democracia apresentativa. O cidad&atilde;o n&atilde;o quer mais se representar. Ele quer se apresentar&rdquo;. Que estupidez! Com essas palavras ela imagina que derrubou de uma vez a grande engenharia humana com a qual a democracia moderna foi constru&iacute;da!

O que est&aacute; sendo demolido &eacute; o princ&iacute;pio de pesos e contrapesos, pensado por Montesquieu, aprimorado pelo prof&iacute;cuo debate republicano dos pa&iacute;s fundadores da democracia norte-americana, cujos princ&iacute;pios fundamentais tem inspirado o mundo ocidental.&nbsp;

Sem eles e a previs&atilde;o constitucional de como deve funcionar, instauramos a mais odiosa e completa ditadura, a ditadura do poder judici&aacute;rio, contra a qual todos os demais poderes perdem suas prerrogativas pr&oacute;prias e eliminam as fronteiras da harmonia e da independ&ecirc;ncia entre eles.&nbsp;

O protesto quase un&acirc;nime que se espalhou pela na&ccedil;&atilde;o, diante deste ato inconceb&iacute;vel do ministro Gilmar Mendes, converte-se em a&ccedil;&otilde;es pr&aacute;ticas dos demais poderes, principalmente o legislativo, ou exprimir&aacute; outra vez a coletividade pac&iacute;fica de revoltados.

Imaginemos que tal anomalia passar&aacute; a vigorar em fun&ccedil;&atilde;o do poder esmagador que o STF exerce sobre a rep&uacute;blica, brevemente estaremos a bra&ccedil;os com a mais nova aspira&ccedil;&atilde;o da ditadura. A cria&ccedil;&atilde;o da guarda nacional em substitui&ccedil;&atilde;o das for&ccedil;as armadas brasileiras, com a mesma finalidade com que foi criada por Hugo Chaves na Venezuela, n&atilde;o restar&aacute; sen&atilde;o uma nevoa da democracia que j&aacute; imperou neste pa&iacute;s.

&Eacute; bom lembrar o que disse Monstesquieu: &ldquo;a injusti&ccedil;a se &nbsp;espalha e amea&ccedil;a toda a sociedade&rdquo;. &Eacute; tarde, mas em tempo!

Marcelo Cordeiro

Acabe, casado com Jezabel, foi um rei de Israel. A B&iacute;blia &nbsp;relata que ele teria sido o mais infame dos reis. Cometeu maldades inenarr&aacute;veis contra o seu povo, provocou guerras e arruinou a f&eacute; com idolatria e culto aos deuses pag&atilde;os. Terminou castigado por Deus e morto por seus inimigos. 
O pr&oacute;prio nome Acabe sugere o fim de uma monarquia marcada pela fome generalizada e viol&ecirc;ncia contra os s&uacute;ditos. 
Para destronar este rei perverso Deus ordenou a for&ccedil;a, at&eacute; que Acabe fosse defenestrado e morto. A li&ccedil;&atilde;o b&iacute;blica nos &nbsp;ensina que devemos estar preparados para nos valer da &nbsp;for&ccedil;a, a fim de defender a civiliza&ccedil;&atilde;o, a menos que a nossa &nbsp;escolha seja admitir e &nbsp;aceitar o barbarismo. 
A semelhan&ccedil;a com os recentes acontecimentos, confrontando os Estados Unidos da Am&eacute;rica, sob a lideran&ccedil;a de Donald Trump e a Venezuela do ditador Nicolas Maduro, prolongados por longos tr&ecirc;s meses, &eacute; uma demonstra&ccedil;&atilde;o de que o tempo &eacute; o capital utilizado pelos norte-americanos, com vistas a alcan&ccedil;arem seus objetivos. Os americanos est&atilde;o convencidos de que &ldquo;paci&ecirc;ncia e tempo d&atilde;o mais resultados do que for&ccedil;a e raiva&rdquo;, em conson&acirc;ncia com a famosa par&oacute;dia de La Fontaine.&nbsp; 
Maduro e sua entourage lideram o marcoterrorismo de Estado instalado na Venezuela, a fim de promover a distribui&ccedil;&atilde;o de drogas na Am&eacute;rica do norte e submeter o povo a uma repress&atilde;o cruel, razias e pris&otilde;es ilegais, imigra&ccedil;&atilde;o for&ccedil;ada, torturas e &agrave; ditadura. 
Depois de percorrer sucessivas e diferentes etapas no crescente cerco da Venezuela por cerca 30% da poderosa frota naval dos EUA, o Presidente Trump determinou o fechamento do espa&ccedil;o a&eacute;reo venezuelano. Para o Governo do ditador Maduro foi um ato ilegal e colonialista, enquanto o povo e as lideran&ccedil;as oposicionistas do pa&iacute;s veem como mais um passo para a reconquista do estado democr&aacute;tico de direito. 
O Governo norte-americana anuncia, no presente momento, a sua decis&atilde;o de -uma vez considerado o cartel de Los Soles dirigido por Maduro uma associa&ccedil;&atilde;o narcotraficante -, de iniciar as a&ccedil;&otilde;es militares em territ&oacute;rio venezuelano, visando eliminar o tr&aacute;fico de drogas e &nbsp;restaurar o regime democr&aacute;tico. 
Tais objetivos norte-americanos encontram decisivo apoio das correntes democr&aacute;ticas da Venezuela, exprimindo uma alian&ccedil;a solid&aacute;ria, destinada a somar os esfor&ccedil;os despendidos pela popula&ccedil;&atilde;o com a interven&ccedil;&atilde;o externa, sem que esta &uacute;ltima represente uma inger&ecirc;ncia indevida na &nbsp;soberania venezuelana, mas o &uacute;nico caminho &nbsp;que resta para o advento de elei&ccedil;&otilde;es transparentes e &nbsp;altern&acirc;ncia democr&aacute;tica do poder.&nbsp; 
A discrep&acirc;ncia de for&ccedil;as efetivas entre os Estados Unidos e a Venezuela &eacute; patente. O processo de divis&atilde;o e incertezas corr&oacute;i a aparente solidez do aparato militar venezuelano e n&atilde;o se pode confiar na convoca&ccedil;&atilde;o massiva de mil&iacute;cias civis despreparadas e dispostas como escudos humanos. 
Muitas s&atilde;o as rotas de fuga de Maduro e os principais baluartes do regime, por&eacute;m muitas d&uacute;vidas permanecem no ar e tantas incertezas e desconversam podem resultar em cenas semelhantes aquelas com que Lu&iacute;s XVI da Fran&ccedil;a terminou guilhotinado ou Saddam Hussein fugindo de &nbsp;buraco em buraco at&eacute; ver sua caveira final!&nbsp; 
Negocia&ccedil;&otilde;es foram entabuladas, a ponto de culminar com propostas que beiram o rid&iacute;culo e com as quais o ditador Maduro passou da encena&ccedil;&atilde;o desafiadora &agrave;s promessas de entregar as riquezas naturais da Venezuela, sugerir a sua perman&ecirc;ncia tempor&aacute;ria no poder e afinal transferi-lo &agrave; oposi&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica na condi&ccedil;&atilde;o de deter o comando das for&ccedil;as armadas e anistia plena para os crimes que cometeu. Obteve apenas do governo norte-americano o salvo conduto para buscar asilo com sua fam&iacute;lia e seus principais asseclas em destinos ainda incertos.&nbsp; 
T&atilde;o incertos que n&atilde;o se sabe se seus c&uacute;mplices principais, entre eles os cubanos, os &ldquo;deodatos e padrinos&rdquo; e outros bem conhecidos, permitir&atilde;o que ele escape!

Quando o Rei portugu&ecirc;s, Afonso IV ordenou o sacrif&iacute;cio de In&ecirc;s de Castro, amante do seu filho e herdeiro D. Pedro I, por volta do ano de 1335, n&atilde;o imaginou que o poeta Lu&iacute;s de Cam&otilde;es tornaria este hediondo assassinato, at&eacute; hoje, famoso. &nbsp;Em versos memor&aacute;veis, lastimou a morte de In&ecirc;s, que fora coroada, pelo seu amante, rainha de Portugal. O maior de todos os poetas portugueses lastimou que &ldquo;a m&iacute;sera e mesquinha, depois de morta foi rainha&rdquo;. 
Imagino que os Estados Unidos da Am&eacute;rica poder&atilde;o no futuro pr&oacute;ximo, mais pr&oacute;ximo do que imaginam, carpidar o desaparecimento das democracias no hemisf&eacute;rio ocidental, mais precisamente na Am&eacute;rica Latina, na qual Cuba, Venezuela, Nicar&aacute;gua j&aacute; seguiram este caminho e o Brasil &nbsp;d&aacute; passos largos na mesma dire&ccedil;&atilde;o. 
N&atilde;o perceber esta realidade &eacute; tapar o sol com uma peneira. No nosso pa&iacute;s desapareceram a separa&ccedil;&atilde;o dos poderes republicanos, a temperan&ccedil;a e a justi&ccedil;a sumiram dos Tribunais superiores, o jogo eleitoral foi violentamente sacrificado, a pol&iacute;tica externa do atual Governo rompeu com todas as nossas tradi&ccedil;&otilde;es e imbricou-se com ditaduras e terrorismo, o narco-tr&aacute;fico instalou-se na estrutura &nbsp;governamental, enfim, aceitar que em 2026 teremos &nbsp;elei&ccedil;&otilde;es livres &eacute; um sonho de uma noite &nbsp;ver&atilde;o! &nbsp; 
Esses pa&iacute;ses, sem exce&ccedil;&atilde;o, implantaram seus regimes totalit&aacute;rios, valendo-se das imperfei&ccedil;&otilde;es que infelizmente est&atilde;o profundamente arraigadas aos seus sistemas pol&iacute;ticos, favorecidos pela dualidade de suas estruturas econ&ocirc;micas e sociais, as quais convivem com gritantes desigualdades. 
N&atilde;o creio que hajam muitos analistas, por mais experientes que sejam, capazes de predizer com absoluta certeza o desfecho final da atual crise diplom&aacute;tica e militar que se configura atualmente na regi&atilde;o caribenha, envolvendo principalmente a Venezuela e o regime narcotraficante de Nicol&aacute;s Maduro. Igualmente, n&atilde;o consigo ver com clareza, o consect&aacute;rio dos diferentes problemas da&iacute; decorrentes, sejam quais forem as solu&ccedil;&otilde;es deste enfrentamento, que, por seu turno, guardam caracter&iacute;sticas inusitadas e repercuss&otilde;es regionais e globais. O principal objetivo dos Estados Unidos &eacute; assegurar para o futuro das Am&eacute;ricas a preval&ecirc;ncia da democracia e dos valores tradicionais presentes na base moral e filos&oacute;fica do mundo ocidental, amea&ccedil;ados pelo avan&ccedil;o comercial e pol&iacute;tico da China, da R&uacute;ssia e do Ir&atilde; na regi&atilde;o. 
Para alcan&ccedil;ar seus desideratos, os norte-americanos necessitam admitir que os problemas, tal como s&atilde;o colocados e entendidos na geopol&iacute;tica do mundo atual, s&atilde;o t&atilde;o pertinentes aos Estados Unidos, como atingem diretamente as demais na&ccedil;&otilde;es do continente, cujos &nbsp;esfor&ccedil;os s&atilde;o notoriamente insuficientes para &nbsp;consolidar um regime de liberdades e progresso econ&ocirc;mico. &nbsp; 
A Venezuela, a Col&ocirc;mbia, a Nicar&aacute;gua e Cuba representam, em muitos aspectos - uma vez eliminados os seus regimes opressivos - e na medida que a interven&ccedil;&atilde;o norte-americana seja bem sucedida, uma significativa transforma&ccedil;&atilde;o no espa&ccedil;o geopol&iacute;tico do mar do Caribe.&nbsp; 
Todavia, conv&eacute;m ressaltar que o mapa da mina est&aacute; mais &nbsp;ao sul do Continente: se &nbsp;chama Brasil. A venezualiza&ccedil;&atilde;o das institui&ccedil;&otilde;es brasileiras j&aacute; chegou a um ponto em que silenciar &eacute; uma demonstra&ccedil;&atilde;o de estupidez. Franz Kafta n&atilde;o deixa por menos e nos diz claramente: &ldquo;a partir de &nbsp;certo ponto n&atilde;o h&aacute; retorno. Esse &eacute; o ponto que deve ser alcan&ccedil;ado&rdquo;. 
O Brasil enfrentou por mais de vinte anos uma ditadura militar. Longos vinte anos. N&atilde;o foi f&aacute;cil remov&ecirc;-la e alcan&ccedil;ar o continente democr&aacute;tico. Ouso dizer que a ditadura de 64, como foi chamada &ndash;apesar do horror inomin&aacute;vel que representou &ndash; foi menos viral e demon&iacute;aca do que esta, que mina at&eacute; destruir, os recursos pol&iacute;ticos que, a duras penas, a na&ccedil;&atilde;o reuniu. 
O pa&iacute;s se v&ecirc; apartado de todos os valores que constitu&iacute;ram sua cultura e suas cren&ccedil;as morais. &Eacute; hora de recobr&aacute;-los. Custe o que custar!&nbsp; 
E os Estados Unidos da Am&eacute;rica? O que representa a maior na&ccedil;&atilde;o do continente latino americano abandonar sua pr&oacute;pria hist&oacute;ria, sua ineg&aacute;vel for&ccedil;a pol&iacute;tica no Continente e gerar o ovo da serpente?&nbsp; 
As viola&ccedil;&otilde;es se espalham como um rastilho de p&oacute;lvora e eliminam as liberdades democr&aacute;ticas no Brasil, levam de rold&atilde;o um continente inteiro e amea&ccedil;am a mais pungente na&ccedil;&atilde;o do mundo &agrave; sua pr&oacute;pria sobreviv&ecirc;ncia.&nbsp; 
A&iacute;, In&ecirc;s de Castro ainda estar&aacute; viva. Por&eacute;m, dando o seu &uacute;ltimo suspiro de vida. Logo estar&aacute; completamente morta. Mais morta do que imaginas!

Com essa frase prof&eacute;tica, o iluminado pintor Van Gogh, em seu leito de morte, disse ao seu irm&atilde;o Theo, est&aacute; famosa frase, muito provavelmente com a finalidade de assegurar que certas tristezas tem o dom da eternidade e que permanecer&atilde;o atormentando o homem para sempre.

&Eacute; o que n&oacute;s vivemos na atualidade brasileira, tamanha s&atilde;o as aberra&ccedil;&otilde;es morais a que estamos submetidos, como indiv&iacute;duos e como na&ccedil;&atilde;o. Friedrich Nietzsche observou que, em casos assim, &ldquo;deves estar preparado para arder em seu pr&oacute;prio fogo. Como podes renascer se n&atilde;o te h&aacute;s convertido antes em cinzas?&rdquo;, perguntou o grande &nbsp;pensador alem&atilde;o.

A inesperada pris&atilde;o do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado em processo kafkiano a 27 anos de pris&atilde;o em regime fechado, sobre o qual me dispenso de descrever, considerando a torrente de considera&ccedil;&otilde;es que j&aacute; o descreveram, salientando suas iniquidades e a grosseria jur&iacute;dica com que foi conduzido.&nbsp;

A pris&atilde;o do ex-presidente revelou ao mundo a natureza totalit&aacute;ria, n&atilde;o s&oacute; do processo tal como se desenrolou, mas &nbsp;configurou claramente o ardil pol&iacute;tico, com o qual a est&uacute;pida alian&ccedil;a entre os poderes da &nbsp;Rep&uacute;blica, eliminaram os &nbsp;direitos &nbsp;dos cidad&atilde;os, constitucionalmente consagrados.

A ditadura da Toga, ent&atilde;o institu&iacute;da, desmontou o regime democr&aacute;tico, t&atilde;o duramente constru&iacute;do pelo povo brasileiro e, diferentemente das ditaduras militares &ndash;que j&aacute; &nbsp;tivemos no passado &ndash; se cobre de um falso manto de legalidade, aproveitando da cren&ccedil;a popular, t&atilde;o arraigada no seio do povo, de que as &nbsp;decis&otilde;es &nbsp;emanadas do poder judici&aacute;rio, devem ser cumpridas por todos, corroborando a magistral afirma&ccedil;&atilde;o de Fran&ccedil;ois Guizot, o &nbsp;constitucionalista franc&ecirc;s do s&eacute;culo passado, que t&atilde;o oportunamente asseverou que &ldquo;quando a pol&iacute;tica penetra no recinto dos Tribunais, a justi&ccedil;a se &nbsp;retira por &nbsp;alguma porta&rdquo;.

A rea&ccedil;&atilde;o, t&atilde;o justa quanto necess&aacute;ria, da maior Democracia do mundo, atrav&eacute;s das contundentes e objetivas palavras do Secret&aacute;rio de Estado do Governo norte-americano, Marco R&uacute;bio, diz que este fato &ldquo;&eacute; mais uma campanha crescente de opress&atilde;o judicial&rdquo; e os &nbsp;Estados Unidos dar&atilde;o, nos pr&oacute;ximos dias, uma resposta cab&iacute;vel.

O Vice Secret&aacute;rio de Estado dos Estados Unidos, Cristofher Laudau, n&atilde;o foi menos enf&aacute;tico, ao dizer &ldquo;que n&atilde;o h&aacute; nada mais perigoso para a Democracia que um Juiz que n&atilde;o reconhece limites ao seu poder&rdquo; e acrescenta, de forma veemente, &ldquo;o juiz Moraes, um violador de direitos &nbsp;humanos sancionado, exp&ocirc;s o Supremo Tribunal do Brasil &agrave; vergonha e ao descr&eacute;dito internacional ao desrespeitar normas tradicionais de &nbsp;autoconten&ccedil;&atilde;o judicial e politizar de &nbsp;forma escancarada o processo judicial&rdquo;.

Essa situa&ccedil;&atilde;o, desmedida e falsificada, tal como dizia Rui Barbosa, na qual nada se pode esperar do poder judici&aacute;rio, jogou o pa&iacute;s no mais apavorante medo, impedindo a Na&ccedil;&atilde;o de manifestar seu profundo desprezo a esse regime de &nbsp;viola&ccedil;&otilde;es da lei e da &nbsp;Constitui&ccedil;&atilde;o.&nbsp;

O apoio pol&iacute;tico dos Estados Unidos e das democracias ocidentais tem sido de grande valor para conter a &nbsp;voracidade do &nbsp;regime de persegui&ccedil;&atilde;o e &nbsp;viol&ecirc;ncia pol&iacute;tica, mas estanca, n&atilde;o poucas vezes, em barreiras legais e pol&iacute;ticas e n&atilde;o deixa de inocular no inconsciente &nbsp;coletivo o receio de &nbsp;enfrentar as poderosas for&ccedil;as, que superam em muito &nbsp;aquelas &nbsp;que protagonizaram a repress&atilde;o da &nbsp;ditadura militar do passado. &nbsp;

N&atilde;o &eacute; por outro motivo que a supremocracia imperante, cuida, em primeiro lugar de suprimir a verdade, exatamente porque esta &eacute; o maior obst&aacute;culo ao poder absoluto.

L&iacute;, com a aten&ccedil;&atilde;o redobrada, o que disseram os representantes de diversas associa&ccedil;&otilde;es empresariais sobre a elimina&ccedil;&atilde;o da tarifa de 10% de diversos produtos exportados pelo nosso pa&iacute;s para os Estados Unidos, e a manuten&ccedil;&atilde;o da tarifa de 40% para esses mesmos produtos e outros que tamb&eacute;m tiveram suas tarifas majoradas.

Beneficiaram-se dessa medida executiva do presidente americano muitos pa&iacute;ses da &Aacute;sia e America Latina, sancionados com tarifas, inclusive superiores a 10%, que passaram a usufruir de tarifa Zero para suas exporta&ccedil;&otilde;es ao Estados Unidos de produtos agropecu&aacute;rios, como carne &nbsp;bovina, caf&eacute;, tomate, banana e outras frutas, sendo boa parte deles produtores dos mesmos produtos que os brasileiros e, consequentemente, seus concorrentes no mercado internacional.

Ficou claro que n&atilde;o havia motivos reais para festejar as medidas do governo americano. Elas n&atilde;o decorriam de um &ecirc;xito da diplomacia brasileira, mas reduziam a capacidade competitiva do Brasil e tornavam ainda mais dif&iacute;ceis as negocia&ccedil;&otilde;es em curso.

Na verdade, a tarifa de 40% sobre os produtos brasileiros eram tarifas punitivas, atrav&eacute;s das quais os norte americanos insistiam no retorno do Brasil ao pleno estado democr&aacute;tico de direito, a suspen&ccedil;&atilde;o dos embara&ccedil;os tribut&aacute;rios &agrave;s empresas americanas de tecnologia e outras quest&otilde;es no plano democr&aacute;tico.

A diplomacia brasileira travou a discuss&atilde;o destas quest&otilde;es pol&iacute;ticas cruciais, ao considera-las indispens&aacute;veis &agrave; &nbsp;continuidade de Lula da &nbsp;Silva no poder, ainda que ao pre&ccedil;o da destrui&ccedil;&atilde;o das liberdades democr&aacute;ticas no pa&iacute;s. &nbsp;Preferiu festejar a vit&oacute;ria de Pirro, que julgou conquistar com as decis&otilde;es presidenciais de Donald Trump, condenando, dessa forma, v&aacute;rias camadas da vida empresarial brasileira ao desastre econ&ocirc;mico e &agrave; fal&ecirc;ncia.&nbsp;

A festa durou pouco. O suficiente para deixar o pa&iacute;s perplexo, humilhado. Mais uma vez com o pires na m&atilde;o, pedindo socorro e clamando por uma nova reuni&atilde;o, na &nbsp;qual continuar&aacute; com a mesma cantilena. Que a Venezuela &eacute; soberana e um exemplo de democracia, que temos um tribunal superior comprometido com a Constitui&ccedil;&atilde;o e as leis, que o d&oacute;lar &eacute; o malfeitor da economia mundial, que os traficantes s&atilde;o boa gente e outras mumunhas mais!

Carl Sagam, cientista americano, definiu bem este comportamento canhestro, quando afirmou &ldquo;que nada me perturba mais do que a glorifica&ccedil;&atilde;o da estupidez&rdquo;. Ser&aacute; que Trump n&atilde;o percebe a estupidez de Lula e seu negociador? Ou lhe sobra paci&ecirc;ncia para suportar tanta estupidez e imbecilidade? Melhor seguir o que nos ensina La Fontaine com seu conselho eficaz: &ldquo;paci&ecirc;ncia e tempo d&atilde;o mais resultado do que for&ccedil;a e raiva&rdquo;. Penso que Trump est&aacute; atento ao que aconselha La Fontaine, sabendo com quem est&aacute; tratando!&nbsp;

O Brasil caiu na real e saiu do mundo da Lua. Comeu farofa e arrotou peru. Consolado por Gilberto Gil, seu cantor preferido, anda cantalorando, junto com Janja, sua parceira de infort&uacute;nio, a can&ccedil;&atilde;o genial do grande compositor: &ldquo;&eacute; chegada a hora de escrever e cantar talvez as derradeiras noites de luar&rdquo;.

N&atilde;o fosse a C&uacute;pula do G7, no Canad&aacute;, que Marco Vieira, Ministro das Rela&ccedil;&otilde;es Exteriores do Brasil, n&atilde;o teria se &nbsp;deparado com Marco Rubio, Secret&aacute;rio de Estado dos Estados Unidos. Neste encontro ocasional de cinco longos minutos, combinaram um novo encontro, em data n&atilde;o ajustada, a fim de prosseguirem com as negocia&ccedil;&otilde;es, iniciadas na Mal&aacute;sia.&nbsp; 
Esses encontros fortuitos parecem inaugurar uma nova &nbsp;forma de diplomacia, diferente da que se praticou no s&eacute;culo XIX e in&iacute;cio do XX, a famosa diplomacia secreta, base da Primeira Guerra Mundial. Naturalmente, que os encontros fortuitos n&atilde;o tem o mesmo car&aacute;ter explosivo da diplomacia sob sete panos! 
N&atilde;o sei se o Brasil ou nos Estados Unidos, qual dos dois &eacute; o mais respons&aacute;vel por essa brincadeira. O que &eacute; poss&iacute;vel saber &eacute; que a tal negocia&ccedil;&atilde;o entre os dois n&atilde;o prospera, n&atilde;o avan&ccedil;a um mil&iacute;metro sequer. O alto pre&ccedil;o, contudo, &eacute; &nbsp;pago pelos &nbsp;nossos agricultores. 
O pre&ccedil;o do caf&eacute; subiu 18% nos Estados Unidos e esse fato poderia indicar, inclusive em raz&atilde;o da recente afirma&ccedil;&atilde;o do presidente norte americano, que pretendia resolver este mal estar mercadol&oacute;gico o mais r&aacute;pido poss&iacute;vel. S&oacute; n&atilde;o disse como vai fazer. Reduzindo as tarifas impostas ao Brasil ou buscando novas rela&ccedil;&otilde;es comerciais para a importa&ccedil;&atilde;o do caf&eacute;? 
Com os lucros das tarifas, todavia, segundo Donald Trump, vai ser imediatamente concedido aos mais pobres um aux&iacute;lio de US$2,000. Segundo ele, os Estados Unidos se tornaram o &ldquo;pa&iacute;s mais rico e respeitado do mundo &ldquo; com &ldquo;quase nenhuma infla&ccedil;&atilde;o e um recorde hist&oacute;rico no mercado de &nbsp;a&ccedil;&otilde;es&rdquo;. 
O mandat&aacute;rio norte americano disse cobras e lagartos sobre a reuni&atilde;o internacional do clima, que o presidente do Brasil sediou, em Bel&eacute;m. Nela n&atilde;o compareceu e n&atilde;o sei porque cargas d&acute;agua tamb&eacute;m os pa&iacute;ses importantes dos BRICS, como R&uacute;ssia e China, al&eacute;m da maioria dos integrantes do Mercosul. Suspeito que a&iacute; tem o dedo dos Estados Unidos! 
E Lula, o que andou aprontando? Deu uma &ldquo;saidinha&rdquo; (&ecirc;pa, palavra na moda!) da COP30 e de bra&ccedil;os dados com o narcotraficante, Gustavo Petro, sancionado pelos Estados Unidos, rumou para a Col&ocirc;mbia, com a finalidade explicita de condenar as a&ccedil;&otilde;es militares dos Estados Unidos na Venezuela e testemunhar sua solidariedade ao tamb&eacute;m narcotraficante, Nicol&aacute;s Maduro.&nbsp; 
Mas, n&atilde;o parou por a&iacute;. Cogita at&eacute; dar uma mesada &agrave;s fam&iacute;lias dos narcoterroristas mortos no Rio de Janeiro, em embates armados com a pol&iacute;cia carioca. O presidente brasileiro mobiliza tudo que pode para impedir os traficantes de serem considerados do que realmente s&atilde;o, narcoterroristas. O objetivo &eacute; o e de protege-los de pol&iacute;ticas mais consistentes para o necess&aacute;rio enfrentamento internacional. 
Por que n&atilde;o, de reuni&atilde;o em reuni&atilde;o, a diplomacia da picula, converte cada encontro em um misterioso pega-pega diplom&aacute;tico? 
Talvez, Jos&eacute; Saramago, em uma das suas boas anedotas, tenha uma solu&ccedil;&atilde;o, em forma de uma not&aacute;vel contradi&ccedil;&atilde;o. O c&eacute;lebre autor portugu&ecirc;s afirma: &ldquo;acho que n&atilde;o ficamos cegos, acho que estamos cegos, cegos que veem, cegos que, vendo, n&atilde;o veem&rdquo;. 
Pulando de galho em galho, de reuni&atilde;o em reuni&atilde;o, Marco Rubio, est&aacute; dando tempo ao tempo, na espera paciente, que nossos negociadores ofere&ccedil;am a joia da coroa: o retorno do Brasil ao estado democr&aacute;tico de direito, a anistia ampla, geral e irrestrita a todos os presos pol&iacute;ticos e exilados do Brasil. &Eacute; pedir demais? 
Talvez, desse modo a ditadura da Toga chega ao fim. Convenhamos, &eacute; pedir demais. &nbsp;At&eacute; o Lula &eacute; lan&ccedil;ado fora com a &aacute;gua do banho!

Por que n&atilde;o? O show tem que continuar, tal como disse o interprete do samba imortal: Arlindo Cruz. 
 
N&atilde;o importa que falte &aacute;gua nas torneiras, que ningu&eacute;m compare&ccedil;a ao lauto jantar da Janja, que o custo de vida em Bel&eacute;m seja estratosf&eacute;rico, que Lula, Janja e seus &nbsp;convidados &nbsp;navegem em iates de luxo, que mais de um bilh&atilde;o e meio sejam torrados dos cofres p&uacute;blicos, que Lula tenha deixado seus &nbsp;convidados a ver &nbsp;navios e correu pra beijar os p&eacute;s de Maduro, que pouca gente apareceu por aqui e deixou o presidente brasileiro com &nbsp;cara de tacho... 
 
O mundo todo reuniu-se na Terra em 2017 para definitivamente salvar o planeta. Ant&ocirc;nio Guterrez, Secret&aacute;rio-Geral das Na&ccedil;&otilde;es Unidas, convocou a todos para a terceira guerra mundial e disparou o terr&iacute;vel vatic&iacute;nio dos nossos tempos: &ldquo;estamos na luta de nossas vidas e estamos perdendo. Emiss&otilde;es de gases de efeito estufa est&atilde;o aumentando. A temperatura global continua subindo. E o nosso planeta est&aacute; rapidamente atingindo pontos de inflex&atilde;o, que far&atilde;o o caos clim&aacute;tico ser inflex&iacute;vel. Estamos numa rodovia para o inferno clim&aacute;tico com os p&eacute;s ainda no acelerador.&rdquo; 
 
A cobra vai fumar. Nunca se viu tanta gente e tanto dinheiro para encher as &aacute;vidas sacolas do pessoal das ONGs. Era o canto da sereia das grandes COPs. Se a de 2017 reuniu 30 mil pessoas, a de 2018 teve mais de 90 mil pessoas. S&oacute; de lobistas das empresas de &oacute;leo e g&aacute;s tivemos mais de 2.000 credenciadas e das OGNs foi preciso um outro edif&iacute;cio para abriga-las, tamanha era seu apetite diante do apocalipse ambiental. O Brasil s&oacute; foi superado pelo anfitri&atilde;o, o Egito, mas concorreu com louvor, mandando para ver as pir&acirc;mides mais de 3.000 participantes! 
 
Mas, foi tamb&eacute;m o crep&uacute;sculo dos deuses. Novas teorias sobre a te&oacute;rica cat&aacute;strofe que aguardava o planeta vem prosperando, a ponto de centenas de cientistas publicarem um documento, apelando por novas COPs enxutas, sem lobistas e sem ONGs, aproveitadoras do caos, previsto pelo sacerdote do fim do mundo, o Secret&aacute;rio-geral da ONU. 
 
Finalmente, chegamos &agrave; COP 30, com apenas 18 chefes de Estado, sem a presen&ccedil;a das maiores pot&ecirc;ncias econ&ocirc;micas, e uma nova cartilha em andamento, na qual os &nbsp;vil&otilde;es do meio ambiente, causadores do efeito estufa, os malfeitores instalados nos pa&iacute;ses industrializados do Atl&acirc;ntico norte, que de COP em COP foram dividindo responsabilidades com os pa&iacute;ses n&atilde;o industrializados pobres e dependentes existentes no mundo, tecem agora um novo discurso, capaz de &nbsp;encantar os micr&oacute;bios e submissos dirigentes dos brasis &nbsp;espalhados pelos 570 milh&otilde;es de quil&ocirc;metros quadrados do globo terrestre. 
 
Aos poucos, mas &nbsp;com a disposi&ccedil;&atilde;o que nunca faltou &agrave;s &nbsp;ONGs, movidas pelos ricos emolumentos que recebem a fundo perdido, o efeito estufa que sobrecarrega a atmosfera terrestre, n&atilde;o &eacute; &nbsp;causado exclusivamente pelos combust&iacute;veis fosseis, mas tamb&eacute;m e principalmente pela ocupa&ccedil;&atilde;o, cada vez maior e mais intensa da agropecu&aacute;ria, presente &nbsp;em pa&iacute;ses como Brasil. 
 
Contribui enormemente para esse desastre ecol&oacute;gico nossas vacas e ruminantes. Essas vaquinhas, distraidamente, d&atilde;o arrotos e &ldquo;peidos&rdquo;, coisas que fazem com tanta discri&ccedil;&atilde;o e respeito (confesso que nunca vi uma vaca peidar na minha frente). Esses bois e vacas, durante sua digest&atilde;o, chamada de ent&eacute;rica, produz metano, g&aacute;s 28 vezes mais forte que o di&oacute;xido de carbono e dessa forma provoca o aquecimento do planeta. 
 
Percebi, nessas mal tra&ccedil;adas linhas, porque tudo fizemos para patrocinar essa malsinada COP em nosso pa&iacute;s. Tem a ver com o &ldquo;fascismo&rdquo; dos nossos agricultores e os &ldquo;peidos&rdquo; de nossas vacas, uma das mais vistosas conquistas intelectuais do nosso presidente. 
 
Nesses dias em que a Fran&ccedil;a, presidida pelo amigo do peito de Lula da Silva, Monsieur Emmanuel Macron, negou, mais uma vez a ades&atilde;o da Fran&ccedil;a ao Acordo com o Mercosul, Ajudou, certamente, a seu amigo brasileiro a condenar nossas vaquinhas. Apesar, ou por causa do Lula, nossas vacas foram pro brejo!

Marcelo Cordeiro

Todos os textos de Marcelo Cordeiro

MARIA CORINA, O NOME DA PAZ

Cara ou coroa

AMOR À PRIMEIRA VISTA II

A pax brasileira

ACABE, O ÚLTIMO REI

INÊS É MORTA

A tristeza durará para sempre

NO MUNDO DA LUA

PICULA DIPLOMÁTICA

HOJE TEM ESPETÁCULO? II

Veja também

Em sessão marcada por obstrução, ALBA aprova pedido de empréstimo de R$ 300 milhões ao governo

Moraes manda Polícia Federal realizar perícia em Bolsonaro após pedido de cirurgia

Justiça italiana deve considerar decisão do Congresso de livrar Zambelli, diz defesa

Mais Lidas

Bahia acerta compra definitiva do goleiro Ronaldo do Altético-GO por R$ 5 milhões

Brasileiros lideram ranking dos imigrantes expulsos de Portugal; 2025 registrou um aumento de 33%

Calvin Klein inaugura flagship store global no Soho, em Nova York!

Cinebiografia de Michael Jackson ganha primeiro trailer; sobrinho do cantor interpreta o Rei do Pop

Crise no INSS: Lea Bressy fala em “ilação perigosa” e acusa Gilberto Waller de machismo após pedido de exoneração