José Medrado

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Soará estranho a um religioso a proposta do título, mas há muito estudos têm sido realizados acerca do Carnaval, em seu sentido psicológico, mesmo que execrado pelas religiões, de um modo geral. A folia de Momo tem se mostrado, sim, necessária, como uma quase indispensável catarse, uma liberação psíquica que o ser humano encontra como instrumento de superação de seus traumas, suas opressões, seus desencantos e frustrações.  O filósofo Aristóteles se referia à catarse como purificação das almas, através de descargas emocionais. Há uma liberação das dores contidas, da irritação acumulada, da sexualidade reprimida, em muitos, dando, assim, lugar a uma euforia, até mesmo aos excessos de liberação, como forma de escape a tudo que se acumulou nos meses antecedentes.

É fato que é uma catarse superficializada, uma vez que não há a solução efetiva dos fatores estressores do folião, mas apenas uma descarga, uma supuração das feridas mantidas sob curativo artificial. O pai da sociologia moderna, Émile Durkheim, após estudo minucioso sobre estas manifestações e seus rituais, conclui que são formas encontradas pela sociedade para esquecer o mundo real e fantasiar, literalmente, uma outra realidade, conduzida pela imaginação.   

Já o pai da psicologia analítica, Carl Jung, afirma que os rituais dos carnavais facilitam uma espécie de conexão entre a realidade, os desejos interiores e o exterior, como uma espécie de memória ancestrálica, quando se usava as danças e os cantos para liberar e expressar determinados sentimento. Esses comportamentos arquétipos são feitos de material dos sonhos e das fantasias de cada um. Evidencia-se uma espécie de alheamento dos conceitos, críticas, censuras externas, em uma  autoajuda psicológica de apaziguamento interior. Parece meio contraditório, considerando inclusive os atos de violência, os excesso verificados de forma geral, mais aí está, exatamente, também, este processo dos que vão à festa e realizam estas condenáveis, até criminosas liberações. É o que há dentro deles.

O sociólogo Roberto da Matta afirma que o tempo do Carnaval é de licença e abuso em que categorias como pecado, a mortificação da carne, o sexo em seu excesso ou abstinência estão presentes, num dinamismo oposto ao convencional, é o ser por uns dias o que, sob algum aspecto, é o tempo todo, mas contido. É um momento onde muitos têm a possibilidade de conhecer seus opostos interiores sem considerá-los inimigos perturbadores, mas apenas hóspedes simpáticos e divertidos.


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