Aos vinte e dois dias do mês de abril de 1916, em Ponta de Areia – Ilha de Itaparica nascia Gesilda Daniel de Paula. A menina Gesilda cresceu dentro dos Terreiros de culto aos Eguns – Ancestrais masculinos de uma determinada comunidade, onde são cultuados de maneira bem peculiar. Veja meu artigo sobre os Egunguns aqui no Farol: Egungun: A morte por debaixo do pano - Farol da Bahia. Filha de Antônio Daniel de Paula – hoje Babá Obá Marun e Francisca Romana Damasceno, tia Gesilda teve como irmãos: Caetano; João de Xangô; Crispim – mas conhecido por Cosme; Damiana; Adalgisa; Nilsa e Norbeta.
Em 1940, na flor da idade dos seus 24 anos, tia Gesilda recebe o cargo de Iyá Loxun, do Ilê Agboulá, cuja responsabilidade era arrumar o presente de Iemanjá e Oxun em 2 de fevereiro. Até hoje, um imenso cortejo sai do Alto do Bela Vista, passando pela frente da Igreja de Nossa Senhora das Candeias – ponto marco da trajetória do Ilê Agboula seguindo até a praia de Ponta de Areia, onde saveiros e escunas aguardam para receberem o presente e levarem para alto mar. Durante muitos anos tia Gesilda serviu aos Eguns Amorô Mi Todô, Onilêowô e Ayó, assim como Iemanjá e Oxun.
Seu Antônio – pai de tia Gesilda, era muito amigo de Mãe Senhora, Iyalorixá do Opô Afonjá. Senhora tinha uma casa de veraneio na Ilha, e toda vez que ia passar temporada por lá precisava de alguém pra cuidar das tarefas de casa. Foi quando Senhora solicitou para seu Antônio os serviços da jovem Gesilda. E a partir destes encontros que os laços de amizade entre Gesilda e Senhora se consolidaram. Até que em 1949, numa festa no Ilê Agboulá, Mãe Senhora recebe o recado de Babá Olukotun, onde ele disse que se fazia necessário a iniciação da jovem Gesilda para o Orixá. Foi quando no ano seguinte a Iyá Loxun do Ilê Agboulá entra no famoso “barco” das dezesseis, passando a ser chamada de Oxun Omitobiyi – A Água que nasceu aqui é o suficiente. Eu fico aqui imaginando: se no tempo de hoje um barco com 6 pessoas já é cansativo, imagine naquela época com 16?!
A dinastia Daniel de Paula segue firme em ambos os lados – vivos e eternizados. Do lado de cá me resumo em citar: Albérico Raimundo, mais conhecido por Beco – Ogarô da casa de Oxossi, iniciado por Mãe Stella e único homem de quatro filhos que tia Gesilda teve. E por fim a jovem Roselaine de Iansã. Criança nativa do Opô Afonjá que aos 39 anos vividos, se inicia pelas mãos de Mãe Ana de Xangô em 2023. Do lado de lá temos: Pedro Daniel de Paula, que foi Alapini – sacerdote supremo do culto aos Ancestrais e hoje responde como Babá Alateorun; Eduardo Daniel de Paula – Babá Obáerin (avô de tia Gesilda); Olegário Daniel de Paula – Babá Obáladê e Manoel Jacinto – Babá Ojô.
Em 18 de novembro de 2016, com um século vivido – assim como seus antecessores que chegaram aos 100 e muitos até ultrapassaram, tia Gesilda parte para o Orun com 66 anos de iniciada pra Oxun no Opô Afonjá. Seu legado segue firme, junto aos Daniel de Paula, que permanecem aquecendo a tradição do Candomblé de Egun na Bahia, assim como sua neta que segue firme como Omorixá – Filha de Santo do Opô Afonjá.
Salve as Águas... Salve tia Gesilda de Oxun.