José Medrado

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É sabido, que o brasileiro, de um modo geral, não conhece o seu processo de formação, a sua história em suas nuances. O conhecimento é superficial, e muito por ouvir falar e reproduzir o que alguém disse. Isso leva à cristalização de erros crassos, de preconceitos como os que vimos ultimamente sobre o Norte e Nordeste do Brasil, protagonizado pelo governador de Minas Gerais, Zema. Já começa que, o nosso Nordeste, por exemplo, é uma região que tem sim história de resistência: a tradição de luta contra a escravidão e a segregação tem profundas raízes por aqui, o que gerou o Quilombo dos Palmares, sem falar nos motivos de Canudos, mantendo, consequentemente, viva a cultura negra e indígena. É, talvez, a única região no país onde a população assume uma identidade própria, como resultado das suas lutas e conquistas por autoafirmação. E nem adianta o governado de Minas Gerais falar o que não sabe, haja vista que essa história de que o Sul e Sudeste levam o país nas costas e que o Nordeste não produz e recebe mais é falaciosa, pois foi às custas da mão de obra nordestina e do muito que a região perdeu lá atrás, que o Sul e Sudeste se beneficiaram e prosperaram, desde o beneficiamento de infraestrutura visando à atração de indústrias e empresas, com vários beneplácitos governamentais até a facilitação como doação de terras e apoio financeiro a imigrantes europeu, brancos. 

Há um conveniente esquecimento que sem políticas públicas de enfretamento da seca, que democratizassem o acesso à água e alimentos, levas de retirantes do Nordeste migraram principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro durante o século XX. Foram trabalhar em serviços domésticos e empregos que antes eram de pessoas escravizadas. Naturalmente, os senhores empregadores mantiveram o regime hediondo, o que se tenta até hoje. Não descarto que a política coronelista dura até agora por aqui, de uma forma e outra, mas quem está com fome quer comer, não forma ideologia, muito menos forma compreensão,em um processo de educação que sempre foi desconsiderada. Todavia, não há relaxamento, o povo vamos atrás, apenas como exemplo para a inquietação de alguns é do Nordeste o recorde de notas mil na redação do Enem! Desde 2021, a região leva o título de destaque no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com os melhores desempenhos nas provas. E, agora, em 2023, não foi diferente. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) realizou um levantamento que contabilizou 19 candidatos que alcançaram a nota 1000 na redação do Enem 2022 até o momento. Dos 19 nota máxima, 11 estudantes são nordestinos. Naturalmente, que o senhor Governador já se retratou, disse que foi mal-entendido, aquelas desculpas de sempre. Não poderia, por outro lado, deixar de registrar que muitos nordestinos concordaram com a ignorância do gestor de Minas Gerais, o que é lamentável. E olhe que neste arrazoável, nem abordei como era feita a política higienista e imigratória do Brasil até meados do século XX.  


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