Adriano Azevedo

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O meu inesquecível de hoje trazia em sua essência a tranqüilidade, equilíbrio e as virtudes de um homem bom. Até sua voz transmitia placidez. Filho de Oxalá que era e, Ogan de Oxun, Cláudio Costa Pinto foi um grande irmão – tipo aquele irmão mais velho, que está sempre preocupado com o desenvolvimento do irmão mais novo. Esse carinho e preocupação eram com todos aqueles que estavam ao seu redor. Eu, Bié e Rubinho eram os que sempre acompanhavam Cláudio pra tudo. O carinho era de tal proporção, que ele chegou a batizar Bié.

Cláudio era um desenhista de mão cheia. Lembro-me certa vez, da gente jogando bola na roça, e ele encostado a uma árvore de prancheta, papel e lápis na mão. Achei que estivesse escrevendo alguma coisa. Enquanto jogávamos, ele atentamente assistia ao jogo e, simultaneamente rabiscava alguma coisa. Ao terminar a partida, ele chamou a meninada e pediu para que fechássemos os olhos. Quando abrimos, ele nos mostrou em forma iconográfica a imagem da gente jogando bola. Uma perfeição de desenho! Cada um de nós conseguia se identificar nas figuras. Foi muito bacana aquele momento. Lembro-me também que em algumas festas – Oxossi e Oxun principalmente, ele comprava camisas para o coral e para os Alabês. Camisas estas que ele mesmo desenhava e pintava, onde depois de prontas dava para cada um de nós.

Foi Cláudio quem nos levou para os Filhos de Gandhy – eu, Bié e Rubinho. Todo domingo Cláudio saia da Pituba – bairro onde morava; passava aqui na roça para nos pegar e seguíamos para o Pelourinho. Assistíamos a missa na Igreja Rosário dos Homens Pretos e, após a missa, íamos todos para sede do Gandhy pra poder ensaiar. Depois do ensaio, almoçávamos e ele nos trazia de volta pra roça. Lá no Gandhy conhecemos Hélio – grande Alabê do Gantois (in memoriam) e, seu irmão, Ulisses, ex-diretor do Gandhy e que hoje segue com um trabalho percussivo no bairro de Itapuã. Hélio e Ulisses contribuíram para que nos tornássemos os primeiros diretores da bateria mirim do Afoxé Filhos de Gandhy. E Cláudio, assim como um irmão mais velho, se enchia de orgulho com o nosso desempenho.

Para onde ele ia “carregava” eu, Bié e Rubinho. Rodamos por tantos Candomblés nesta Salvador [risos]. Ele fazia uma festa danada pra nos apresentar, seja lá pra quem fosse. Era visível seu orgulho por nós. Ele nos apresentava ao povo parecendo que éramos artistas famosos – e ele nosso fã número 1. O “garoto Bié” era o seu xodó. Anos mais tarde Cláudio casou-se e teve uma filha. Seu olho brilhava ao falar dela. Cláudio era um homem de muito amor e, devoção aos Orixás. Engenheiro de formação e Ogan de Oxun por devoção, Cláudio fazia jus às atribuições que os Orixás lhes incumbiram a partir do sentimento de fraternidade e comprometimento que tinha com o Ilê Axé Opô Afonjá.

Inesquecível como seu carinho, Cláudio permanece vivo em sua essência.

Êpa Babá!


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