Na série “Inesquecíveis” de hoje, rememoro Noêmia Gerson de Oliveira, a tia Noêmia de Oxaguian. Nascida aos dez dias do mês de abril de 1913, tia Noêmia era professora primária e costureira. Viveu durante muitos anos em terras fluminenses quando, após o falecimento de seu marido, resolveu retornar para Salvador, passando a morar no bairro da Liberdade, na Rua Sete de setembro.
Foi iniciada pelas mãos de Eugenia Anna dos Santos – Mãe Anninha, em outubro de 1936, seu orukó – nome de Santo – era: Ajagun Tundê – O Guerreiro veio novamente, tendo renascido, assim, para o Orixá Oxaguian. Seu Orixá suspendeu dois Ogans: Clodoaldo Lordelo – Okan Ajagun, confirmado em 1984; José de Ribamar – Olualadê, confirmado em 1993 e uma Ajoiê: Sarah de Cássia Vasques – Iyá Tololá, confirmada em 1999. Tia Noêmia foi a primeira Ogalá – pessoa responsável pelos cânticos litúrgicos aqui no Afonjá. Ela fazia questão de nos ensinar as palavras em iorubá corretamente. Quando vinha pra roça, ficava num quartinho que tinha na casa de Oxalá. Era fácil encontrá-la por lá a qualquer horário do dia.
Lembro-me de uma passagem inesquecível com tia Noêmia: foi em uma obrigação de Axexê quando, discretamente – sem que tia Stella percebesse, saíamos do salão para “molhar a palavra” em um daqueles quartinhos que tem na casa de Oxalá. Lucas de Omolu – o mesmo que em um outro momento me fotografou segurando os testículos do boi nas minhas reminiscências de Nivaldo [citado aqui] Nivaldo, o Ninja: aquele que regressou pra casa - Artigos | Farol da Bahia, entrou no quarto de tia Noêmia procurando água pra beber, perguntando onde tinha copo. Tia Noêmia prontamente respondeu: “aí em cima tem um, meu filho!” O primeiro copo que Lucas viu, pegou. Colocou a água e bebeu. Quando tia Noêmia viu o copo que ele estava bebendo água, deu um grito: “NESTE NÃO! Esse copo é o que coloco a minha dentadura.” Urgh!!! Lucas saiu regurgitando, eu e tia Noêmia ríamos muito da cara dele. Que molequeira!
Parte destas informações biográficas eu devo ao irmão Ribamar, Ogan do Orixá de tia Noêmia, que, por muitos anos, viveu ao lado dela. Infelizmente, na véspera de Natal, em 24 de dezembro de 1999, tia Noêmia partiu para o Orun, deixando muita saudade e uma lacuna imensurável aqui entre nós.
Salve o Guerreiro Tundê.