Eu custo a acreditar que recentemente a Constitui&ccedil;&atilde;o do Brasil aniversariou, &uacute;ltimo dia 05, e a cidade de S&atilde;o Paulo quebrando todo e qualquer princ&iacute;pio de respeito &agrave; laicidade do Estado brasileiro, faz um convite ao frei Gilson para conduzir uma celebra&ccedil;&atilde;o antes do show de virada de ano &ndash; R&eacute;veillon - na Avenida Paulista. N&atilde;o &eacute; um gesto trivial. Ao contr&aacute;rio, &eacute; um ato que fere de maneira preocupante o princ&iacute;pio da laicidade do Estado &mdash; princ&iacute;pio este que n&atilde;o &eacute; detalhe, mas pilar constitucional da Rep&uacute;blica.

N&atilde;o se trata de intoler&acirc;ncia religiosa, por eu ser de outra cren&ccedil;a religiosa. Absolutamente. Nem de negar a import&acirc;ncia da f&eacute; para milh&otilde;es de brasileiros. O que est&aacute; em jogo &eacute; o papel que o Estado deve desempenhar em uma sociedade plural: garantir a liberdade de cren&ccedil;a e tamb&eacute;m a liberdade de n&atilde;o crer. Quando o poder p&uacute;blico se associa institucionalmente a pr&aacute;ticas de cunho religioso, est&aacute; ultrapassando a linha que separa o p&uacute;blico do confessional. E essa linha, uma vez borrada, &eacute; dif&iacute;cil de recuperar. Honestamente? Penso que a quest&atilde;o foi ideol&oacute;gica, n&atilde;o religiosa, mas de car&aacute;ter pol&iacute;tico, considerando a ret&oacute;rica do cl&eacute;rigo. O argumento, no entanto, diz &nbsp;que se trata apenas de uma &ldquo;ora&ccedil;&atilde;o&rdquo;, de um gesto simb&oacute;lico de agradecimento, &eacute; fr&aacute;gil e perigoso. &Eacute; exatamente assim, com gestos aparentemente inofensivos, que se naturaliza a presen&ccedil;a de um credo espec&iacute;fico nas esferas oficiais. A laicidade n&atilde;o &eacute; posta &agrave; prova apenas quando h&aacute; imposi&ccedil;&atilde;o aberta de uma f&eacute;; ela se desgasta lentamente, por meio de pequenos rituais legitimados pelo Estado, como se fossem neutros. N&atilde;o s&atilde;o.

O r&eacute;veillon da Avenida Paulista &eacute; um evento p&uacute;blico, custeado com recursos de todos os cidad&atilde;os &mdash; religiosos e n&atilde;o religiosos, crist&atilde;os, umbandistas, esp&iacute;ritas, ateus. A presen&ccedil;a institucional de uma celebra&ccedil;&atilde;o conduzidas por um l&iacute;der religioso, a convite da &nbsp; Prefeitura, fere a neutralidade que o Estado deve manter diante da diversidade de cren&ccedil;as que comp&otilde;em o pa&iacute;s. N&atilde;o h&aacute; problema em que grupos religiosos celebrem a virada do ano em seus templos, ruas ou pra&ccedil;as. O problema surge quando o poder p&uacute;blico legitima uma express&atilde;o religiosa espec&iacute;fica dentro de um evento oficial, transformando o que deveria ser uma celebra&ccedil;&atilde;o plural em um ato de conota&ccedil;&atilde;o confessional-ideol&oacute;gica.&nbsp;

O que parece pequeno &mdash; uma ora&ccedil;&atilde;o, um agradecimento, um &ldquo;momento de f&eacute;&rdquo; &mdash; &eacute;, na verdade, a ponta de um processo de eros&atilde;o constitucional. A laicidade n&atilde;o se perde de uma vez; ela se perde aos poucos, quando o Estado esquece que sua fun&ccedil;&atilde;o n&atilde;o &eacute; representar nenhuma f&eacute;, mas garantir espa&ccedil;o para todas. Defender o car&aacute;ter laico do Estado n&atilde;o &eacute; hostilizar a religi&atilde;o. &Eacute;, justamente, proteger a liberdade religiosa &mdash; de todos. Quando o poder p&uacute;blico escolhe uma voz religiosa, est&aacute; dizendo, ainda que implicitamente, que algumas cren&ccedil;as t&ecirc;m mais espa&ccedil;o que outras. E isso, sim, &eacute; um atentado &agrave; democracia. 
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Na &uacute;ltima sexta-feira (10/10/2025), a cantora Lauana Prado publicou em suas redes sociais um v&iacute;deo rom&acirc;ntico ao lado da noiva, Tati Dias, enquanto desfrutavam de momentos em uma praia no Hava&iacute;. A legenda dizia: &ldquo;Foi um sonho de ver&atilde;o em uma praia&hellip;&rdquo;. O que poderia ser apenas mais uma celebra&ccedil;&atilde;o do amor entre duas pessoas passou a ser alvo de ataques homof&oacute;bicos imediatos. Coment&aacute;rios como &ldquo;final dos tempos, mulher com mulher&rdquo;, &ldquo;falta de homem&rdquo;, &ldquo;isso pode confundir as crian&ccedil;as&rdquo; e outros similares demonstram algo muito al&eacute;m de opini&atilde;o pessoal: revelam uma vis&atilde;o retr&oacute;grada que insiste em colocar barreiras onde n&atilde;o deveria haver &mdash; no amor, na liberdade, na dignidade. Esse tipo de viol&ecirc;ncia verbal, embora possa parecer &ldquo;apenas&rdquo; palavras, configura ofensa, discrimina&ccedil;&atilde;o e &mdash; juridicamente &mdash; crime. No Brasil, desde a decis&atilde;o do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2019, atos de homofobia e transfobia s&atilde;o equiparados, em sua natureza criminosa, &agrave; discrimina&ccedil;&atilde;o por ra&ccedil;a, cor ou origem, pela Lei n&ordm; 7.716/1989, que trata dos crimes resultantes de preconceito de ra&ccedil;a ou cor.

&Eacute; importante destacar que tais leis nem sempre t&ecirc;m aplica&ccedil;&atilde;o f&aacute;cil: muitos relatos de homofobia n&atilde;o s&atilde;o investigados, ou s&atilde;o ignorados, ou ainda h&aacute; resist&ecirc;ncia social, institucional ou cultural para reconhecer a gravidade desse tipo de epis&oacute;dio. Quando Lauana Prado rebateu os coment&aacute;rios homof&oacute;bicos, demonstrou coragem &mdash; n&atilde;o apenas pela visibilidade que tem, mas pelo peso que cada express&atilde;o de resist&ecirc;ncia carrega.

Culturalmente, esse epis&oacute;dio denuncia uma falha persistente: a de quem n&atilde;o aceita que o amor n&atilde;o se define por g&ecirc;nero, e que escolher amar &eacute; um exerc&iacute;cio de cidadania. Vivemos em sociedade plural, diversa; amar n&atilde;o pode ser privil&eacute;gio restrito ou algo sujeito &agrave; aprova&ccedil;&atilde;o dos outros. O respeito &agrave;s escolhas alheias, &agrave; dignidade humana &mdash; de todo ser humano &mdash; deveria ser princ&iacute;pio incontest&aacute;vel. E, quando esse princ&iacute;pio &eacute; ferido, cabe uma rea&ccedil;&atilde;o: de empatia, de solidariedade, de educa&ccedil;&atilde;o &mdash; e de puni&ccedil;&atilde;o legal quando for o caso.

O preconceito homof&oacute;bico fere direitos constitucionais. A Constitui&ccedil;&atilde;o Federal brasileira garante, no seu artigo 5&ordm;, a igualdade de todos perante a lei, sem distin&ccedil;&atilde;o de qualquer natureza. Al&eacute;m disso, o Supremo j&aacute; firmou que n&atilde;o se pode deixar a popula&ccedil;&atilde;o LGBTQIA+ &agrave; merc&ecirc; de discursos de &oacute;dio sem resposta. Muito al&eacute;m da lei, &eacute; uma quest&atilde;o de humanidade: ao demonstrar amor, Lauana Prado e Tati Dias fazem o que qualquer pessoa pode &mdash; expressar sentimentos, caminhar juntas, compartilhar momentos. E ao enfrentarem homofobia, fazem tamb&eacute;m uma a&ccedil;&atilde;o simb&oacute;lica importante: lembram ao mundo que o amor &eacute; maior que o medo, que a discrimina&ccedil;&atilde;o, que as vozes conservadoras que insistem em impor sil&ecirc;ncio &agrave;s minorias.

O que este epis&oacute;dio nos inspire a rejeitar vis&otilde;es retr&oacute;gradas que insistem em hierarquias entre amores; que nos lembre que liberdade n&atilde;o &eacute; concess&atilde;o, &eacute; direito; que amor, acima de tudo, &eacute; forma de resist&ecirc;ncia. E que, como sociedade, possamos avan&ccedil;ar no respeito, prote&ccedil;&atilde;o legal, empatia e cidadania &mdash; para que nenhum ser humano sofra por ser quem ama.

Coloquei em meu Instagram, que pode dizer o que quiser de Daniela Mercury, mas ela se entrega aos seus ideais e verdades. A coragem de Daniela Mercury sempre se destacou na cena cultural brasileira, mas h&aacute; epis&oacute;dios que a colocam de maneira ainda mais emblem&aacute;tica como uma voz solit&aacute;ria, capaz de se arriscar quando outros preferem o sil&ecirc;ncio. Num contexto em que muitos artistas baianos, por aqui &ndash; Salvador -, reconhecidos nacionalmente, optaram por n&atilde;o se pronunciar em momentos de tens&atilde;o pol&iacute;tica e social, Daniela ergueu sua voz. A sua postura foi menos a de quem busca protagonismo individual e mais a de quem entende que a democracia se sustenta tamb&eacute;m pelo gesto de dizer o que &eacute; inc&ocirc;modo. Um paralelo poss&iacute;vel foi a atua&ccedil;&atilde;o de Adelmo Cas&eacute;, n&atilde;o vi outros, que, em outra chave, n&atilde;o se eximiu de expressar posicionamentos firmes quando percebeu amea&ccedil;as ao conv&iacute;vio democr&aacute;tico.

Esse contraste entre a coragem individual e o sil&ecirc;ncio coletivo leva a uma reflex&atilde;o sobre a fragilidade das democracias diante de uma sociedade que, muitas vezes, s&oacute; reage quando o pre&ccedil;o do sil&ecirc;ncio se torna insuport&aacute;vel. Daniela, em seus campos, rompe a l&oacute;gica da acomoda&ccedil;&atilde;o, revelando que a cultura e a comunica&ccedil;&atilde;o n&atilde;o s&atilde;o apenas entretenimento, mas instrumentos de resist&ecirc;ncia.

Por&eacute;m, lamentavelmente, no outro extremo, h&aacute; situa&ccedil;&otilde;es que escancaram comportamentos incompat&iacute;veis com princ&iacute;pios b&aacute;sicos de razoabilidade e pluralismo. O epis&oacute;dio envolvendo a esposa do ministro Alexandre de Moraes, sancionada junto &agrave; sua empresa pelo governo americano, sob uma legisla&ccedil;&atilde;o estrangeira que atua como bra&ccedil;o extraterritorial, exp&otilde;e uma distor&ccedil;&atilde;o preocupante. Trata-se de uma san&ccedil;&atilde;o que, mais do que atingir um indiv&iacute;duo, levanta d&uacute;vidas sobre o respeito a garantias internacionais fundamentais. A medida parece menos um ato jur&iacute;dico equilibrado e mais um gesto de poder que ignora fundamentos democr&aacute;ticos de soberania, consequentemente de respeito. Certos pol&iacute;ticos n&atilde;o entendem que tudo na vida &eacute; uma onda, que pode vir forte, mas passa, quando n&atilde;o se arrebenta na praia. Quando colocamos lado a lado a coragem de quem fala&nbsp; em defesa da democracia e&nbsp; de quem busca puni&ccedil;&atilde;o para o seu pa&iacute;s, percebemos dois polos de um mesmo dilema. O primeiro &eacute; a for&ccedil;a do gesto individual que inspira coletividade; o segundo, o perigo do personalismo antidemocr&aacute;tico, que imp&otilde;e san&ccedil;&otilde;es sem debate nem legitimidade ampla.

Assim, a avalia&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica passa por reconhecer que a democracia n&atilde;o se sustenta apenas em normas escritas, mas tamb&eacute;m em pr&aacute;ticas: a pr&aacute;tica da coragem, do risco assumido, da palavra que se lan&ccedil;a mesmo sem coro de apoio; e, por outro lado, a pr&aacute;tica delet&eacute;ria de transformar poder em instrumento de intimida&ccedil;&atilde;o. O comportamento coletivo democr&aacute;tico deveria ser o de somar vozes, n&atilde;o o de se calar esperando que poucos assumam a linha de frente.

Por fim, no balan&ccedil;o, Daniela Mercury encarna a pot&ecirc;ncia transformadora do gesto individual que inspira outros a repensarem seu sil&ecirc;ncio. J&aacute; as san&ccedil;&otilde;es sem crit&eacute;rio contra a esposa de Alexandre de Moraes simbolizam o risco de se abandonar a l&oacute;gica da democracia para buscar a l&oacute;gica da for&ccedil;a. Entre esses extremos, cabe &agrave; sociedade escolher se seguir&aacute; pelo caminho da acomoda&ccedil;&atilde;o que legitima abusos ou se buscar&aacute;, pelo exemplo de vozes corajosas, construir uma cultura coletiva de verdadeira democracia.

A pris&atilde;o do secret&aacute;rio de Sa&uacute;de de&nbsp;Curruvel&acirc;ndia&nbsp;(MT), <a href="https://www.faroldabahia.com.br/coluna/quando-a-politica-tenta-justificar-o-crime">Roberto&nbsp;Serenini, flagrado em Cuiab&aacute; com 52kg de coca&iacute;na em um&nbsp;micro-&ocirc;nibus&nbsp;da sa&uacute;de</a>, n&atilde;o &eacute; apenas mais um esc&acirc;ndalo pol&iacute;tico. O que chama aten&ccedil;&atilde;o &eacute; a rea&ccedil;&atilde;o de parte da popula&ccedil;&atilde;o: admiradores de um partido pol&iacute;tico tentando justificar ou minimizar um crime grave. Esse fen&ocirc;meno revela como a no&ccedil;&atilde;o de certo e errado est&aacute; sendo corro&iacute;da por paix&otilde;es ideol&oacute;gicas.

A filosofia alerta contra confundir lealdade partid&aacute;ria com justi&ccedil;a. Immanuel Kant ensinava que uma a&ccedil;&atilde;o s&oacute; &eacute; moral se puder ser universalizada sem contradi&ccedil;&atilde;o. Transportar drogas em ve&iacute;culos da sa&uacute;de jamais poderia ser considerado leg&iacute;timo, nem comparar com outro crime, como vimos nas manifesta&ccedil;&otilde;es de aliados&nbsp;do &nbsp;pol&iacute;tico. N&atilde;o podemos compensar crimes uns com os outros. Crime ser&aacute; sempre crime.&nbsp; Arist&oacute;teles, na &Eacute;tica a&nbsp;Nic&ocirc;maco,&nbsp;defendia &nbsp;aprud&ecirc;ncia pr&aacute;tica, essencial para discernir o bem do mal. Quando a prud&ecirc;ncia &eacute; substitu&iacute;da pelo fanatismo, perdemos a capacidade de enxergar o crime em sua dimens&atilde;o real. Hannah Arendt, ao analisar a banalidade do mal, mostrou como pessoas comuns podem justificar injusti&ccedil;as escondidas atr&aacute;s de ideologias. Tentar relativizar o tr&aacute;fico em nome de lealdade pol&iacute;tica &eacute; exatamente isso: banalizar o mal.

Al&eacute;m do aspecto filos&oacute;fico, h&aacute; uma quest&atilde;o social preocupante: normalizar crimes mina a confian&ccedil;a nas institui&ccedil;&otilde;es e na pol&iacute;tica. Quando l&iacute;deres e cidad&atilde;os relativizam atos criminosos, cria-se um ambiente em que corrup&ccedil;&atilde;o, viol&ecirc;ncia e impunidade se tornam aceit&aacute;veis. Isso n&atilde;o &eacute; apenas imoral: &eacute; perigoso para a democracia.

Tamb&eacute;m &eacute; um alerta sobre educa&ccedil;&atilde;o e &eacute;tica. Formar cidad&atilde;os conscientes exige ensinar a refletir criticamente sobre certo e errado, independentemente de convic&ccedil;&otilde;es partid&aacute;rias. Sem essa base, a sociedade transforma comportamentos criminosos em &ldquo;excessos toler&aacute;veis&rdquo;, apagando limites entre legalidade e ilegalidade, justi&ccedil;a e injusti&ccedil;a.

Por fim, o caso revela a urg&ecirc;ncia de recuperarmos&nbsp;a sensatez na pol&iacute;tica e na vida p&uacute;blica, no nosso dia a dia. A raz&atilde;o, a prud&ecirc;ncia e a busca pelo bem comum devem prevalecer sobre o sectarismo e o fanatismo. Somente assim podemos preservar a confian&ccedil;a na justi&ccedil;a e na &eacute;tica, evitando que epis&oacute;dios como este se tornem exemplos do que seria aceit&aacute;vel, quando, na verdade, deveriam ser condenados por todos.

A pris&atilde;o do secret&aacute;rio de Sa&uacute;de de Curruvel&acirc;ndia (MT), Roberto Serenini, flagrado em Cuiab&aacute; com 52 kg de coca&iacute;na em um micro-&ocirc;nibus da sa&uacute;de, n&atilde;o &eacute; apenas mais um esc&acirc;ndalo pol&iacute;tico. O que chama aten&ccedil;&atilde;o &eacute; a rea&ccedil;&atilde;o de parte da popula&ccedil;&atilde;o: admiradores de um partido pol&iacute;tico tentando justificar ou minimizar um crime grave. Esse fen&ocirc;meno revela como a no&ccedil;&atilde;o de certo e errado est&aacute; sendo corro&iacute;da por paix&otilde;es ideol&oacute;gicas.

A filosofia alerta contra confundir lealdade partid&aacute;ria com justi&ccedil;a. Immanuel Kant ensinava que uma a&ccedil;&atilde;o s&oacute; &eacute; moral se puder ser universalizada sem contradi&ccedil;&atilde;o. Transportar drogas em ve&iacute;culos da sa&uacute;de jamais poderia ser considerado leg&iacute;timo, nem comparar com outro crime, como vimos nas manifesta&ccedil;&otilde;es de aliados do partido do pol&iacute;tico. N&atilde;o podemos compensar crimes uns com os outros. Crime ser&aacute; sempre crime.&nbsp;Arist&oacute;teles, na &Eacute;tica a Nic&ocirc;maco, defendia a phronesis, a prud&ecirc;ncia pr&aacute;tica, essencial para discernir o bem do mal. Quando a prud&ecirc;ncia &eacute; substitu&iacute;da pelo fanatismo, perdemos a capacidade de enxergar o crime em sua dimens&atilde;o real.&nbsp;Hannah Arendt, ao analisar a banalidade do mal, mostrou como pessoas comuns podem justificar injusti&ccedil;as escondidas atr&aacute;s de ideologias. Tentar relativizar o tr&aacute;fico em nome de lealdade pol&iacute;tica &eacute; exatamente isso: banalizar o mal.

Al&eacute;m do aspecto filos&oacute;fico, h&aacute; uma quest&atilde;o social preocupante. Normalizar crimes mina a confian&ccedil;a nas institui&ccedil;&otilde;es e na pol&iacute;tica. Quando l&iacute;deres e cidad&atilde;os relativizam atos criminosos, cria-se um ambiente em que corrup&ccedil;&atilde;o, viol&ecirc;ncia e impunidade se tornam aceit&aacute;veis. Isso n&atilde;o &eacute; apenas imoral: &eacute; perigoso para a democracia.

Tamb&eacute;m &eacute; um alerta sobre educa&ccedil;&atilde;o e &eacute;tica. Formar cidad&atilde;os conscientes exige ensinar a refletir criticamente sobre certo e errado, independentemente de convic&ccedil;&otilde;es partid&aacute;rias. Sem essa base, a sociedade transforma comportamentos criminosos em &ldquo;excessos toler&aacute;veis&rdquo;, apagando limites entre legalidade e ilegalidade, justi&ccedil;a e injusti&ccedil;a.

Por fim, o caso revela a urg&ecirc;ncia de recuperar a sensatez na pol&iacute;tica e na vida p&uacute;blica. A raz&atilde;o, a prud&ecirc;ncia e a busca pelo bem comum devem prevalecer sobre o sectarismo e o fanatismo.

Somente assim podemos preservar a confian&ccedil;a na justi&ccedil;a e na &eacute;tica, evitando que epis&oacute;dios como este se tornem exemplos do que seria aceit&aacute;vel, quando, na verdade, deveriam ser condenados por todos.

Nessa minha visita &agrave; Europa, um sentimento tem me atravessado com frequ&ecirc;ncia: o da observa&ccedil;&atilde;o cr&iacute;tica sobre o impacto do turismo em massa. Ao andar pelas ruas hist&oacute;ricas de cidades&nbsp;do Velho Mundo, fica evidente que h&aacute; uma esp&eacute;cie de &ldquo;invas&atilde;o&rdquo; silenciosa acontecendo &mdash; a presen&ccedil;a massiva de turistas, como eu, transformando radicalmente o cotidiano local.E n&atilde;o se trata aqui de uma cr&iacute;tica infundada ou do lugar da ingratid&atilde;o. Sabemos, e &eacute; indiscut&iacute;vel, que o turismo &eacute; uma fonte poderosa de receita para esses pa&iacute;ses. Os pr&oacute;prios governos europeus incentivaram, por d&eacute;cadas, a amplia&ccedil;&atilde;o desse setor &mdash; campanhas internacionais, facilita&ccedil;&atilde;o de vistos, infraestrutura voltada &agrave; recep&ccedil;&atilde;o estrangeira. Tudo isso para gerar emprego, movimentar a economia, divulgar a cultura local. E funcionou.&nbsp;Mas, como em tudo que cresce desordenadamente, come&ccedil;am a surgir os efeitos colaterais. Conversando com alguns nativos e simplesmente observando o ambiente, percebe-se, aqui e ali, um certo inc&ocirc;modo. O transporte p&uacute;blico abarrotado n&atilde;o apenas em hor&aacute;rios de pico, os centros hist&oacute;ricos transformados em vitrines para selfies, os pre&ccedil;os inflacionados para os moradores locais, e um certo ar de cansa&ccedil;o nos rostos de quem tenta manter sua rotina entre multid&otilde;es de visitantes ansiosos.

E a&iacute; me coloquei no lugar deles. Imagine viver em um bairro onde, diariamente, milhares de pessoas passam fotografando sua janela, ocupam o caf&eacute; onde voc&ecirc; tomava o desjejum em sil&ecirc;ncio, lotam as cal&ccedil;adas por onde voc&ecirc; levava seu filho &agrave; escola. &Eacute; compreens&iacute;vel a resist&ecirc;ncia que come&ccedil;a a se formar. N&atilde;o se trata de xenofobia ou rejei&ccedil;&atilde;o ao outro &mdash; &eacute; apenas o peso de uma conviv&ecirc;ncia for&ccedil;ada, constante, onde o espa&ccedil;o &iacute;ntimo da cidade vai se diluindo no espet&aacute;culo tur&iacute;stico.&nbsp;Isso tudo me leva a refletir sobre a necessidade de se repensar o turismo, n&atilde;o no sentido de barr&aacute;-lo, mas de humaniz&aacute;-lo. Torn&aacute;-lo mais respeitoso, equilibrado, menos predat&oacute;rio. Que possamos, como visitantes, nos perceber como h&oacute;spedes tempor&aacute;rios, e n&atilde;o como donos do lugar. Que caminhemos com rever&ecirc;ncia por ruas que, antes de tudo, s&atilde;o morada de algu&eacute;m.

O mundo &eacute; vasto e belo, e a troca entre culturas &eacute; uma das maiores riquezas da humanidade. Mas que ela seja feita com delicadeza, com considera&ccedil;&atilde;o, e com o senso de que viajar n&atilde;o &eacute; s&oacute; tirar fotos &mdash; &eacute; tamb&eacute;m compreender, mesmo que por instantes, o outro lado da hist&oacute;ria.

Vivemos tempos em que a velocidade da informa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o encontra paralelo com a profundidade da reflex&atilde;o. Em meio a julgamentos apressados, polariza&ccedil;&otilde;es hist&eacute;ricas e redes sociais que mais inflam do que esclarecem, torna-se urgente retomar um princ&iacute;pio civilizat&oacute;rio b&aacute;sico: o exerc&iacute;cio da l&oacute;gica e da raz&atilde;o na leitura da realidade. N&atilde;o se trata de mera frieza intelectual, mas de uma postura &eacute;tica que busca compreender, antes de condenar; dialogar, antes de descartar. 
O fil&oacute;sofo e soci&oacute;logo alem&atilde;o J&uuml;rgen Habermas, em sua &ldquo;Teoria do Agir Comunicativo&rdquo;, defende que o entendimento m&uacute;tuo &eacute; o objetivo do di&aacute;logo verdadeiro. Para ele, o espa&ccedil;o p&uacute;blico deve ser constru&iacute;do a partir de argumentos racionais e acess&iacute;veis a todos, onde os participantes se colocam em igualdade para alcan&ccedil;ar consensos. Habermas alerta que, quando deixamos de valorizar a raz&atilde;o, abrimos espa&ccedil;o para a manipula&ccedil;&atilde;o, o ru&iacute;do e a domina&ccedil;&atilde;o simb&oacute;lica. J&aacute; o franc&ecirc;s Edgar Morin nos convida &agrave; complexidade. Para ele, a realidade n&atilde;o pode ser compreendida por simplifica&ccedil;&otilde;es bin&aacute;rias &mdash; o bem contra o mal, os certos contra os errados &mdash;, mas exige uma vis&atilde;o integradora, sens&iacute;vel &agrave;s contradi&ccedil;&otilde;es e aos contextos. A raz&atilde;o, nesse sentido, n&atilde;o se op&otilde;e &agrave; emo&ccedil;&atilde;o ou &agrave; &eacute;tica; ao contr&aacute;rio, se fortalece ao dialogar com elas. 
Outro nome fundamental nesse debate &eacute; o soci&oacute;logo Zygmunt Bauman. Ele enxergava na liquidez das rela&ccedil;&otilde;es modernas um risco: a fragilidade dos v&iacute;nculos, inclusive com a verdade. Ao dissolver compromissos &eacute;ticos com o outro em nome do ego, da performance ou da viraliza&ccedil;&atilde;o, vamos corroendo o tecido do di&aacute;logo. Bauman acreditava que o di&aacute;logo aut&ecirc;ntico s&oacute; &eacute; poss&iacute;vel quando se estabelece um solo comum de respeito &mdash; tanto ao outro quanto a si mesmo. &Eacute; nesse ponto que entra um aspecto muitas vezes negligenciado: o autorrespeito. Dialogar n&atilde;o &eacute; submeter-se, tampouco agredir. &Eacute; colocar-se diante do outro com firmeza e abertura, mantendo a coer&ecirc;ncia com os pr&oacute;prios valores, mas com humildade para rev&ecirc;-los &agrave; luz de argumentos consistentes. O autorrespeito &eacute; o ant&iacute;doto contra o ressentimento e a passividade: permite reconhecer limites, recusar ofensas e, ao mesmo tempo, n&atilde;o precisar calar o outro para se afirmar. 
O mundo est&aacute; repleto de opini&otilde;es, mas carente de escuta. H&aacute; vozes, mas pouca conversa. E onde n&atilde;o h&aacute; raz&atilde;o, o grito toma o lugar do argumento. Por isso, &eacute; imperativo que, como sociedade, nos reconectemos com a l&oacute;gica, a raz&atilde;o e o di&aacute;logo. N&atilde;o por uma quest&atilde;o de estilo ou erudi&ccedil;&atilde;o, mas de sobreviv&ecirc;ncia democr&aacute;tica. Pensar com clareza, ouvir com aten&ccedil;&atilde;o e falar com respeito s&atilde;o os pilares de uma conviv&ecirc;ncia poss&iacute;vel em tempos de confus&atilde;o.

Defender uma ideia, hoje, tornou-se quase um ato de resist&ecirc;ncia. Em tempos marcados por polariza&ccedil;&otilde;es ferrenhas e suscetibilidades &agrave; flor da pele, a simples express&atilde;o de um pensamento diferente pode deflagrar hostilidades, cancelamentos ou linchamentos morais. O que antes era dial&eacute;tica, hoje se reduz, em muitos casos, &agrave; disputa de poder simb&oacute;lico: quem cala quem, quem ataca primeiro, quem viraliza a resposta mais &aacute;cida.&nbsp;A sociedade contempor&acirc;nea parece ter perdido o h&aacute;bito &mdash; e a disposi&ccedil;&atilde;o &mdash; para o verdadeiro debate. Em vez de argumentos, vemos adjetivos; em vez de escuta, interrup&ccedil;&otilde;es; no lugar da d&uacute;vida, a certeza inabal&aacute;vel. A complexidade foi trocada pela simplifica&ccedil;&atilde;o; a busca pela verdade, pela fidelidade a narrativas afetivas ou ideol&oacute;gicas.

O fil&oacute;sofo franc&ecirc;s Jacques Ranci&egrave;re j&aacute; alertava que o dissenso &eacute; a ess&ecirc;ncia da pol&iacute;tica aut&ecirc;ntica. Quando o contradit&oacute;rio &eacute; abafado ou deslegitimado, o que se instala &eacute; uma ordem autorit&aacute;ria, mesmo que travestida de discurso democr&aacute;tico.&nbsp;Mas para al&eacute;m do n&iacute;vel filos&oacute;fico, h&aacute; um colapso mais silencioso, e talvez mais grave: o da urbanidade nas rela&ccedil;&otilde;es humanas. Urbanidade, essa palavra quase antiquada, remete ao respeito m&uacute;tuo, &agrave; capacidade de lidar com o outro de forma civilizada, ainda que em desacordo. &Eacute; o gesto de n&atilde;o interromper, de ponderar antes de julgar, de preservar a dignidade alheia mesmo no conflito.

A aus&ecirc;ncia de urbanidade tem gerado uma eros&atilde;o do conv&iacute;vio social. As redes sociais, por exemplo, transformaram-se em campos de batalha, onde cada post vira uma trincheira e cada opini&atilde;o, uma provoca&ccedil;&atilde;o. O anonimato ou a impessoalidade da tela amplificam o destempero e esvaziam qualquer la&ccedil;o de empatia. O resultado &eacute; um ambiente t&oacute;xico, que adoece a conviv&ecirc;ncia e encoraja a desumaniza&ccedil;&atilde;o do outro.

Retomar a urbanidade n&atilde;o significa ser conivente, nem abdicar das convic&ccedil;&otilde;es. Ao contr&aacute;rio: &eacute; fortalec&ecirc;-las com eleg&acirc;ncia, firmeza e abertura. &Eacute; compreender que o valor de uma ideia est&aacute; na sua for&ccedil;a argumentativa, e n&atilde;o no volume da voz que a defende. E mais: &eacute; entender que quem pensa diferente de n&oacute;s n&atilde;o &eacute; um inimigo a ser abatido, mas algu&eacute;m que pode &mdash; e deve &mdash; ampliar o nosso horizonte.&nbsp;&Eacute; urgente resgatar a humildade intelectual, essa virtude que permite reconhecer que n&atilde;o sabemos tudo, que podemos errar, que a verdade n&atilde;o mora apenas em nosso lado do muro. O mundo precisa menos de certezas absolutas e mais de pessoas dispostas a aprender umas com as outras.

Defender ideias, nesse cen&aacute;rio, exige coragem, sim &mdash; mas tamb&eacute;m generosidade, escuta e paci&ecirc;ncia. &Eacute; preciso restaurar o valor do desacordo honesto, da cr&iacute;tica respeitosa e do argumento bem constru&iacute;do. S&oacute; assim o pensamento floresce. E s&oacute; assim a democracia se fortalece.

Estamos vivendo uma &eacute;poca em que os v&iacute;nculos mais &iacute;ntimos est&atilde;o sendo corro&iacute;dos por algo que deveria ser apenas parte da diversidade natural das rela&ccedil;&otilde;es humanas: a diferen&ccedil;a de opini&atilde;o. &Eacute; profundamente absurdo &mdash; e ao mesmo tempo revelador &mdash; que fam&iacute;lias inteiras tenham se afastado, amizades de d&eacute;cadas tenham sido desfeitas e la&ccedil;os afetivos tenham sido rasgados por conta de posi&ccedil;&otilde;es pol&iacute;ticas divergentes. O que estamos presenciando &eacute; mais do que um conflito ideol&oacute;gico. Trata-se de uma fal&ecirc;ncia relacional, um esvaziamento do espa&ccedil;o do afeto em favor de um campo de batalha simb&oacute;lico, onde cada um defende seu territ&oacute;rio com unhas, dentes e indigna&ccedil;&otilde;es. E o custo emocional desse embate n&atilde;o &eacute; pequeno. 
Psic&oacute;logos como Regina Navarro Lins t&ecirc;m alertado para o impacto que essas rupturas est&atilde;o causando na sa&uacute;de emocional das pessoas: o aumento de quadros de ansiedade, depress&atilde;o e isolamento social tem sido notado em consult&oacute;rios. Muitos pacientes relatam a dor de n&atilde;o poder mais visitar seus pais ou irm&atilde;os, de terem sido bloqueados por amigos de inf&acirc;ncia, apenas porque pensam diferente sobre governo, economia ou justi&ccedil;a. O que deveria ser debate se tornou rompimento. O que era di&aacute;logo virou trincheira. 
J&aacute; a psic&oacute;loga Ana Beatriz Barbosa Silva, especialista em comportamento, destaca que o c&eacute;rebro humano tende a buscar pertencimento, e quando esse pertencimento &eacute; amea&ccedil;ado &mdash; ainda mais dentro da fam&iacute;lia ou de la&ccedil;os profundos &mdash;, o indiv&iacute;duo se sente rejeitado, o que ativa mecanismos de defesa que alimentam mais polariza&ccedil;&atilde;o e ressentimento. &Eacute; um ciclo vicioso: se machuca e se isola, e no isolamento, radicaliza. 
Observador da natureza humana, n&atilde;o posso deixar de evidenciar o tamanho da distor&ccedil;&atilde;o que estamos vivendo. A pol&iacute;tica, que deveria ser um campo de constru&ccedil;&atilde;o coletiva, virou um campo minado de desconfian&ccedil;as e fanatismos. N&atilde;o &eacute; mais sobre ideias, &eacute; sobre identidades. Discordar virou amea&ccedil;a, e o outro, inimigo. Mas quem perde com isso somos todos n&oacute;s. Estamos trocando o valor do afeto pela ilus&atilde;o da raz&atilde;o absoluta. Estamos entregando os v&iacute;nculos mais valiosos &agrave; fogueira da intoler&acirc;ncia. N&atilde;o se trata de abrir m&atilde;o de convic&ccedil;&otilde;es, mas de lembrar que o amor, o respeito e o cuidado com o outro devem sempre vir antes de qualquer pauta. 
Precisamos recuperar a capacidade de escutar sem odiar, de dialogar sem destruir, de amar mesmo na discord&acirc;ncia. O verdadeiro absurdo n&atilde;o &eacute; pensar diferente, &eacute; deixar de amar por pensar diferente. Se n&atilde;o rompermos essa l&oacute;gica, seremos uma sociedade cada vez mais solit&aacute;ria, violenta e emocionalmente doente. Ainda &eacute; tempo de recuar desse abismo.

&Eacute; assustador perceber como parte da sociedade brasileira reage com apatia &mdash; e muitos at&eacute; com simpatia &mdash; &agrave; inger&ecirc;ncia direta de um chefe de Estado estrangeiro sobre autoridades p&uacute;blicas nacionais. O caso mais recente, em que o presidente dos Estados Unidos sanciona um ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, deveria gerar rep&uacute;dio un&acirc;nime. Mas n&atilde;o: muitos comemoram, como se a soberania nacional fosse moeda de troca ideol&oacute;gica.

Criticar decis&otilde;es do Supremo &eacute; democr&aacute;tico. Submeter-se ao julgamento de outro pa&iacute;s &eacute; vergonhoso. Quando o povo se cala diante disso &mdash; ou pior, aplaude &mdash; &eacute; sinal de que h&aacute; algo muito errado em nosso senso de identidade e pertencimento, em desdobramento de valores que deveriam nos ser caros.

O que est&aacute; em jogo vai al&eacute;m de um nome ou um julgamento espec&iacute;fico. Trata-se de aceitar que um governo estrangeiro se arvore no direito de apontar, constranger e rotular autoridades brasileiras, apenas porque suas decis&otilde;es n&atilde;o agradam a interesses externos, ideol&oacute;gicos...

A soci&oacute;loga norte-americana Wendy Brown, em sua an&aacute;lise sobre o neoliberalismo autorit&aacute;rio, alerta para uma tend&ecirc;ncia crescente: o avan&ccedil;o da extrema-direita global promovendo a corros&atilde;o da soberania interna dos pa&iacute;ses em nome de um &ldquo;globalismo seletivo&rdquo; &mdash; onde s&oacute; se respeita a democracia quando ela serve a determinados projetos de poder. Estamos vendo isso acontecer, em todo o mundo, tendo o presidente norte-americano como maestro de uma &oacute;pera de terror, onde muitos m&uacute;sicos s&atilde;o nacionais brasileiros, trabalhando contra o pr&oacute;prio pa&iacute;s. Ao normalizar essa pr&aacute;tica, o Brasil enfraquece seus pr&oacute;prios alicerces institucionais. Pior: refor&ccedil;a o discurso de tutela moral e pol&iacute;tica que as grandes pot&ecirc;ncias v&ecirc;m exercendo sobre na&ccedil;&otilde;es em desenvolvimento. N&atilde;o &eacute; patriotismo aceitar calado que outro pa&iacute;s dite regras ao nosso Judici&aacute;rio. &Eacute; servid&atilde;o disfar&ccedil;ada de alinhamento pol&iacute;tico.

O m&iacute;nimo que se espera de um povo digno &eacute; a indigna&ccedil;&atilde;o, diante do aviltamento de valores da vida nacional, porque quando a soberania se perde no aplauso dos subservientes, a independ&ecirc;ncia vira nota dissonante, em uma &oacute;pera bufa, em uma esp&eacute;cie, diria minha m&atilde;e, de casa de m&atilde;e Joana.

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José Medrado

Todos os textos de José Medrado

Eles não desistem

Homofobia, amor e cidadania

Uma se agiganta, outro se apequena

Crime justificado

Quando a política tenta justificar o crime

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O respeito à razão

O declínio da urbanidade

A armadilha das opiniões

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