92% das mulheres nordestinas não deixariam de empreender para aceitar uma vaga CLT

Pesquisa mostra que maioria prefere autonomia do próprio negócio

[92% das mulheres nordestinas não deixariam de empreender para aceitar uma vaga CLT]

FOTO: Reprodução/Pixabay

A pesquisa Perfil das Mulheres Empreendedoras do Nordeste, divulgada pela Be.Labs nesta segunda-feira (24), mostra que 78,14% das entrevistadas relatam que seus negócios surgiram pelo desejo de independência e ter seu próprio negócio. Apesar dos desafios, das 600 mulheres ouvidas pela pesquisa, 92% afirmam que não deixariam de empreender para aceitar uma vaga de trabalho no regime de Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). 

A fundadora da Be.Labs, Marcela Fujiy, afirma que o relatório revela dados invisibilizados pelos principais institutos de pesquisa do país. “A maior dor do empreendedorismo feminino é ser mulher. Muitas de nós acabam sendo engolidas pelo mar de responsabilidades e tarefas relacionadas principalmente à sua vida doméstica e familiar, e não recebem o apoio necessário para seguir com suas realizações pessoais e profissionais”, disse.

“Muitas delas encaram seus negócios tendo pelo menos um filho que exige cuidados e que as leva à exaustão. O que queremos propor com este levantamento é o resgate dessas mulheres por meio da valorização de seus talentos, do perfil empreendedor e, principalmente, da sua importância na economia”, completou.

Mulheres empreendedoras do Nordeste

Ao analisar as principais dificuldades das empreendedoras nordestinas, a pesquisa aponta que 52,77% das mulheres disseram ter medo constante de fracassar em seus negócios, e que 33,16% encontram dificuldades em conciliar trabalho, estudo, família e vida pessoal. Há ainda um percentual de 18% de mulheres que dizem não ser reconhecidas em seus trabalhos.

Para dar o pontapé inicial nos empreendimentos, 71,70% das nordestinas usaram recursos de fonte própria como capital, sendo que 47,49% delas ainda possuem dívidas no cartão de crédito. Além disso, 84,24% das mulheres ouvidas informaram que trabalham com venda direta. 

Sobre as áreas de atuação das empreendedoras participantes, se sobressaem os negócios relacionados à produção dos mais variados tipos de artesanato, confeitaria e alimentícios, com o equivalente a 41,56% dos negócios listados. E a maior parte desses negócios (82,9%) fatura na faixa de R$1 mil a R$50 mil ao ano. 

O relatório também traz dados sobre a situação civil das empreendedoras nordestinas: 57,31% das entrevistadas são casadas ou vivem em união estável. Destas, 31% delas são integralmente responsáveis pelo sustento de suas famílias, mesmo tendo um companheiro, e 27,82% revelam poder contar com a ajuda financeira de seus parceiros. Outro dado importante é que 71,70% das mulheres ouvidas têm filhos. 

Destaca-se no perfil das empreendedoras nordestinas o fato que 26,22% são mulheres pós-graduadas, o que não garante a elas maior retorno financeiro. Mais da metade das entrevistadas (56,11%) relatou receber de um a três salários mínimos (de R$1.212 a R$3.636 mensais de acordo com o mínimo vigente à época da pesquisa), e 28,05% delas recebem, por mês, menos até que o piso legal. Quando questionadas sobre o negócio ser sua única fonte de renda, quase 72% das mulheres responderam que não. 

Esses dados reforçam a precariedade em que se encontra a estrutura financeira dessas empreendedoras, fato que compromete a longevidade de muitas iniciativas e explica a maioria dos negócios femininos ter entre um e três anos de operação, o equivalente a 36,08%. Outro informação relevante aponta que 34% dos negócios femininos não ultrapassam 12 meses. 

Recorte racial

Um percentual total de 64,41%, entre pretas e pardas ouvidas pela pesquisa, são atingidas pelo racismo estrutural no Brasil. O levantamento revela que, quando se estabelece uma relação entre raça/etnia e renda, das mulheres que recebem menos de um salário mínimo, as mulheres negras são as mais afetadas com o baixo orçamento. Elas representam 81,75% das entrevistadas, enquanto que essa porcentagem cai drasticamente para 18,25% quando se trata de mulheres brancas que recebem menos de um salário mínimo.

Outro recorte pode ser feito quando se relaciona raça/etnia com as mulheres que são “chefes de família”, ou seja, mulheres que precisam prover totalmente ou parcialmente o sustento da casa. As empreendedoras nordestinas negras chefes de família representam 68,1% das entrevistadas, enquanto as empreendedoras brancas precisam cumprir essa função em apenas 26,4% dos casos. 


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