A gente só pode dizer que está no pico após ver uma queda nos números, diz infectologista
No Brasil, 1124 pessoas morrem nas últimas 24 horas

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O Brasil registrou nesta sexta-feira (29), pelo quarto dia seguido, mais de mil novas mortes provocadas pelo novo coronavírus: foram 1.124 óbitos nas últimas 24 horas. Mesmo diante desse cenário, não é possível estimar que estejamos no pico. Sem o controle da epidemia em estados críticos, como Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e São Paulo, os números de mortes por coronavírus não vão se estabilizar. As informações são do portal UOL.
Observar as mortes por milhão de habitantes em um período de duas semanas indica se a doença ainda está em fase de crescimento. Além disso, coloca os números da covid-19 na escala da população de cada estado, diz o economista Guilherme Lichand, professor da Universidade de Zurique e integrante do grupo de vigilância epidemiológica Brasil sem Corona.
"Diferentes estados reagiram de forma diferente e isso gera padrões diferentes, gera 27 curvas. Combinar esses dois critérios — morte por milhão e variação em duas semanas — dá um retrato mais preciso dos diferentes momentos que a gente está vivendo", destacou.
O economista propõe dividir os estados em quatro grupos. No primeiro, estão os que têm números baixos de mortes por milhão e de crescimento; no segundo, os que inspiram atenção porque, apesar de poucos óbitos, estão em fase de aceleração.
A terceira categoria inclui estados com muitas mortes e baixa variação — isso significa que a epidemia é preocupante, mas a tendência é de diminuição. Por fim, aqueles onde a epidemia é preocupante em razão do crescimento alto e do número significativo de mortes por milhão de habitantes.
"A gente não tem que procurar por platô em nenhum desses grupos. O que a gente precisa é que os casos caiam", afirmou Lichand, referindo-se ao estágio da epidemia em que o número de casos é alto, porém estável.
Segundo ele, é preciso observar outros números além do dado diário de óbitos. É importante também visualizar o número de pessoas que já contraíram a doença e quem ainda é suscetível à contaminação.
"Mil é um número emblemático porque já soava bastante nas centenas, agora nos milhares soa bem mais. Mas ele pode aumentar, é claro. A gente tem que ver a proporção de pessoas que foram afetadas e, para além disso, o número de casos diariamente, se eles continuam a subir ou não”, pontuou.
Mesmo com esta divisão e uma visualização mais clara do momento em que cada estado se encontra, o infectologista especializado pelo Hospital Emílio Ribas, Natanael Adiwardana, explica que só é possível dizer se o país já viveu seu pico quando os números se estabilizarem até entrarem em queda.
"A gente só pode dizer que está no pico após ver uma queda ou ver que os casos realmente começaram a estabilizar", disse ao UOL. "Então, não é porque a gente já tem mais de mil mortes, que esse é um limite e que a gente não cresce mais além disso. A situação pode piorar. Ainda mais nas situações onde há subnotificação e a falta de vigilância são maiores."


