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Alckmin procura embaixador da China por acordo para evitar paralisação em montadoras no Brasil

Vice-presidente também tratou do assunto com a representação do Brasil na China

Por FolhaPress
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Alckmin procura embaixador da China por acordo para evitar paralisação em montadoras no Brasil

Foto: Governo do Estado de São Paulo

ANDRÉ BORGES - O vice-presidente e ministro do Mdic (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Geraldo Alckmin, entrou em contato com a Embaixada da China no Brasil para buscar uma via diplomática que garanta o abastecimento de chips ao mercado nacional. Alckmin também tratou do assunto com a representação do Brasil na China.

Montadores de veículos que atuam no Brasil pediram que o governo federal faça uma negociação direta com o governo chinês, para garantir que o país não seja afetado pela disputa global de chips deflagrada entre China, Estados Unidos, Holanda e demais países europeus.

O assunto foi tema de uma conversa ocorrida nesta terça-feira (28) entre Geraldo Alckmin e representantes do setor automotivo, como a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a Bosch e representantes dos trabalhadores do setor.

Durante o encontro, Alckmin chegou a deixar a sala para falar com o embaixador da China no Brasil e comentar o assunto. Ao retornar, sinalizou que a demanda foi bem recebida pelo representante do governo chinês no Brasil.

Na guerra comercial pelo controle do mercado de chips, a China anunciou novas regras de controle às exportações. A partir de dezembro de 2025, toda venda internacional de semicondutores pelos chineses terá de ser acompanhada de declaração da empresa importadora, assegurando que o produto final não será exportado para países considerados "sensíveis" pelo governo chinês.

O Brasil quer usar o argumento de que sempre foi um importador final dessas peças e que não está no centro da disputa geopolítica, para tentar escapar do embargo que já afeta todo o setor no país.

Moisés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, participou do encontro com Geraldo Alckmin. À Folha de S.Paulo, ele disse que o setor saiu otimista do encontro. "O vice-presidente é uma pessoa pragmática e ouviu nosso pleito. As montadoras disseram que conseguem aguentar de duas a três semanas, sem falta de componentes. No Brasil, ainda não houve paralisação de trabalhadores do setor, mas estamos muito próximos disso", comentou.

A crise dos chips, desencadeada nos últimos dias, é resultado direto de disputas geopolíticas envolvendo o controle de tecnologias e de minerais críticos, como as terras raras.
No dia 12 de outubro, um domingo, o governo holandês, sob forte pressão dos Estados Unidos, assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país. Ocorre que a Nexperia é uma subsidiária do grupo Wingtech, de origem chinesa. Com a atitude, o presidente chinês da empresa foi destituído por ordem judicial, sob suspeita de transferência indevida de tecnologia para a China.

Ao assumir o controle temporário da empresa, o governo holandês alegou que havia risco de escassez de chips essenciais para a economia europeia, além de preocupações de segurança nacional. O temor é de que Pequim possa usar a companhia para influenciar ou restringir o fornecimento de semicondutores à Europa.

A resposta chinesa veio de imediato, com o bloqueio das exportações de chips produzidos em suas fábricas para diversos destinos internacionais, incluindo o Brasil. A reação colocou a indústria automotiva brasileira em posição vulnerável, já que praticamente todas as montadoras utilizam, em maior ou menor grau, os componentes da Nexperia.

Esses chips chegam ao país em rolos e são incorporados a módulos, sensores e sistemas de iluminação, entre outras peças. Esse tipo de semicondutor é considerado simples, mas também indispensável. Para se ter uma ideia, cada carro precisa de algo entre 100 a 400 unidades para funcionar.

Entre os dias 20 e 21 de outubro, grandes fornecedores globais classificaram a situação como crítica e alertaram montadoras brasileiras sobre o risco iminente de paralisação produtiva.
No dia 22 de outubro, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) emitiram um sinal de alerta, apontando que, se as exportações não forem restabelecidas rapidamente, linhas de produção poderão parar no país.

O temor surge num momento já sensível para o setor de autopeças, marcado por demissões e queda de lucratividade. Grandes compradores de chips automotivos no Brasil, como Bosch, Mahle e Valeo, estão entre as empresas fortemente impactadas. A Bosch, por exemplo, já iniciou redução de jornada de trabalho para evitar cortes mais profundos.
A falta de alternativas agrava o quadro, já que eventuais substituições exigem ajustes técnicos que não são viáveis a curto prazo.

A dependência global da China tornou-se um gargalo estratégico, já que cerca de 70% da produção de chips que alimentam os setores automotivo e eletrônico passa por fábricas chinesas.
A falta de estoques no Brasil e na Europa expõe a fragilidade de uma cadeia que operava no limite, dependente da fluidez contínua do comércio internacional. Na semana passada, o Sindipeças enviou uma carta a Geraldo Alckmin, na qual afirmava que, nas últimas semanas, já observou "uma redução significativa na disponibilidade de componentes eletrônicos essenciais" para módulos de controle, sistemas de injeção e produtos de alta tecnologia usados em veículos leves, comerciais e industriais.

"Esses componentes não possuem, no curto prazo, alternativas de fornecimento local ou regional, sendo críticos para o funcionamento de montadoras instaladas no Brasil como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai, BYD, entre outras", afirmou o Sindipeças.

A disputa global pelos semicondutores tem como pano de fundo a corrida pelos minerais críticos promovida por China, Estados Unidos, Japão e Europa. Quase toda a cadeia de fabricação de semicondutores, desde o wafer de silício até a embalagem final, exige diversos metais e minerais estratégicos, como as terras raras.

A produção desses minerais é altamente concentrada em poucos países, como a China, que controla grande parte da mineração, refino e processamento, influenciando diretamente as cadeias globais. Hoje a China responde por cerca de 70% da mineração mundial de terras raras, mais de 90% do refino e quase 100% da produção de ímãs permanentes, segundo informações da IEA (Agência Internacional de Energia).

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