Americanos que ajudaram Carlos Ghosn a fugir são condenados no Japão
Na decisão, juiz aponta “danos extremos” ao sistema de justiça japonês

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Os americanos Michael e Peter Taylor, pai e filho, foram condenados à prisão nesta segunda-feira (19), após esconderem o ex-presidente da Renault-Nissan, Carlos Ghosn, em uma caixa de equipamento de som para ajudá-lo a fugir do Japão. Michael, de 60 anos, foi condenado a dois anos de prisão e Peter, de 28 anos, a um ano e oito meses.
A sentença foi determinada pelo juiz Hideo Nirei. Na decisão, ele disse que a ação deles causou “danos extremos” ao sistema de justiça japonês. Durante uma audiência realizada em junho, em Tóquio, os dois se declararam culpados das acusações de facilitar a fuga de Ghosn para Beirute, capital do Líbano, no final de 2019. Mesmo assim, o juiz destacou que este foi um "crime grave" porque a perspectiva de ver Ghosn julgado no Japão algum dia praticamente desapareceu. “Os dois acusados conseguiram com êxito uma fuga ao exterior sem precedentes e tiveram um papel proativo nesta operação”, disse o juiz.
Durante a audiência, os promotores disseram que os Taylors receberam US $ 1,3 milhão por seus serviços e outros US$ 500 mil por honorários advocatícios. Ghosn continua foragido na casa dele no Líbano, que não tem um tratado de extradição com o Japão. No Japão, ele enfrenta acusações de subestimar a remuneração nas demonstrações financeiras da Nissan em 9,3 bilhões de ienes (US$ 85 milhões) ao longo de uma década. Além disso, afirma-se que Ghosn enriqueceu às custas de seu empregador por meio de pagamentos a concessionárias de automóveis no Oriente Médio. Greg Kelly, um ex-executivo da Nissan encarregado de ajudar Ghosn a esconder a remuneração, também está sendo julgado em Tóquio. Tanto Ghosn quanto Kelly negam as acusações.
Fuga
Após passar mais de um ano no Japão livre sob fiança por suposta fraude financeira, Ghosn foi para o aeroporto de Osaka em 29 de dezembro de 2019, de trem-bala. De lá, ele passou para um jato particular que voou para Istambul, onde trocou de avião e foi para Beirute. Para o promotor Ryozo Kitajima, as ações dos Taylors indicaram que "a capacidade de ir atrás da verdade foi bloqueada". Em audiência no mês passado, ele destacou que a fuga de Ghosn foi "sistematicamente" planejada ao longo de mais de meio ano e que Michael liderava a operação.
Os Taylors estão envolvidos em batalhas judiciais desde que ajudaram Ghosn a escapar. Depois de lutar contra as acusações de extradição, os dois foram levados para o Japão em março. Ambos foram colocados em confinamento solitário em um centro de detenção e estão participando de audiências no Tribunal Distrital de Tóquio. O crime de abrigar ou permitir a fuga de um criminoso leva uma pena máxima de três anos de prisão no Japão.


